A poucos dias de um segundo turno disputado, Eduardo Pimentel (PSD) e Cristina Graeml (PMB) ainda tentam conquistar eleitores curitibanos, seja mostrando quem são e quais seus valores, apresentando propostas — concretas ou bastante vagas — ou tentando desconstruir a imagem do concorrente.
Para quem está indeciso, uma alternativa é olhar para os planos de governo, documentos que os candidatos têm obrigação de apresentar à Justiça Eleitoral e que devem trazer um diagnóstico dos desafios enfrentados pelo município, assim como propostas para superá-los ao longo do mandato.
O de Pimentel, por exemplo, é um documento de 78 páginas que deixa claro desde as primeiras páginas que sua gestão será a da continuidade — o que ele vem reforçando ao longo de toda a campanha —, com a manutenção ações em andamento, principalmente as chamadas obras estruturantes, para então poder oferecer “atenção personalizada para aqueles que mais precisam”.
O documento é dividido em três partes: “Curitiba inclusiva” traz propostas voltadas ao atendimento a todos os cidadãos; “Curitiba estruturada e bem cuidada” traz medidas relacionadas à infraestrutura da cidade e à descentralização do atendimento aos cidadãos nas administrações regionais; e “Curitiba inovadora e sustentável” se volta para a adoção de soluções que visam preparar a cidade para as mudanças climáticas. Ele inclui sugestões enviadas pelos cidadãos à prefeitura por meio do Fala Curitiba.
Cristina Graeml (PMB), por sua vez, se apresenta como candidata antissistema e afirma que vai resolver os problemas da cidade que a gestão Greca/Pimentel não conseguiu resolver em oito anos. Para isso, reuniu voluntários, entre “curitibanos natos e de coração”, para criar um plano de governo que abarcasse todas as demandas do município — apesar de uma plataforma indicar que 88% do documento foi produzido com inteligência artificial.
Assim, criou um documento com 54 páginas de conteúdos — além de outras oito de agradecimentos aos que contribuíram com sua criação e três em branco. Ele é dividido em 15 grandes temas, como saúde, educação, transporte e mobilidade urbana, meio ambiente e sustentabilidade e outros.
Confira algumas das propostas dos candidatos para alguns dos temas relevantes para a cidade — parte dos que já haviam sido elencados por O Luzeiro no primeiro turno.
Organização urbana, com foco na revisão do Plano Diretor
A revisão do Plano Diretor, que deve acontecer em 2025, demanda atenção de quem assumir a prefeitura — assim como dos vereadores e dos cidadãos. Em seus programas de governo, no entanto, os candidatos nada falam sobre avaliar o que está funcionando e pensar nas mudanças necessárias, mas há propostas relacionadas ao planejamento urbano e ao sistema viário:
Eduardo Pimentel | Cristina Graeml |
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Redesenvolvimento da região central, com a manutenção de projetos já iniciados (Rosto da Cidade, Caminhar Melhor) e outras intervenções (p. 40). Redesenvolvimento do Umbará e Região (p. 40). Reordenamento do território para fortalecer novas centralidades com equipamentos e funções urbanas (o programa afirma que a implantação de uma nova Administração Regional está em estudo, mas não especifica onde) (p. 44) Sistema viário: há uma série de melhorias e intervenções elencadas por Administração Regional, incluindo correções geométricas, requalificações, pavimentações, implantação ou consolidação de binários etc. (p. 44 a 57) | Reurbanização de áreas favelizadas, melhorando o acesso e a mobilidade e oferecendo habitação de baixo custo, bem como medidas que melhorem rapidamente a qualidade de vida dos moradores (p. 47 e 48). Desenvolvimento e implementação de “bairros inteligentes”, onde habitação, comércio, serviços e lazer estejam integrados em um único local. Esses bairros serão planejados para serem autossuficientes, reduzindo a necessidade de deslocamentos longos e promovendo um estilo de vida sustentável (p. 48). Padronização e simplificação de limites de velocidade, com apenas duas faixas: 60 km/h para vias principais e 40 km/h para áreas residenciais (p. 45). Revitalização das ciclovias, e implantação de semáforos inteligentes e de corredores para motoboys (p. 45 e 46) |
Transporte coletivo
A principal discussão acerca do transporte coletivo no próximo ano diz respeito à nova licitação, que precisa ser pensada para resolver os gargalos existentes e superar os desafios que o transporte público do município enfrenta hoje. O tema aparece, ainda de forma vaga, em ambos os planos de governo, mas com indícios do que está no foco de cada candidatos: de um lado, a eletrificação dos ônibus; de outro, a mudança no sistema de cobrança, com passagem proporcional e integração temporal.
Eduardo Pimentel | Cristina Graeml |
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Finalizar o diagnóstico econômico-financeiro para o novo edital da licitação do transporte coletivo, o qual já está em andamento e é feito em parceria com o BNDES. A prioridade, segundo o texto, é tornar a tarifa acessível e eletrificar a frota de ônibus (p. 57). Usar receitas extra orçamentárias provenientes das campanhas de mídia para custear passagens de desempregados que buscam emprego (p. 58). Implantar a tarifa com 50% de desconto aos domingos e feriados como forma de incentivo ao uso do Transporte Coletivo e melhor ocupação da frota (p. 58). Implantação dos semáforos inteligentes nas canaletas do transporte coletivo, de faixas exclusivas em itinerários estratégicos, de novas estações de transporte e promover integrações temporais. (p. 58) Requalificação e modernização dos pontos de ônibus de Curitiba, incluindo informações das linhas aos usuários e bancos para maior comodidade ao cidadão (p. 58). Estudo de viabilidade para a implantação de um Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), na linha entre Curitiba e o Aeroporto de São José dos Pinhais (p. 58). | Redefinição do modelo de contratação do transporte coletivo para a licitação de 2025 a partir de exaustiva discussão com a população e de estudos sobre os modelos. “Em que pese a análise de todas as possibilidades, nossa intenção é a implementação de contratos mais curtos, com indicadores claros de eficiência e satisfação da população, e que permitam a rescisão imediata em caso de não cumprimento das metas estabelecidas”, diz o texto (p. 45). Implantação da passagem proporcional ao uso (quanto maior a distância percorrida, maior o valor) e a integração temporal (múltiplas viagens com uma única tarifa dentro de um período) (p. 45). Implementação do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) (p. 44). Estudo de viabilidade do monotrilho para conectar bairros afastados ao centro (p. 45). Desenvolvimento e implantação de aplicativo de monitoramento dos ônibus em tempo real (p. 45). |
Vagas em creches
Um dos temas que teve destaque ao longo da campanha para o primeiro turno foi a falta de vagas em creches, estimada em 9,5 mil. Identificado antes do início oficial da campanha, o problema foi “previsto” pela maioria dos candidatos, inclusive por Pimentel e Graeml. Ele traz algo mais específico, enquanto ela apresenta proposta mais vaga:
Eduardo Pimentel | Cristina Graeml |
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Construção de 30 novas unidades educacionais — no horário eleitoral e nas redes sociais, Pimentel já aumentou esse número para 36 novas unidades educacionais — para criação de nove mil vagas em creches. Embora não deixe claro onde as unidades serão implantadas, o plano de governo fala na expansão do atendimento nas regionais Boa Vista e Pinheirinho (p. 31). Reformas e pinturas nos prédios de diversos CEIs e CMEIs, como o CEI Romário Martins, na Regional Boa Vista, e CMEI Palmeiras, na Regional Tatuquara (sugestões de cidadãos via Fala Curitiba) (p. 33). | Desenvolvimento de medidas para eliminação do número de mães e crianças que aguardam vagas nos CMEIs (p. 11). Ampliação do horário de funcionamento de alguns dos CMEIs de cada regional, que será das 6h às 20h, e aos sábados das 7h às 13h, para atender as mães que não possuem outras pessoas com quem deixar seus filhos e têm dificuldade para ingressar no mercado de trabalho. Para utilização de todo o período, será necessária comprovação de exercício de outra atividade que justifique a impossibilidade de estar com seus filhos (p. 11). |
Atendimentos de especialidades no SUS
A fila para atendimentos com médicos especialistas também é tema recorrente desde o início da campanha. Ainda assim, as propostas não tratam direta ou exclusivamente do tema. Pimentel aposta no Novo Hospital do Bairro Novo para oferecer algumas especialidades e em um centro de diagnósticos por imagem. Graeml diz que vai contratar profissionais, facilitar exames e viabilizar a aquisição de equipamentos.
Eduardo Pimentel | Cristina Graeml |
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Construir o Novo Hospital do Bairro Novo, com 200 leitos a mais do que o atual, distribuídos entre enfermaria adulto e infantil, UTI adulto, infantil e neonatal, unidade de cuidados intermediários neonatal, saúde mental, centro cirúrgico, maternidade, diagnóstico por imagem e pronto atendimento adulto e infantil. (p. 22) Construir o Centro de Apoio de Diagnóstico por Imagem para realização de exames de raio-X, tomografia, ressonância magnética, ultrassonografias e videoscopias (p. 23). | Identificar e corrigir o déficit de profissionais de saúde em todas as categorias, garantindo que todas as unidades de saúde estejam devidamente equipadas e com pessoal qualificado (p. 13) Disponibilizar o acesso a exames processados no próprio local da assistência (p. 14). Viabilizar a aquisição de equipamentos modernos para a realização de exames e tratamento especializado, descentralizando esses serviços para atender toda a população de Curitiba (p. 14). |
Mudanças climáticas
Reduzir a contribuição do próprio município para as mudanças climáticas e prepará-lo para consequências delas tornou-se uma preocupação ainda maior após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul a partir do fim de abril — e isso aparece nos programas de governo. Porém, Cristina Graeml não faz menção ao conceito de “mudanças climáticas”, nem foca na necessidade de preparar a cidade para lidar com eventos decorrentes delas:
Eduardo Pimentel | Cristina Graeml |
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Ampliar investimentos para a adaptação às mudanças climáticas, com o suporte de recursos do Fundo Municipal de Defesa Civil (p. 25). Ampliar o monitoramento hidrometeorológico com a emissão de alertas e de alarmes para o atendimento às emergências climáticas severas (p. 25). Formar a Reserva Hídrica do Futuro de Curitiba (corredor ambiental no Rio Iguaçu, entre o Rio Belém e o Rio Atuba, com novas unidades de Conservação e medidas para mitigação de cheias e a reservação de água) (p. 40). Implantar estruturas para mitigação de cheias, para combate aos eventos climáticos extremos, e recuperação ambiental do rio numa extensão de 7km. (p. 66) Implantar três florestas urbanas buscando reduzir o efeito de “ilhas de calor urbano” (p. 66). Gerar energia renovável e promover ações de eficiência energética para uso e nas atividades e infraestruturas públicas municipais (p. 66). | Implementar um programa de arborização urbana, plantando árvores nativas em áreas da cidade que estão carentes dessa política e subutilizadas (p. 27). Lançar um projeto abrangente de despoluição e recuperação dos rios que cortam Curitiba, utilizando tecnologias avançadas de tratamento de água e envolvendo a comunidade local em ações efetivas de preservação (p. 28). Realizar um inventário detalhado das emissões de gases de efeito estufa da cidade, identificando oportunidades de redução e sequestro de carbono. A proposta inclui o desenvolvimento de projetos de reflorestamento e restauração ecológica que qualifiquem Curitiba para a geração de créditos de carbono, criando uma nova fonte de receita sustentável para o município (p. 29). |
Atendimento e reinserção social da população em situação de rua
Diante do crescimento da população de rua, torna-se necessário levantar informações sobre ela para entender quais as necessidades de atendimento imediato e como promover sua ressocialização. Embora não foquem no levantamento diagnóstico, os candidatos trazem algumas propostas para atender esse público:
Eduardo Pimentel | Cristina Graeml |
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Implementar estratégia para promover o atendimento da população em situação de rua em toda a cidade de forma regionalizada, visando o tratamento, encaminhamento, resgate da dignidade e emancipação (p. 16). Criar uma casa para mulheres gestantes em situação de rua para diminuir a destituição do poder familiar e garantir vínculo entre mães e bebês (p. 18). Ampliar parcerias para a oferta de acolhimento institucional, passando as ações de acolhimento para o terceiro setor, para que a FAS possa se concentrar no desenvolvimento das ações preventivas, vinculadas à proteção social básica (p. 20). Manter e ampliar o atendimento do FAS SOS (p. 20) Fortalecer os empreendimentos econômicos solidários para facilitar o acesso a insumos e bens de uso diário e coletivo por pessoas em situação de pobreza (p. 20). Compor o orçamento e o quadro de profissionais para implementar uma política do trabalho e emprego, vinculada à FAS (p. 20). Realocar a sede administrativa da FAS para uma área central e transformar o espaço onde ela está hoje em um Complexo de Serviços e Programas de Proteção Social, com serviços de acolhimento, cursos de qualificação profissional e outros (p. 20). | Implantação do Programa Trilha do Resgate, com Centro de Acolhimento e Reintegração (CAR) para moradia temporária, suporte psicossocial, reabilitação, e capacitação profissional; mapeamento e diagnóstico individual para necessidades específicas, com um plano de ação personalizado que aborde problemas jurídicos, emocionais, de saúde e econômicos; e um Programa de Capacitação e Reintegração ao Trabalho, que vai oferecer oportunidades a partir de parcerias com empresas locais (p. 50 e 51). |