Dedico este texto ao grande amigo Moisés Assayag, executivo com quem aprendi grandes lições no mundo corporativo.
Esta é uma releitura de um artigo que publiquei em 2017 sob o mesmo título. Passados alguns anos, é surpreendente — e ao mesmo tempo preocupante — constatar que o fenômeno descrito naquela época continua presente, em níveis até mais elevados, nas rotinas de empresas, empresários e executivos. O que antes já era um obstáculo visível à competitividade e ao crescimento, hoje assume contornos ainda mais críticos, especialmente em um cenário marcado por transformações rápidas e constantes.
Nas minhas experiências profissionais, tenho percebido que “a tomada de decisão é resultante de um processo responsável pela escolha da melhor solução para um problema ou oportunidade“. Dependendo do contexto, esse processo pode parecer simples ou extremamente complexo. O ponto crucial é que, uma vez cumprido, ele inevitavelmente gera consequências — algumas positivas, outras negativas.
A tomada de decisão está profundamente relacionada a nossos valores, às nossas referências e àquilo que acumulamos de experiências pessoais e profissionais. O ser humano precisa decidir sempre: ora diante de dilemas complexos, ora diante de questões mais triviais. E é justamente o contexto que define o peso da decisão e a importância que atribuímos a ela.
O que raramente se percebe é que a maioria das consequências de uma decisão está fora do nosso “alcance visual”, fora daquilo que conseguimos antecipar de imediato. A complexidade dos negócios, as variáveis externas e internas, os interesses em jogo e os impactos em diferentes prazos tornam o processo decisório algo que exige preparo, visão sistêmica e coragem. Empresários, líderes e gestores vivem nesse ambiente de alta complexidade, tendo de lidar com opções que frequentemente envolvem perdas e ganhos, dilemas éticos, conflitos de valores e pressões de tempo.
Uma decisão firme, clara e tomada no momento certo é um dos atributos centrais da liderança. Entretanto, o tipo de decisão e o modo de tomá-la variam conforme as circunstâncias. Por isso, sempre reforço a necessidade de análise cuidadosa: levantar o máximo de elementos possíveis, projetar implicações e buscar fundamentos sólidos de conhecimento. Decidir é, acima de tudo, uma habilidade que pode — e deve — ser desenvolvida com prática, reflexão e aprendizado.
Ainda assim, mesmo em 2025, observamos nas empresas uma letargia impressionante nos processos de decisão. Consultores, pela experiência acumulada, acabam adquirindo uma competência relativamente desenvolvida para mapear cenários e prever situações. Mas, por mais que busquemos sensibilizar empresários e executivos, a demora em decidir provoca verdadeiros “tiros no pé” daqueles que se mantêm inertes.
O paradoxo é claro: todos os empresários querem resultados — faturamento, vendas, lucratividade, rentabilidade. Contudo, muitos não descontinuam produtos obsoletos, não revisam políticas de preços, não atualizam estruturas e, principalmente, não têm coragem de enfrentar decisões impopulares, como a de substituir ou desligar um parente improdutivo da operação. Alguns até decidem, mas boa parte sequer ousa refletir profundamente sobre essas situações. O tempo passa, os ciclos se repetem, e nada muda.
Em inúmeras situações que já presenciei, o custo de uma decisão errada foi infinitamente menor do que o custo gerado pela ausência de decisão. A inércia custa caro. E, ainda assim, permanece sendo um comportamento recorrente no mundo empresarial.
E aqui fica a pergunta inquietante: se sabemos que a omissão custa mais do que o erro, por que tantos empresários e executivos ainda preferem não decidir?
Rudi Birgman é mestre em tecnologias emergentes para a educação, administrador de empresastem MBA em gestão de negócios. Já trabalhou em grandes empresas como Embratel, Grupo Veolia, Grupo Accor e HIT Communications. Dá aulas de MBA na Universidade Positivo e na pós-graduação da UNISOCIESC. É consultor, desenvolve projetos de capacitação e ministra treinamentos. Também é coautor de livros na área de RH e Gestão Estratégica. www.linkedin.com/in/rudibirgman