Quando falamos em editais públicos de inovação, penso que estamos nos referindo a um jeito estruturado de lidar com risco para viabilizar o novo.
Em vez de apostarem apenas na intuição, esses instrumentos criam ambientes de teste com regras, metas e métricas claras.
Na prática, costumo dizer que eles são atalhos que reduzem custos, compartilham riscos e aceleram a transformação tanto em empresas quanto em instituições públicas.
Sabia que já vi muitos projetos saírem da gaveta graças a esse tipo de fomento? Isso ocorre porque os editais públicos de inovação costumam oferecer capital mais barato e, em alguns casos, até não reembolsável para apoiar desde a fase de ideação até o lançamento no mercado. Mas, atenção: a aprovação exige preparo. É preciso ter projeto bem escrito, governança de execução e disciplina de prestação de contas.
O que são os editais públicos de inovação e por que eles fazem diferença?
Os editais públicos de inovação costumam atuar em quatro grandes frentes:
- Subvenção econômica: recurso não reembolsável para projetos de maior risco tecnológico. Ideal para P&D;
- Crédito com condições especiais: linhas como BNDES ou bancos regionais, com juros e prazos diferenciados para projetos mais previsíveis;
- Incentivos fiscais: como a Lei do Bem, que permite deduzir investimentos em PD&I, especialmente em empresas de lucro real;
- Parcerias e bolsas: apoio técnico e financeiro via ICTs, Embrapii, Sebrae e Sistema S, ótimo para cooperação com centros de pesquisa.
Esses mecanismos tornam a inovação mais acessível e organizada. Em vez de improvisar, a empresa experimenta com método, algo essencial em setores regulados ou de alta complexidade.
Editais públicos de inovação: onde muitas empresas tropeçam?
Ao longo de minha experiência, tenho observado que os erros mais frequentes no que se refere aos editais públicos de inovação, são os seguintes:
- Projeto mal estruturado: falta clareza sobre o problema, a metodologia e os resultados esperados. Edital gosta de começo, meio e fim bem definidos;
- Gestão da execução: aprovar é só o início. Sem relatórios intermediários, controle de notas e respeito às rubricas, o projeto emperra. Editais não são “caixa livre”: o recurso tem destino específico;
- Falta de projetos de base: quem espera “o edital perfeito” costuma perder timing. O ideal é ter projetos estratégicos prontos e adaptar partes deles a cada chamada.
Maturidade importa? Sim, importa
Muitos editais são segmentados por estágio: ideação, protótipo/MVP (Mínimo Produto Viável, da sigla em inglês), escalonamento ou internacionalização. Saber onde seu projeto está faz diferença:
- Ideias de fácil execução e baixo risco: capital próximo;
- Alta incerteza? Busque subvenção;
- Retorno previsível? Crédito pode ser melhor;
- Já investe de forma contínua em PD&I? Incentivos fiscais funcionam como alavanca;
- Prazos: ajuste a expectativa
Aqui, não existe “Pix”. Os recursos levam tempo para chegar:
- Editais públicos (Finep/CNPq): 3 a 8 meses
- Crédito (BRDE, agências estaduais, Sebrae/Fomento): 1 a 3 meses
- Incentivos fiscais: seguem o calendário fiscal
Logo, meu caro/minha cara: planejamento é fundamental para evitar frustrações internas.
E os recursos para o setor público?
Os editais também têm sido motores de transformação em governos. Laboratórios de inovação e sandboxes regulatórios vêm permitindo testar soluções digitais, modernizar serviços e criar políticas públicas mais ágeis. Quando bem usados, o ganho é direto: mais eficiência e serviços melhores para a população.
Para quem ainda não havia falar a respeito, os sandboxes são condições especiais simplificadas para que as pessoas jurídicas participantes recebam autorização temporária dos órgãos ou das entidades com competência de regulamentação setorial para desenvolver produtos, serviços e modelos de negócios inovadores, de forma experimental e em ambiente real controlado, mediante o cumprimento de critérios e de limites previamente estabelecidos.
Como estruturar a estratégia?
Minha recomendação prática para quem quer entrar nesse universo, inclui os seguintes itens:
- Liste dores e projetos estratégicos que fazem sentido para o negócio ou órgão;
- Avalie maturidade e risco para escolher o tipo de recurso adequado;
- Monte parcerias inteligentes (ICTs, Sistema S, Embrapii);
- Use templates para acelerar a escrita de projetos;
- Acompanhe ciclos e boletins de fomento (como os do Sebrae);
- Estruture a governança de execução desde o início, com responsável claro para prestação de contas.
Dúvidas comuns
O que o edital paga? Normalmente: pesquisadores, equipamentos, horas técnicas, bolsas, ensaios, viagens técnicas, lote piloto. Custos operacionais genéricos não entram, nem lançamento de produtos ou operacionalização em escala industrial.
E empresas de serviço? Podem participar, especialmente se tiverem MVP validado ou componente tecnológico/processual.
Por onde começo sendo pequeno? Sebrae e demais instituições do Sistema S são ótimas portas de entrada com programas mais simples.
Quando o dinheiro cai? Planeje meses, não semanas.
Conforme você pôde observar neste artigo, os editais públicos de inovação são oportunidades reais para acelerar a transformação. Eles recompensam o preparo: estratégia clara, projetos de base, governança sólida e disciplina de execução. Quem olha para fomento não como burocracia, mas como parte da estratégia, transforma intenção em resultado.
Se sua empresa ou instituição quer destravar P&D, validar MVPs ou escalar soluções com menos risco, o momento de se organizar para captar esses recursos é agora. Você já participou de algum edital público de inovação? Caso sim, compartilhe sua experiência nos comentários.
Para saber mais sobre editais públicos de inovação:
Livro: Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil, de Bruno Monteiro Portela, Caio Márcio Melo Barbosa e Leopoldo Gomes Muraro.
Prêmio Finep de Inovação: www.finep.gov.br
Programa Criatec (apoio a startups): www.criatec4.com
Até a próxima!
Rafael de Tarso é palestrante, consultor e professor com mais de 20 anos de experiência em inovação, transformação digital e Indústria 4.0. Já impactou mais de 180 empresas e 6 mil alunos em cursos, workshops e mentorias em todo o Brasil. Atua como assessor na Defensoria Pública do Paraná, liderando iniciativas de inovação e transformação digital no judiciário. Cofundador de startups e programas de inovação, também é professor em MBAs da FGV, PUCPR e ISAE-FGV.