Charuto recheado com arroz cozido em caldo de feijão, pão de talos e folhas, maionese de batata-doce e feijoada poveira. Feitos com ingredientes variados, com produtos da agricultura familiar, esses foram os pratos premiados no concurso Melhor Merenda do Paraná, iniciativa promovida pela Secretaria de Estado da Educação (Seed) e o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional (Fundepar).
O anúncio das vencedoras, escolhidas entre 32 finalistas, foi feito nesta segunda-feira (18) no Palácio Iguaçu. Ao todo, foram 524 receitas inscritas e, entre estas, 100 foram selecionadas para compor um livro exclusivo assinado pela chef Manu Buffara. Jurada do concurso, a paranaense foi reconhecida recentemente como uma das melhores chefs do mundo pelo prêmio The Best Chef Awards, e também participou de uma roda de conversa com as finalistas nesta segunda (18).
O Fundepar distribui cerca de 38 mil toneladas de comida por ano às escolas estaduais, incluindo proteína animal servida diariamente, além de alimentos in natura que são adquiridos diretamente das cooperativas da agricultura familiar, em um movimento que beneficia cerca de 18 mil produtores rurais. O investimento ultrapassa R$ 500 milhões.
Desde 2022, os mais de 2,1 mil colégios da rede estadual paranaense contam com três refeições por turno, sendo que os de ensino integral chegam a ter até oito refeições no dia. Com aproximadamente 1 milhão de alunos, a rede estadual de ensino tem aproximadamente 5 mil merendeiras, que usam muita criatividade para preparar milhões de refeições diariamente.
Para a chef Manu Buffara, uma alimentação de qualidade, que valoriza ingredientes locais da agricultura familiar, é processo essencial para a educação. “A educação alimentar é uma forma de ensinar e de prover um futuro melhor para essas crianças, porque tudo começa na alimentação. E quando ela é feita com qualidade, usando produtos nutritivos e diversificados, servida num prato com dignidade, essa criança vai crescer e se tornar um adulto saudável”, disse.
Receitas
O prato que ficou em primeiro lugar, o charuto recheado com arroz cozido em caldo de feijão, foi elaborado por Clarice Iaciuk Costa Rosa, merendeira do Colégio Estadual do Campo Cristo Rei, de Prudentópolis, na região Centro-Sul. Há 12 anos na profissão, ela fez uma enquete com os alunos para escolher uma receita que representasse a cidade, que tem a maior colônia ucraniana do Brasil e é também a Capital Nacional do Feijão Preto.
“A minha maior alegria é cozinhar para aquelas crianças. A ideia do prato surgiu dos próprios alunos. Fizemos uma votação para ver a receita que faríamos. Tinha que ser algo que remetesse à Ucrânia, porque ali é uma colônia ucraniana”, contou. “Eles optaram pelo perorrê e pelo charuto de arroz com feijão usado para rechear a couve. Coisa mais simples de se fazer, e que eles escolheram na enquete. Vou agora dividir essa vitória com os alunos”.
O pão de talos e folhas é receita da Diná Aparecida Gavelik, que ficou em segundo lugar na premiação. Ela trabalha no Colégio Estadual do Campo Nossa Senhora da Conceição, em Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba. O prato reaproveita as sobras de ervas e verduras usadas em outras refeições para dar mais sabor ao lanche dos alunos, evitando o desperdício. “Aproveitamos todos os ingredientes com responsabilidade, da mesma forma que a gente faz em casa com os nossos alimentos”, disse.
“A gente fica muito feliz de estar alimentando tantos alunos, que muitas vezes vão fazer todas as suas refeições ali na escola. E mais feliz ainda de ser reconhecida. Eu fiquei muito surpresa, mas estou muito feliz”, afirmou Diná.
Gislaine Aparecida Xavier faz a maionese de batata-doce, que utiliza inhame no molho para ficar mais saudável, para os alunos do Colégio Estadual Rui Barbosa, de Arapoti, no Norte Pioneiro. Vinda de uma família de merendeiras, Gislaine sempre sonhou em cozinhar no colégio, onde está há quatro anos.
“Era um sonho trabalhar naquele colégio como merendeira. Eu entrava lá para cozinhar em provas do Enem, do Enade, e quando me convidaram para trabalhar eu quase nem acreditei. Antes eu cozinhava em restaurante e festas”, disse. “Quando comecei a fazer o prato, o pessoal falava que as crianças não iam gostar, usamos o inhame no creme para ficar mais saudável, mas elas adoram. Os dias que não vou trabalhar elas até reclamam”.
Na quarta colocação, foi escolhida a feijoada poveira da merendeira Vângela de Jesus Pereira dos Santos, do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos de Paranaguá, no Litoral do Estado. O prato é uma versão mais simples da feijoada tradicional, adaptada à realidade da escola.
“É um prato completo do ponto de vista nutricional, feito com feijão-branco e linguiça mista, acompanhado de arroz e salada. É um prato simples, mas que os estudantes ficam maravilhados quando está no cardápio”, disse Vângela. “Pra mim, já foi um prêmio estar entre as 32 selecionadas entre mais de 5 mil merendeiras. Ficar em quarto lugar, então, é um sonho. Foi um gesto muito importante para mim”.
Seleção
As receitas foram avaliadas tendo como base os critérios de Tradição, que refletisse a cultura local e regional; Localidade e Regionalidade, para valorizar os ingredientes locais e regionais, com ênfase em produtos frescos e de origem conhecida; Criatividade, que leva em conta receitas tradicionais para o ambiente escolar e populares entre os alunos; e Sustentabilidade, que faz o uso consciente dos ingredientes e combate o desperdício. As 32 receitas selecionadas representam cada um dos Núcleos Regionais de Educação (NRE).
As finalistas receberam um avental com seu nome bordado e o livro de receitas com as 100 merendas selecionadas, além de uma aula com a chef Manu Buffara. As vencedoras ganharam um kit com livros de receitas, um jogo de jantar personalizado pelo artista paranaense Toto Lopes e um voucher para um passeio de Litorina, trem de luxo que faz o trajeto pela ferrovia que corta a Serra do Mar.
Com informações da Agência Estadual de Notícias