Eleitoras e eleitores de Curitiba, Londrina e Ponta Grossa — três das sete cidades aptas a decidir as eleições em dois turnos — voltam às urnas no dia 27 de outubro para finalmente definir quem serão seus prefeitos e vice-prefeitos a partir de janeiro de 2025. O segundo turno em cada uma delas era possibilidade desde o início da campanha, mas o resultado do primeiro turno trouxe surpresas e o cenário exige adaptação dos candidatos, seus grupos políticos e até de quem ficou de fora da corrida.
Em comum, as três disputas têm o fato de que envolvem apenas representantes da direita, em seus diferentes espectros, inclusive a extrema-direita. Duas delas podem render vitórias importantes para o governador Carlos Massa Ratinho Junior, e duas mostram a força política do Progressistas no estado.
Curitiba
Na capital, os eleitores vão escolher entre o candidato da situação Eduardo Pimentel (PSD) e a novata Cristina Graeml (PMB). Até o início da última semana de campanha, mesmo diante de seguidos empates técnicos entre candidatos que disputavam a segunda posição, a expectativa era de que o segundo turno fosse formado por Pimentel e Luciano Ducci (PSB), opondo direita e esquerda — a coligação de Ducci é formada também por PDT, PT, PC do B e PV.
Porém, o cenário passou por uma reviravolta com uma campanha nacional de bolsonaristas contra o PSD, uma denúncia de que servidores da Prefeitura de Curitiba eram coagidos a doar à campanha de Pimentel e a primeira participação de Graeml em um debate de TV, disposta a antagonizar Pimentel como outros candidatos da direita não estavam.
Graeml conquistou a vaga na segunda etapa da disputa, criando um problema para Pimentel. O candidato não vai poder recorrer à carta “direita versus esquerda”, que é manjada e de bastante sucesso em Curitiba, e vai precisar reformular a estratégia tanto para conquistar eleitores da direita quanto para não perder os votos úteis que a esquerda pode depositar na urna para ele por rejeição à candidata do PMB, declaradamente bolsonarista.
O novo cenário também cria uma situação desconfortável entre Ratinho Junior — que, ao lado de Rafael Greca, é um dos principais apoiadores de Pimentel — e o ex-presidente Jair Bolsonaro,que, até aqui, estiveram sempre lado a lado. Pimentel tem como vice o ex-deputado federal Paulo Martins (PL) e é, portanto, o candidato oficial de Bolsonaro, tendo inclusive aparecido em um vídeo ao lado dos três no fim de setembro. Extra-oficialmente, no entanto, o ex-presidente “recomenda” o voto em Cristina Graeml, como ele mesmo disse também em um vídeo publicado pela candidata na véspera do primeiro turno.
Ainda não se sabe como Bolsonaro vai se comportar no segundo turno. Ele pode fazer como no primeiro turno — acenar aos dois lados enquanto outros membros do PL reforçam a campanha de Pimentel — ou assumir maior protagonismo na campanha de Pimentel. Independentemente, o resultado parece que será sempre favorável a ele.
Outros apoios aos candidatos ainda não foram anunciados. Pimentel tem uma chance maior de conquistar o apoio dos candidatos que integram a base de Ratinho Junior, como Luizão Goulart (Solidariedade), Maria Victoria (PP) e Ney Leprevost (União), mas conquistar o apoio de Ducci, que concorreu junto com parte da esquerda, Andrea Caldas (PSOL), Samuel de Mattos (PSTU) e Felipe Bombardelli (PCO), assim como o de Requião (Mobiliza), deve ser mais difícil para os dois candidatos.
Londrina
Em Londrina, Tiago Amaral (PSD) conquistou uma vaga no segundo turno com vantagem: foram 42,69% dos votos, que podem subir para 46,2% se o indeferimento da candidatura de Barbosa Neto (PDT) for confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Professora Maria Tereza (PP), por sua vez, teve 23,64%.
Apesar da diferença, a disputa pode ser acirrada e ter consequências importantes para o xadrez político paranaense, já que opõe o PSD do governador Ratinho Junior e o Progressistas do secretário de Indústria e Comércio do Paraná, Ricardo Barros, dois grupos relevantes no cenário estadual e que atualmente comandam o poder estadual e municipal.
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Amaral é o candidato do governador e concorre ao lado de Junior Santos Rosa (Republicanos). Juntos, contam com o apoio de mais cinco partidos: o PL de Jair Bolsonaro — numa aliança costurada por Filipe Barros, a qual levou Bolsonaro à Londrina para fazer campanha para Amaral no fim de agosto —, União Brasil, PRD, Agir e Avante.
Maria Tereza, por sua vez, foi secretária de educação de Marcelo Belinati (PP) nos dois mandatos (desde 2017) e pode contar com o atual prefeito —reeleito em 2020 com facilidade — como um de seus principais cabos eleitorais. Contou ainda com a campanha de importantes membros do Progressistas como Ricardo Barros e Cida Borghetti. Apesar de concorrer em uma chapa pura com Eduardo Tominaga, ambos têm o apoio do Podemos.
Ponta Grossa
Ponta Grossa foi um dos municípios que trouxe uma derrota ao PSD e ao governador Ratinho Junior. Ali, passaram para o segundo turno Mabel Canto (PSDB), com 27,87% dos votos, e Elizabeth Schmidt (União), com 27,51% — as mesmas candidatas que foram ao único segundo turno realizado no Paraná em 2020, com a diferença que, naquele ano, Elizabeth concorria pelo PSD.
Em 2024, mesmo tentando a reeleição, Elizabeth foi preterida pelo partido, que optou por lançar o ex-prefeito Marcelo Rangel. Filiou-se, então, ao União Brasil e não só se lançou na disputa, como se manteve nela, enquanto Rangel, além de enfrentar uma tentativa de impugnação de sua candidatura, ficou em terceiro lugar, com 21,07% dos votos.
Assim, formou-se um embate entre o PSDB, que há anos vem perdendo sua força política, inclusive no Paraná, e o União Brasil, que tem Sergio Moro como seu principal cabo eleitoral no estado.
Mabel conta com o apoio do Cidadania, com quem o PSDB compõe uma federação, e do Progressistas, que estão presentes na campanha desde seu lançamento — à época, Ricardo Barros, Cida Borghetti e Maria Victoria estiveram presentes no evento; o deputado federal Pedro Lupion também fez questão de estar ao lado da candidata e sua vice, Sandra Queiroz (PSDB), na campanha. Elizabeth, por sua vez, tem o apoio do MDB, partido de seu vice, Pastor Moisés Faria.
Resta saber como os outros candidatos e partidos vão se organizar em relação ao segundo turno — e se será possível restabelecer relações abaladas pelas escolhas feitas ao longo do processo. Durante a campanha, por exemplo, Elizabeth deixou clara sua mágoa com o PSD. Em uma publicação em redes sociais, resgata um vídeo em que Ratinho Junior fala sobre sua intenção de reelegê-la em Ponta Grossa e afirma que foi traída.
Histórico de 2º turno no Paraná
(2004–2024)
2024 – Curitiba, Londrina e Ponta Grossa (3 municípios de 7 que poderiam ter 2º turno)
2020 – Ponta Grossa (1 município de 5 que poderiam ter 2º turno)
2016 – Curitiba, Maringá e Ponta Grossa (3 municípios de 5 que poderiam ter 2º turno)
2012 – Cascavel, Curitiba, Londrina e Maringá (4 municípios de 5 que poderiam ter 2º turno)
2008 – Londrina e Ponta Grossa (2 municípios de 4 que poderiam ter 2º turno)
2004 – Curitiba e Londrina (2 municípios de 4 que poderiam ter 2º turno)