Jaqueline Loyola de Lima e Julia Pozzetti
Após nove dias de intensa vivência institucional, o Parlamento Universitário 2025 chegou ao fim nesta sexta-feira (25), com uma cerimônia marcada por emoção, coragem política e o compromisso de uma nova geração com os desafios do Brasil.
O programa, iniciado em 17 de julho, reuniu estudantes de diversas instituições de ensino superior de todo o Paraná, representando cidades como Curitiba, Londrina, Maringá, Pato Branco, entre outras.
Participaram universitários de diferentes faixas etárias, como Romilda da Fonseca, de 54 anos, da Fapad, e José Júlio de Moraes, de 62 anos, da Unimater, evidenciando que o protagonismo político não tem idade nem limite de origem. Os participantes vivenciaram na prática o funcionamento da Assembleia Legislativa, ocupando funções como deputados, secretários, assessores jurídicos, assessores parlamentares e membros da imprensa.
Durante o período, os parlamentares universitários apresentaram, discutiram e votaram propostas legislativas simuladas que abordaram temas como educação pública, saúde mental, segurança, igualdade racial e mobilidade urbana. As atividades envolveram comissões temáticas, sessões plenárias, produção de conteúdo jornalístico e reuniões com parlamentares e servidores da Casa.
Encerramento teve posicionamentos políticos
No encerramento, os próprios estudantes utilizaram o tempo de expediente para registrar suas falas em plenário, muitas delas carregadas de denúncias sociais, posicionamentos firmes e vivências pessoais.
Roberto Neto (UniBrasil) citou Cazuza ao fazer uma crítica à exclusão estrutural de determinados grupos da vida política: “Não me convidaram para esta festa pobre, que os homens armaram pra me convencer.” E completou: “Quem não foi convidado? O negro, o LGBT, o pobre. Estes não foram convidados. Ah não! Foram convidados sim, convidados a lavar a louça, a limpar o chão.” Sua fala exigiu que a política se voltasse às pautas populares: “Toda e qualquer forma de discriminação social dilacera a alma de quem sofre.”
O suplente Gustavo Gabriel Fontollan (UEPG) realizou uma das falas mais emocionantes da legislatura, ao narrar no plenário um abuso sexual que sofreu e transformar essa dor em pauta pública: “Por Maria, por Paulo, por Lucas, nós não somos só um número… Eu posso ser taxado, posso ser visto, como um abusado, mas eu não sou isso, não sou uma vítima… eu fui uma vítima.” A fala comoveu o plenário, sendo seguida por um aplauso de pé por parte dos parlamentares universitários.
Ana Helena Prata (Unifatec), a única deputada negra desta edição, por sua vez, elogiou publicamente Gustavo, afirmando que crimes contra a dignidade humana, como racismo, misoginia, devem ser combatidos com a mesma coragem com que ele se posicionou.
Lourenço Coelho (Fesp) defendeu os povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas, exaltando a cultura edificante desses povos, e a relação respeitosa destas comunidades com o meio em que vivem.
Maria Lipienski (UniBrasil) trouxe a pauta da segurança pública e do porte de armas. “Não é um incentivo à violência, e sim uma questão de legítima defesa do cidadão onde o Estado não consegue combater a violência urbana.” Ela elogiou ainda a Polícia Militar e criticou o efetivo reduzido diante da demanda.
João Bittencourt, ex-líder de governo, complementou a fala de Maria Lipienski elogiando sua atuação e destacando que mulheres também devem protagonizar o debate sobre segurança pública.
Ao todo, 107 projetos de lei universitários foram pautados em plenário. Desses: 57 foram aprovados na quinta-feira, 3 foram rejeitados. Na sexta-feira, dia do encerramento 40 projetos foram aprovados, 4 rejeitados, e 3 retirados de pauta.
Os textos aprovados serão reunidos em um relatório técnico a ser entregue à presidência da Assembleia Legislativa, com potencial de inspirar proposições reais no parlamento estadual.
Com o encerramento da edição de 2025, o Parlamento Universitário reafirma seu compromisso com a formação política cidadã e deixa como principal legado uma certeza, a política não é feita apenas de cargos, mas de vozes, histórias, denúncias e sonhos, especialmente quando vindos daqueles que muitas vezes não foram convidados para a festa, mas decidiram ocupar a mesa mesmo assim.
Novidade do evento: a imprensa universitária
Outro destaque do evento foi a atuação da imprensa universitária, formada por estudantes de comunicação que garantiram a cobertura oficial do Parlamento Universitário. A produção incluiu entrevistas, boletins, matérias, vídeos e cobertura fotográfica, servindo de ponte entre o evento e o público.
Em agradecimento à equipe de comunicação, o diretor da Escola do Legislativo, Jeulliano Pedroso, reforçou o papel democrático da imprensa. “Só existe uma boa democracia quando as pessoas têm a possibilidade de serem informadas pelo trabalho de vocês.”
Jaqueline Loyola de Lima é estudante do 5º período de Publicidade da UniFatec
Julia Pozzetti é estudante do 7º período de Jornalismo na Universidade Positivo