A 1ª Sessão Ordinária do Parlamento Universitário, na manhã desta quinta-feira (24) foi marcada por intensos debates sobre ataques pessoais, classificados por aliadas como misóginos, sofridos pela deputada Camila Pereira Cruz (Estácio). Em discurso no plenário, a deputada universitária Luana Vasconcellos (UTFPR), líder da Bancada Feminina, foi interrompida por duas vezes, o que gerou repercussão entre os parlamentares e foi interpretado como uma tentativa de silenciamento institucional.
Em entrevista a O Luzeiro, Vasconcellos afirmou que sua fala não fazia referência ao embate recente entre Cruz e a suplente Dione Aparecida Ferreira Alves da Cruz (IFPR), que se tornou público após o vazamento de prints de uma conversa de WhatsApp, revelado pelo Portal Nosso Dia.
A líder disse se referir a uma série de ataques pessoais que a colega da Estácio já vinha sofrendo de setores da oposição. Segundo ela, trata-se de uma campanha coordenada de deslegitimação com viés claramente misógino, e não de mera divergência política.
“O que tem sido feito com a colega Camila não é crítica política, não é discordância de posicionamento, tampouco é parte do jogo democrático. Trata-se, sim, de perseguição pessoal, de ataques de cunho misógino, de uma tentativa sistemática de descredibilizar”, afirmou Luana Vasconcellos, segundos antes de ser interrompida pelo parlamentar Davi Gomes (Fesp), líder da oposição, que protestou contra o uso do termo “misoginia”.
Logo após a primeira intervenção, a fala de Luana Vasconcellos foi novamente interrompida, desta vez pela deputada Maria Lipienski (UniBrasil), também integrante da oposição. “Com todo respeito, deputada Luana, acho a senhora maravilhosa em todas suas falas. E tenho um respeito muito grande pela deputada Camila, ficamos muito chateados [com o caso do vazamento]”, disse ela.
“Porém, nós também temos que falar pelo nosso lado. O que aconteceu foi com uma mulher do meu bloco, da oposição. Então, eu acho que não podemos usar a fala da senhora em questão de defender a mulher, sendo que uma mulher também foi atacada nessa situação”, prosseguiu Lipienski.
“A coisa que a gente mais precisa fazer é lutar juntas, porque isso não teria acontecido se estivéssemos unidas. Isso não é uma questão de gênero que aconteceu aqui. Também queria falar da excelentíssima deputada Dione, que ficou muito chateada. Estou aqui hoje para dizer que isso não foi uma questão de gênero e que nós precisamos estar unidas”, completou.
A interrupção da fala da líder da Bancada Feminina ocorreu justamente no ponto mais incisivo, em que ela falava sobre o enfrentamento à violência de gênero disfarçada de debate institucional. O presidente da sessão garantiu à oradora o direito à palavra.
Após a sessão, em entrevista, Luana Vasconcellos complementou seu posicionamento, destacando que os ataques contra Camila iam além do que foi tornado público: “O ataque não é apenas aquilo que foi publicado. O ataque é o conjunto de humilhações e articulações que se organizam nos bastidores para destruir uma colega por meio de sua imagem pessoal, e não de suas ideias”.
Camila confirmou que foi chamada de “malcriada” por uma integrante da oposição, em mensagem carregada de conteúdo pessoal. Segundo ela, a deputada Luana conseguiu intervir e evitar que a ofensa fosse publicada no grupo oficial do Parlamento, o que representaria uma exposição humilhante e completamente alheia ao debate político. “Era um ataque à Camila Pereira da Cruz, não à deputada do Parlamento Universitário”, afirmou ela mesma.
Camila Pereira Cruz também reforçou que não houve qualquer tentativa de silenciar outras candidaturas, e que a escolha da colega da UTFPR para a presidência da Bancada Feminina foi conduzida de forma regular, com amplo apoio da maioria.
A situação evidenciou uma tensão entre o discurso de empoderamento feminino e os desdobramentos práticos ocorridos no plenário. Enquanto a fala de Vasconcellos buscava denunciar ataques de cunho pessoal contra sua colega, parte da oposição reagiu entendendo que também havia ali um desequilíbrio na narrativa.
O caso acabou revelando ainda como disputas internas podem se sobrepor à coesão esperada em uma bancada comprometida com a defesa das mulheres na política, gerando episódios de interrupção e divergência mesmo em temas sensíveis como a violência de gênero.
A repercussão do caso mobilizou apoios dentro e fora do plenário. Estudantes, parlamentares e lideranças universitárias manifestaram solidariedade às deputadas Luana e Camila.
Ao encerrar sua fala no plenário, a líder da bancada feminina fez um apelo que também serve como denúncia. “Que cada mulher aqui reflita sobre o papel que está escolhendo ocupar nesta história. E que cada homem aqui entenda que atacar uma mulher não é força, é covardia”.
Jaqueline Loyola de Lima é estudante do 5º período de Publicidade da UniFatec