O ex-governador Roberto Requião (PDT) participou na quinta-feira (24) de um bate-papo com os estudantes do Parlamento Universitário, na Assembleia Legislativa do Paraná. Durante o encontro, suas declarações chamaram atenção por críticas contundentes ao atual Legislativo, às chamadas “emendas Pix”, à entrega do petróleo brasileiro ao capital estrangeiro, à atuação de Ciro Gomes, seu colega de PDT, e aos acordos políticos do PT.
Requião classificou as emendas parlamentares como “troca de favores” e relembrou que a exigência por emendas impositivas teve início nos governos petistas. À época, segundo ele, a troca das emendas era tímida e restrita a aliados mais próximos do Planalto, prática criticada pela oposição, que passou a exigir as chamadas emendas impositivas. Já no governo Bolsonaro, aponta, essa mesma oposição teria abandonado seus princípios e institucionalizado a distribuição de emendas como instrumento de barganha política.
O ex-governador também lamentou a falta de debates relevantes no Congresso Nacional e a ausência da “oposição fechada”, que não negocia seus valores. Em sua visão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem se referiu como “meu amigo”, teria se perdido em meio a uma série de acordos – o famoso acordão – que garantem uma “governança mínima”.
Ainda em crítica ao Partido dos Trabalhadores, Requião mencionou a privatização progressiva da Petrobras, que já está, segundo ele, com 64% de suas ações em mãos da iniciativa privada. Para ele, o Brasil carece de um projeto nacional de desenvolvimento, hoje alicerçado ao tripé econômico: meta de inflação, superávit primário e câmbio flutuante.
Também foi alvo de crítica a atual distribuição dos recursos do Fundo Eleitoral, baseada majoritariamente no número de deputados federais de cada partido. Requião relembrou o debate, em gestões anteriores, sobre um financiamento público democratizado.
O ex-governador criticou o fato de a família Massa, do governador Carlos Massa Ratinho Junior, ter concessões de TV e rádio no Paraná, destacando ainda que não confia em pesquisas eleitorais.
Entre outros temas, Requião resgatou a memória política de sua família. Reverenciou o avô, fundador do primeiro partido operário do Brasil (PO), que baseava-se em ideologias anteriores ao marxismo, como o socialismo utópico francês. O partido, segundo ele, debatia pautas históricas da esquerda que foram esvaziadas nas últimas décadas, como a reforma agrária e a reforma do sistema judiciário.
Elogiou também o antigo MDB, que, segundo ele, defendia com firmeza a soberania nacional e uma atuação estatista. Requião voltou suas críticas para o próprio PDT, partido ao qual se filiou recentemente. Apontou que o presidenciável Ciro Gomes adota uma postura política desfavorável, protagonizando, em suas palavras, “brigas ridículas” em público.
Visivelmente cansado, segundo ele, por conta de uma infecção por Herpes Zoster, Requião se demonstrou desiludido com o atual cenário político. Mesmo com as recentes articulações com vistas a uma possível candidatura, o político volta seus olhares para o passado, nostalgicamente.
Julia Pozzetti é estudante do 7º período de Jornalismo na Universidade Positivo