Eu tinha acabado de passar no vestibular. Um milagre, já vou confessando, e quando milagres acontecem, nem sempre eles trazem só o bônus. Tem o ônus. É o tal fazer a sua parte, como em tudo na vida. Não tem o ditado que diz que “alegria de pobre dura pouco” e que não “existe almoço grátis”?
Estamos no final de novembro de 1987. Logo que a rádio local anunciou os novos calouros da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), meus amigos correram lá pra casa e me presentearam: rasparam minha cabeça, “ganhei” muito ovo e farinha e, de quebra, aquele banho de lama perfumada. Uma festa. Afinal, a “piazada” de escola pública passar em vestibular de universidade estadual era um feito.
O desafio da cidade grande
Depois da euforia, veio o frio na barriga, o medo da cidade grande e, o que era pior: como eu ia me manter por lá? Na roça, onde eu morava, tinha feijão e milho para colher, galinha para tratar e coisas que eu sabia bem fazer, mas essas vagas não estavam disponíveis nas empresas do novo mercado.
Eu saí da minúscula Fernandes Pinheiro, de 5 mil habitantes, no Sul do Paraná, para Ponta Grossa, uma cidade bem maior. Para os primeiros meses de despesas, eu poderia contar com os meus pais, mas já sabia da necessidade de arrumar um emprego. E é dessa época, 37 anos atrás, que trago a primeira lição para abrir a lista prometida no título do texto.
Primeira lição: peça ajuda
Não tenha medo ou vergonha de pedir ajuda. Precisamos contar para mais gente que estamos em busca de uma oportunidade. Seja porque a empresa fechou, porque estamos em transição de carreira ou porque fomos demitidos. Não existe erro ou crime nisso.
Muitas vezes ficamos cheios de dedos, ouvindo conselhos (alguns furados), enquanto sabemos “onde o calo aperta” e sentimos o barulho dos boletos batendo à porta. É preciso fazer valer a fábula do Leopardo e da Gazela: não importa se você caça ou é caçado, quando o Sol nasce você tem que correr para não morrer de fome ou para não virar almoço.
Meu primeiro emprego
Na minha época de calouro de Jornalismo fiz isso. Nada planejado e estruturado, como ensino nas mentorias hoje, mas deu certo. Até na igreja espalhei que precisava de trabalho. Tive a sorte de ser ouvido pela família Solda, que me apresentou ao Marcos, funcionário de um jornal, o Diário da Manhã. Num final de tarde, depois da aula, fui fazer uma entrevista e, ao final da conversa, ouvi uma frase que soou como música:
— Pode entrar aqui conhecer o pessoal. E você pode começar agora?
Não preciso contar minha resposta e felicidade. Depois fui descobrir que tinha que entrar às 18h e só saía às duas da manhã. Mas era tudo o que eu precisava naquele momento. No primeiro vale (adiantamento) comi aquele “cheese salada” na famosa panificadora Batavo, na Balduíno Taques, em PG. Bons tempos.
Meses depois, a disposição fez com que eu fosse convidado, pelo Nelson Ribeiro, para trabalhar na Redação, onde efetivamente atuava com temas jornalísticos. Essa experiência fez com que, depois de formado, eu entrasse numa emissora de TV e, com 24 anos, assumisse meu primeiro cargo de liderança: Chefe de Redação, em plena transição de uma emissora da Band para a Rede Globo. Foi outra dor de barriga, mas é assunto para outro texto.
Networking na vida real
Quem muitas vezes tem a nossa vaga não sabe do nosso momento. Já aconteceu de você ouvir:
— Poxa, se eu soubesse… lá na minha empresa tinha uma vaga, mas já contrataram.
— Acho que era bem essa vaga que tinha na empresa do meu marido.
— Acabei de contratar uma pessoa e você seria “uma luva”.
No LinkedIn, o “open to work” pode até atrapalhar o algoritmo, mas na vida real as pessoas precisam saber da nossa busca. A vaga nem sempre vem de um amigo famoso ou de um headhunter renomado. Muitas vezes surge de alguém simples, com a informação certa na hora certa.
Já fui indicado diversas vezes não por poderosos, mas por gente comum, que tinha influência sobre os decisores. Da mesma forma, já contratei pessoas por indicação de gente do bem. Empresas grandes, inclusive, pagam pelo “quem indica” interno, confiando que bons empregados trarão pessoas de mesma índole.
Minha jornada até aqui
Do meu início de carreira até hoje já são alguns anos. Acredito que minha experiência de ex-boia fria que virou diretor de empresas pode te ajudar. Um improvável que, com a ajuda de Deus, família e bons amigos, saiu de estagiário de jornal para diretor de Jornalismo. E é dessa caminhada que compartilho as 15 dicas abaixo.
- Prepare seu currículo e LinkedIn da melhor forma possível. Se venda;
- Tenha em mente e vá atrás das empresas que fazem sentido pra você;
- Conte pra todo mundo que está procurando trabalho;
- Olhe para sua rede de networking e descubra quem pode te auxiliar;
- Liste as empresas, decisores e se aproxime via LinkedIn, por exemplo;
- Eles são chatos, mas preencha os formulários de vagas;
- Tenha muita calma. Os RHs estão empregados e não pensam em você;
- Faça um mapa mental e treine sua apresentação para entrevistas;
- Tenha em mente o que você já fez, metas batidas e o que pode fazer para a nova empresa;
- Na entrevista, seja otimista. Não reclame da empresa antiga. Olhe para o futuro;
- Estude muito as empresas onde você quer trabalhar;
- Leve soluções e ideias e não apenas o CV e vontade de trabalhar;
- Mostre que está preparado e que é um aprendiz;
- As chamadas “soft skills” estão em alta. Quais são as suas?
- Se achar uma vaga boa, não espere a ótima. Embarque nessa.
Sempre em busca do sim
Se a primeira dica que dei aprendi lá na roça, essa última ouvi de um headhunter grandão. Adaptando para o futebol: é melhor estar no banco de qualquer time do que fora da escalação de um técnico. Sempre vamos ter 50% de chances em tudo o que fazemos. Não podemos perder oportunidades e devemos pensar sempre: o não nós já temos. Vamos em busca do sim. Espero que as dicas sejam úteis. Boa sorte e até breve.
José Nascimento é aprendiz. Ainda é executivo, professor, escritor, conselheiro, mentor e consultor empresarial. Tem o canal de conteúdo Top de Gestão e pode dizer um alô pra você pelo 041 99270-1011. Simples assim – www.linkedin.com/in/profjosenascimento/