O futuro das eleições municipais de Curitiba foi traçado em Brasília, nos últimos dois dias. Numa manobra inesperada, o ex-governador e ex-prefeito da capital Beto Richa (PSDB) esteve a um passo de se filiar ao PL para ser o candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à sucessão de Rafael Greca (PSD) no Palácio 29 de Março. A troca de partido de Richa chegou a ser anunciada por diversos sites e blogs de política, ainda na quarta-feira (13), mas acabou revelando-se apenas um balão de ensaio. Richa segue no PSDB, partido do qual é, inclusive, presidente estadual, e coloca-se como pré-candidato a prefeito. Já o PL tem um novo nome para concorrer na disputa: o ex-deputado federal Paulo Martins.
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A costura de Beto Richa iniciou na manhã de quarta-feira, com reuniões com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto e, depois, com Jair Bolsonaro, sempre apresentado pelo deputado federal Filipe Barros (PL). Barros disse ter sido “incumbido por Bolsonaro a apresentar-lhe nomes viáveis para a disputa da Prefeitura de Curitiba e, vendo a disposição de Beto Richa em disputar, decidi convidá-lo para uma conversa”. A conversa evoluiu para um convite, aceito, de pronto, pelo tucano.
A movimentação de Richa surpreendeu o mundo político porque, ultimamente, era mais plausível apostar numa aproximação do ex-governador ao Governo Federal que ao bolsonarismo. Richa sempre foi próximo ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e até emplacou seu ex-secretário Michele Caputo (PSDB) em um conselho da Itaipu Binacional.
No Congresso, o deputado federal atuou e comemorou a aprovação da reforma tributária, da MP do Minha Casa, Minha Vida e da prorrogação de Lei Paulo Gustavo (de incentivo à Cultura) – pautas em que a bancada bolsonarista se posicionou contrariamente.
Recentemente, o então presidente estadual do PSDB, chegou a criticar, em nota pública, a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparando a ação militar de Israel contra o Hamas ao holocausto, mas não assinou o pedido de impeachment que a oposição apresentou por conta de tal declaração – 10 deputados paranaenses assinaram a petição.
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Não demorou, também, para o surgimento de resistência interna no PL ao convite ao ex-governador. O primeiro a se manifestar foi o deputado estadual Ricardo Arruda (PL). Bolsonarista convicto, e já tendo passado pela conversa com Bolsonaro sobre a pré-candidatura a prefeito de Curitiba, o deputado disse ter sido traído por Filipe Barros, afirmando que o convite a Richa foi feito à revelia do diretório estadual do PL e partiu para Brasília para tentar evitar a concretização do plano.
Logo depois, Paulo Martins declarou estar abrindo mão de seu cargo de presidente municipal do PL de Curitiba. Em Curitiba, um pequeno grupo de militantes bolsonaristas foram à sede do PL protestar contra a filiação do tucano.
Do outro lado, também houve resistência: a direção nacional do PSDB negou carta de anuência para que Richa deixasse o partido. Sem a anuência, o ex-governador correria o risco de perder seu mandato de deputado federal por infidelidade partidária.
Nesta quarta-feira, em sucinta nota, a assessoria de Beto Richa informou que: “O PSDB não liberou a saída do deputado federal Beto Richa e, com isso, para não correr o risco de perder o mandato, ele decidiu ficar no partido. Mas mantém a pré-candidatura a prefeito de Curitiba”.
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Também nesta quarta, Paulo Martins anunciou-se como pré-candidato pelo PL – o ex-deputado federal não havia manifestado interesse em disputar a prefeitura, focando em uma eventual eleição suplementar para o Senado, em caso de cassação de Sergio Moro (União) – Martins foi segundo colocado na eleição para senador em 2022. O PL ganha, assim, um pré-candidato capaz de mobilizar sua militância mais identificada com o bolsonarismo.
À noite, Beto Richa emitiu um comunicado, em que comentou as articulações ocorridas nos dois últimos dias e afirmou que, mesmo tendo que recuar, “movimentou a política local e colocou o PSDB de volta em destaque nacional”.
O fracasso da negociação com o PL prejudica as pretensões eleitorais de Richa, pois tira dele a condição de disputar a prefeitura em um partido grande, estruturado, com bastante tempo de propaganda na TV e no rádio e com um generoso fundo eleitoral – coisas que o PSDB não pode mais oferecer devido a seu tamanho no Congresso Nacional. Enquanto a federação PSDB/Cidadania tem 17 deputados federais, o PL tem 96 – o tempo de TV e a fração do fundo eleitoral de cada partido é proporcional a sua bancada na Câmara. O recuo também evidencia a rejeição que o ex-governador terá que enfrentar nesta campanha e o coloca em situação de atrito com alguns de seus aliados históricos, como o vice-presidente Geraldo Alckmin.
Mas a atenção com que todos os atores da política local acompanharam o desenrolar das articulações do tucano e as reações vistas a cada passo dado em Brasília reposicionam Beto Richa no cenário político paranaense e o evidenciam como um personagem que não pode ser desconsiderado.