A Região Metropolitana de Curitiba registrou um aumento na desigualdade de renda desde 2021, num movimento contrário ao verificado na maioria das metrópoles do País. É o que mostra a 16ª edição do boletim Desigualdade nas Metrópoles, produzido pelo Observatório das Metrópoles em parceria com o laboratório de estudos PUCRS Data Social e a RedODSAL (Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina) — e divulgado em outubro.
O relatório analisa a desigualdade por meio do coeficiente de Gini, indicador clássico que observa a concentração de renda em relação à população total do local analisado. No caso de Curitiba, o coeficiente de Gini foi de 0.488 para 0.506 de 2021 para 2024, um crescimento de 3,69%. Além da capital paranaense, apenas Florianópolis, Grande São Luís e Vale do Rio Cuiabá tiveram aumento no índice. Todas as outras viram a desigualdade diminuir e, juntas, todas as regiões metropolitanas atingiram o menor índice da série histórica, iniciada em 2012: 0.534.
Mesmo com o aumento, a Região Metropolitana de Curitiba está entre as dez menos desiguais entre as regiões metropolitanas analisadas, em oitavo lugar. Ela fica atrás de Goiânia (0.478), Manaus (0.480), Belo Horizonte (0.484), Cuiabá (0.486), Porto Alegre (0.489), Florianópolis (0.490) e Vitória (0.502). O resultado a coloca, no entanto, como a mais desigual do Sul.
A pesquisa também analisa outros indicadores, como os estratos de renda (40% da base da distribuição de renda, considerados os mais pobres, os 50% intermediários e os 10% do topo da distribuição) e a razão de rendimentos, que considera o rendimento dos 10% mais ricos em relação aos 40% mais pobres. Observa ainda o número de habitantes que vivem na pobreza e na extrema pobreza. Conforme o relatório, essas informações complementam a análise, permitindo avaliar quais estratos ganharam ou perderam renda e a desigualdade entre os extremos.
Em Curitiba, o rendimento médio aumentou entre toda a população, com redução do número de pessoas em situação de pobreza (-39,56%) e de extrema pobreza (-32%). Por outro lado, aumentou também a razão de rendimentos. “O que está acontecendo é que todo mundo aumentou seu nível de rendimento, mas os segmentos de maior renda aumentaram proporcionalmente mais do que os de menor renda”, explica o economista Marcelo Ribeiro, que é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (INTC) Observatório das Metrópoles.
Conforme o pesquisador, o cenário se deve ao fato de a região metropolitana contar com uma estrutura econômica capaz de produzir empregos de maior rendimento. “Ainda é uma região metropolitana marcada por um peso importante da indústria”, avalia. Outro fator que pode estar influenciando a desigualdade em Curitiba e região são as altas taxas de juros, que favorecem rentistas.
Para Marcelo, o cenário não é “necessariamente ruim” — e deve se manter em 2025 —, já que o aumento de renda está acontecendo nos diferentes estratos da sociedade. Contudo, ele explica que, de forma geral, sociedades mais desiguais são também menos democráticas e que o distanciamento gerado pela desigualdade em termos de condições de vida faz com que determinados grupos não reconheçam as necessidades de outros segmentos. “O que é interessante no caso de Curitiba é que todo mundo está ganhando, mas o que pode ser perverso são os efeitos colaterais dessa distância”, diz.


