A noite da última terça-feira, dia 9 de setembro de 2025, marcou mais um triste capítulo para a liberdade de expressão e a democracia em Curitiba. Um debate programado para acontecer no prédio histórico da UFPR, na Praça Santos Andrade, teve que ser cancelado pela pressão de manifestantes.
A democraria morre um pouco toda vez que violência e gritaria são usadas para impedir qualquer debate de ideias. Não cabe aqui entrar no mérito do tema que seria discutido. Você pode concordar, você pode discordar, você pode até protestar na entrada. Mas, quando você usa de força para impedir que sequer a conversa seja realizada, trata-se de atitude indigna e que não deveria ter lugar em uma universidade. Ainda mais uma universidade pública, que é bancada pelo suor e esforço de todos os brasileiros.
A reação da UFPR ao incidente foi igualmente reprovável. Uma nota oficial que não condena a atitude dos manifestantes e apenas tenta equilibrar a culpa entre os dois lados da contenda.
“Contudo, conforme vídeos, um grupo com os palestrantes forçou a entrada, empurrando o Vice-diretor do Setor, o que desencadeou uma série de reações que culminaram em uma resposta desproporcional das forças de segurança pública em relação à comunidade que se manifestava”, diz a nota da universidade.
O remédio da UFPR para acalmar a situação é proibir os convidados para o evento de entrar na instituição. Isso é de uma desfaçatez absurda. Para acalmar a turba, vamos dar a ela o que quer: impedir que pessoas com opiniões que discordam de entrar numa universidade pública.
Outro trecho da nota é que houve tentativa de suspender o debate antes mesmo de sua realização. “Diante da repercussão nas redes sociais semanas antes do evento, a Direção do Setor de Ciências Jurídicas da UFPR alertou a professora responsável quanto aos riscos à integridade física da comunidade acadêmica e participantes“.
Ou seja, a direção da UFPR queria ceder à ameaça de manifestantes contrários antes mesmo da realização do evento. Não houve a intenção de chamar policiamento para garantir a realização do debate? Por que não chamar quem estava organizando os protestos e CONVERSAR para deixar claro os limites da manifestação?
A UFPR é minha alma mater. A ela, devo meu ofício e a minha carreira. Nela, fiz amigos e me engajei em debates que me custaram alguns tantos outros. Toda vez que a universidade se curva a interesses de um grupo político, ela se rebaixa. Fica menor e menos relevante. Além de manchar sua gloriosa história. E isso é algo que entristece toda a sociedade brasileira.
Alunos passam, a instituição fica. E a UFPR precisa deixar claro que não cabe a grupos de pressão decidir o que pode ou não ser discutido na universidade. Liberdade e autonomia passam por isso.
Câmara também vive situação preocupante
O caso ocorrido na UFPR me lembrou de outro lugar em Curitiba que deveria ser palco dos debates importantes da cidade e está passando por uma crise: a Câmara de Vereadores. Tratei do que está acontecendo por lá no meu último texto. A bancada conservadora está perseguindo e pode até cassar o mandato da vereadora Professora Angela, do PSol, pela realização de uma audiência pública sobre redução de danos no uso das drogas.
Tomada por influencers e políticos fazendo reforço de posições para seu eleitorado, a atual legislatura da Câmara mostra, com a Comissão Processante contra a vereadora, que não é todo debate que é bem-vindo em suas instalações. O que é péssimo para os curitibanos, que contam com seus representantes para capitanear as discussões importantes para a cidade.