*Com Fabiano Klostermann
O último debate de TV antes do primeiro turno, realizado pela RPC na noite desta quinta-feira (3), foi mais quente do que os embates anteriores e marcado pelos ataques ao candidato Eduardo Pimentel (PSD) e à gestão de seu mentor, o prefeito Rafael Greca (PSD). Fragilizado por uma denúncia recente, o atual vice-prefeito virou alvo preferencial e viu crescer o tom das críticas feitas à atual administração.
Ao todo, participaram oito candidatos: Eduardo Pimentel (PSD), Luciano Ducci (PSB), Luizão Goulart (Solidariedade), Maria Vitória (PP), Ney Leprevost (União Brasil), Professora Andréa Caldas (PSOL), Roberto Requião (Mobiliza) e Cristina Graeml (PMB).
Líder nas pesquisas, Pimentel foi acossado por comentários sobre a denúncia de que servidores da prefeitura foram coagidos a doar recursos para a campanha do PSD. Tanto que publicou em suas redes sociais um vídeo, gravado previamente, se explicando sobre a questão. No debate, apenas refutou ter envolvimento no esquema e disse que a prefeitura exonerou o servidor gravado pressionando funcionários públicos para obter doações eleitorais.
O debate da RPC foi marcado pela tentativa de desconstrução da atual gestão, que sofreu críticas de todos os participantes, exceto o candidato da situação, claro. E com variação de áreas – fila de atendimentos especializados na saúde, vagas em creches, moradia, abandono do centro, radares, população de rua, controle de enchentes, transporte público… Enfim, basicamente todas as áreas debatidas.
A discussão entre os candidatos deixou de fora alguns temas importantes para Curitiba. A ausência mais sentida é a revisão do Plano Diretor da cidade, que será feita a partir de 2025. O documento é essencial para organizar os eixos de desenvolvimento da cidade. Nenhum candidato ter tocado na questão é um sinal preocupante para os curitibanos. Onde Curitiba irá se verticalizar? Onde haverá adensamento populacional? É uma pergunta que nenhum interessado na prefeitura parece interessado em debater.
O esgotamento do sistema viário da cidade também não foi discutido propriamente. Embora uma melhoria do transporte público possa reduzir a carga das vias, não houve menção direta a como fazer isso, fora menções à licitação do sistema de transporte, que ocorrerá em 2025. Como aumentar a velocidade média dos ônibus? Haverá mais faixas exclusivas para os coletivos? Teremos alguma via expressa de ligação entre regiões mais povoadas e atualmente congestionadas? Curitiba sequer dispõe de uma pesquisa origem–destino para entender como os cidadãos se locomovem pela cidade. Difícil imaginar que algum dos candidatos poderá tomar decisões sensatas para nossa mobilidade sem fazer um levantamento desse tipo.
Os impactos da reforma tributária, que irá mudar radicalmente a forma que cidades arrecadam seus recursos, também não foram debatidos pelos candidatos. Nem pelo lado de uma possível queda da arrecadação dos recursos, nem pelo viés de alta, com a cobrança do antigo Imposto Sobre Serviços (ISS) pelas operações ocorridas no destino, e não na origem, como acontece em alguns casos atualmente.
Uma alta ou queda de arrecadação é algo que pode afetar a cidade de forma significativa. O fato de os postulantes à prefeitura não falarem sobre isso é também algo preocupante para os curitibanos.
A denúncia que agitou a campanha
A denúncia de que houve coação de servidores da prefeitura para doar dinheiro à campanha de Pimentel já foi mencionada logo no primeiro bloco. Cristina Graeml (PMB) usou sua pergunta para atacar o candidato do PSD. Ney Leprevost (União Brasil), para quem a pergunta foi dirigida, disse apenas que em sua eventual gestão não haveria espaço para perseguir servidores públicos. Graeml usou sua réplica para dizer que Pimentel deveria pedir desculpas aos funcionários que foram coagidos. Também alfinetou Leprevost, dizendo que ele faz parte de um sistema em que alguns candidatos “fingem” que são adversários.
Roberto Requião (Mobiliza) aproveitou a tréplica em uma pergunta ainda no primeiro bloco para falar do tema, acusando a campanha de Pimentel de extorquir funcionários públicos. Ele foi taxativo em classificar a prática como criminosa e pedir que o candidato do PSD seja banido da política por 8 anos.
O candidato do Mobiliza usou sua pergunta para manter o tema quente, perguntando a Cristina Graeml sobre a questão — em uma dobradinha que se repetiu ao longo do debate. Ela aproveitou a oportunidade para se classificar como candidata “antissistema”, criticando o uso de fundo eleitoral e o tempo maior aos grandes partidos no horário eleitoral gratuito. Requião aproveitou o embalo e, na réplica, criticou o não comparecimento de Eduardo em vários debates que foram realizados pela cidade.
O assunto foi permeado de forma leve em vários outros momentos do segundo bloco, mas voltou com tudo no terceiro. Cristina Graeml, que teria a opção de perguntar diretamente a Pimentel, preferiu questionar Luciano Ducci (PSB) sobre o tema, citando reportagem que mostrava uma lista de servidores que teriam feito doações à candidatura do PSD. Ducci a criticou por fugir de Pimentel, e disse que queria discutir propostas para a cidade – aproveitando para criticar Graeml pelas acusações contra seu vice, Jairo Aparecido Ferreira Filho, por estelionato. A menção, inclusive, rendeu o único direito de resposta do debate. A candidata do PMB seguiu nas críticas ao candidato do PSD em sua réplica, mas não conseguiu fisgar Ducci para o tema. No direito de resposta, ela defendeu seu vice, dizendo que a acusação se refere a um empréstimo não pago, por causa da falência de uma empresa de Ferreira Filho.
Nova licitação do transporte público
A primeira pergunta do debate foi sobre o transporte público e a nova licitação que precisa ser formatada em 2025. Pimentel usou a pergunta para criticar os planos de Ducci sobre VLT e Metrô. Ducci propôs converter a frota a biocombustível, além de retomar o processo do Metrô uma ligação de VLT de Curitiba a SJP.
Pimentel usou a tréplica para defender a meta de adoção de ônibus elétricos da gestão Greca, e também prometer redução da tarifa, com o novo contrato. Prometeu novas integrações, tarifa domingueira a 3 reais e isenção de passagem a desempregados. Ducci rebateu falando que os ônibus elétricos são caros e disse que o uso de biocombustível vai gerar créditos de carbono.
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Questionado por Pimentel, Luizão falou sobre os quesitos que teriam que nortear a licitação, como transparência, controle do MP, concorrência. O candidato do PSD se limitou a repetir as propostas já feitas, como redução da tarifa aos domingos e isenção para desempregados. Luizão aproveitou para criticar a contratação do BNDES para fazer a modelagem do próximo contrato do transporte da capital, dizendo que ele virá pronto, sem espaço para debate. Segundo ele, a discussão teria que ser anterior ao envio para o banco.
Em uma pergunta sobre enchentes, Requião aproveitou para criticar o atual contrato do transporte público, dizendo que ele parece colocar a prefeitura a serviço dos concessionários do sistema de ônibus.
Mudanças climáticas: prevenção e efeitos
A situação dos rios, os planos para evitar enchentes e outras questões relacionadas às mudanças foram citadas ao longo do debate por diversos candidatos, tanto espontaneamente quanto nos blocos em que os temas eram sorteados – ninguém, porém, se aprofundou, mesmo quando o assunto deveria conduzir a conversa.
Requião comentou que as ações para evitar enchentes dependem de planejamento. Cristina Graeml falou sobre a necessidade de mapeamento dos rios para tomar atitudes. Pimentel afirmou que a cidade já tem um financiamento internacional para a despoluição do Rio Belém e seu ecodistrito e citou o plano de fazer a reserva hídrica do futuro, no Umbará.
Ducci aproveitou o momento para exaltar seu vice, o deputado estadual Goura, e dizer que a experiência dele será importante para administrar questões ambientais, como a despoluição dos rios.
Andrea Caldas foi a única candidata a citar outras questões relacionadas às mudanças climáticas, como a fumaça e a poluição.
Esvaziamento da região central de Curitiba
A segunda pergunta do debate, feita por Luizão Goulart para Eduardo Pimentel, tratou da necessidade de revitalizar o Centro. Pimentel falou sobre ações tomadas na gestão Greca, como o projeto Rosto da Cidade e a Muralha Digital, além de dizer que é preciso tomar atitudes integradas, olhando para diversas áreas – segurança, gastronomia, turismo –, sem apresentar uma proposta mais concreta.
Na réplica, Luizão falou sobre como comerciantes da região reclamam do não cumprimento de promessas — e aproveitou para falar sobre o cumprimento das promessas da atual gestão, que, de acordo com pesquisa feita em julho pelo g1, chegou a apenas 22% em sua totalidade (outros 25% foram cumpridos parcialmente e mais de metade não foi cumprida)
Andrea também falou sobre a necessidade de reocupar o Centro, propondo o uso de imóveis desocupados para abrigar as pessoas que estão em busca de uma habitação. Maria Victoria comentou que é preciso fazer calçadas permeáveis, iluminação, asfalto no Centro, assim como levar desenvolvimento para bairros mais afastados. Leprevost comentou que vai fazer um festival de inverno.
Atendimento e reinserção social da população de rua
Logo no início do segundo bloco, Pimentel gastou a maior parte do tempo que tinha para responder sobre como acolher e fazer a reinserção social de pessoas em situação de rua para se defender dos comentários de Cristina Graeml e Roberto Requião sobre a coação de servidores da prefeitura para doarem dinheiro à sua campanha.
Defendeu, então, a atuação do FAS SOS, afirmando que a população de rua tem e terá acolhimento, cuidados de atenção à saúde física e mental, profissionalização, sem reconhecer as faltas do sistema atual e como revertê-las.
Andrea Caldas defendeu da criação de uma secretaria de assistência social, com dotação orçamentária, para atender a população de rua — ideia também defendida por Ducci, que afirmou ainda que fará um censo da população de rua para entender os motivos que levam essas pessoas para as ruas e qual a melhor forma de atendê-las.
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Segurança pública e criminalidade
Ney Leprevost perguntou sobre segurança pública, citando formação de uma cracolândia no Centro, mulheres molestadas e pedófilos em ônibus, mas Requião desviou, citando problemas no atendimento de saúde e do transporte coletivo. Leprevost aproveitou a réplica para dizer que vai impor “lei e ordem” no Centro, e também transformar a Guarda Municipal em Polícia Municipal. Requião em sua tréplica para dizer que a Guarda precisa ser treinada para não perseguir os mais pobres.
Fila para as creches
Assim como em outros debates e em toda a campanha, a fila para a creches foi tema da discussão entre os candidatos, embora as propostas tenham se limitado a construir novas creches e pagar vale-creche enquanto elas não estiverem prontas.
Saúde
A saúde — ou os problemas relacionados a ela — foi tema trazido à baila algumas vezes ao longo de todo o debate. A primeira discussão foi provocada por Luciano Ducci, que é médico e conhecido por atuação relacionada ao tema. Perguntado por ele, Luizão Goulart falou sobre os planos de contratar agentes comunitários de saúde e garantir a realização de exames especializados por hospitais filantrópicos.
Ducci prometeu reorganizar o sistema de saúde, retomando programas como aqueles de saúde da família e de acompanhamento de doentes crônicos. Mais tarde, no terceiro bloco, Ducci voltou ao tema, questionando Ney Leprevost, e aproveitou para apresentar outras propostas, como a construção de um hospital municipal e UPAs. A construção de UPAs é promessa de diversos candidatos
Pimentel pretende também construir um centro de diagnósticos da cidade e novos CAPS, além de revitalizar os antigos, Maria Victoria afirma que vai comprar consultas particulares e fazer mutirões de atendimento em horário alternativo.