Estou aqui olhando para o papel, sim, ainda carrego o hábito de escrever com papel e caneta. E estou me perguntando, por que raios resolvi aceitar mais uma demanda? Estou trabalhando intensamente em mais um projeto de consultoria, além da TV, da rádio, da família.
Olho para as oportunidades que estão surgindo, a maioria parece atraente, embora eu esteja conseguindo recusar algumas. Fico olhando de novo para o papel, meio sem ideia do que virá e me pego pensando, que cansaço. Talvez você esteja aí se perguntando, por que aceitou então?
Estou aqui refletindo e cheguei a uma resposta, estou escrevendo essa coluna nesse momento, porque você deixou de escrevê-la! Sim, você deixou de se expressar, de falar, de opinar. Você ficou em silêncio. E por isso, mesmo exausta, aceitei mais essa demanda. Porque quando uma mulher se cala, outra deixa de sonhar, de se inspirar, de planejar.
Talvez você possa estar pensando que nem é tão importante assim. Ou talvez esteja dizendo que eu não sou tão importante assim. Talvez você tenha razão. Mas eu só comecei a escrever graças a uma professora de Português do Ensino Médio de uma escola pública que, em muitos momentos, deve ter se perguntando: será que faço alguma diferença por aqui?
Voltando para o agora, entendi, felizmente não muito tarde, que comunicar é existir, é resistir, é movimento. Esses dias entrevistei uma mulher que por anos foi calada e invisibilizada pelo então esposo. Ele dizia que ela tinha o cérebro menor do que de uma minhoca, quem era ela para trabalhar, quem iria contratar uma acéfala. Ela fugia dessa prisão, escondida na literatura, na poesia, em Fernando Pessoa, em Clarice Lispector “é curioso como não sei dizer quem sou”.
Às vezes, é um pouco disso também. Alguém tem que escrever para que o outro fuja, para que se reconheça e para que se manifeste. Escrever é provocar, é incomodar tantas vezes sem pedir licença. Talvez seja isso que estou fazendo agora.
A voz é nosso capital, ao contrário e a despeito de tudo, é o que ficará depois que todo o resto se for. Não se trata de romantizar a exaustão. Em 2024, o Brasil registrou 472.328 afastamentos por transtornos mentais e mais de 63% deles foram de mulheres. O burnout, especificamente, cresceu mais de 1.000% no mesmo período. Muito consciente estou disso e por isso continuo pensando nos motivos que me trouxeram aqui, para essa coluna semanal, onde falarei sobre as dores e delícias do empreendedorismo feminino.
Acho que no fundo eu precisava estar aqui. Porque mesmo exausta, escolhi que minha comunicação é o que me salva. E entendi finalmente: Escrevo não para dar conta de tudo, mas para dar conta de mim. E você? O que tem aceitado mesmo cansada? Isso te destrói ou edifica? Vamos juntas por aqui semanalmente, eu muitas vezes cansada para escrever, você muitas vezes exausta para ler. Mas vamos firmes. Numa dessas a gente aprende a descansar com mais algumas coisas pelo caminho.
Roberta da Trindade é fundadora da Habla FM e E-foco Soluções Comerciais | Criadora do Habla Empreendedora (TV, Rádio, Podcast, portais e Comunidade) | Especialista em Gestão Comercial e Pessoas | Voz do Empreendedorismo Feminino. www.linkedin.com/in/robertadatrindade/