Esse artigo é gerado a partir das reflexões na condição de professor da disciplina de Gestão de Mudanças, no MBA em Controladoria e Finanças, da Universidade Positivo.
Ao falarmos sobre mudanças, é essencial compreendermos o ritmo e a intensidade com que as transformações vêm ocorrendo na sociedade — especialmente no mundo dos negócios. Se olharmos para a história, perceberemos que por muito tempo as mudanças ocorriam em ciclos amplos, previsíveis, com impacto localizado. Levaria décadas, às vezes séculos, para que uma mudança estrutural acontecesse e se consolidasse. No entanto, o século XX foi um ponto de inflexão.
Para não irmos tão longe, a Revolução Industrial já havia dado o pontapé inicial nesse processo, mecanizando o trabalho e mudando para sempre a forma como produzimos e consumimos. Mas foi no século passado que o ritmo realmente se intensificou. A Primeira Guerra Mundial desorganizou ordens sociais e políticas, ao mesmo tempo que impulsionou o desenvolvimento de tecnologias e redes logísticas. Pouco depois, a Segunda Guerra Mundial acelerou ainda mais a inovação tecnológica e organizacional, além de redefinir o papel das nações, das empresas e da economia mundial.
Na esteira desses acontecimentos, veio a globalização, conectando mercados, culturas e cadeias produtivas em tempo real. Organizações deixaram de ser locais para se tornarem globais. As mudanças já não vinham mais em ciclos de décadas, mas em intervalos cada vez menores. E então, chegamos à revolução digital. A evolução dos computadores, da internet, dos smartphones e das redes sociais mudou a forma como vivemos, nos comunicamos, compramos, trabalhamos e até como pensamos. Com a tecnologia, entramos em uma era em que a mudança se tornou contínua, imprevisível e, muitas vezes, disruptiva.
Mas por mais que essas transformações pareçam gigantescas — e de fato são —, elas talvez pareçam pequenas diante do que ainda está por vir. Estamos à beira de um salto ainda mais radical com a computação quântica.
Se a computação clássica revolucionou a forma como lidamos com dados e decisões, a computação quântica promete alterar as bases da realidade digital. Ela será capaz de processar informações a uma velocidade e complexidade jamais vistas, quebrando padrões, solucionando problemas hoje considerados impossíveis e abrindo espaço para um novo paradigma de negócios, ciência e sociedade.
Mas, afinal, o que é computação quântica?
De forma simples, enquanto os computadores tradicionais operam com bits — que só podem assumir os valores 0 ou 1 — a computação quântica utiliza qubits, que podem estar em 0, 1 ou em uma superposição dos dois estados ao mesmo tempo. Isso permite que os qubits processem várias possibilidades simultaneamente, proporcionando um ganho exponencial de desempenho em certos tipos de problemas. Além disso, graças ao fenômeno do entrelaçamento quântico, os qubits podem ser interconectados de maneiras que desafiam a lógica clássica, permitindo um novo patamar de capacidade computacional.
A computação quântica ainda parece algo distante para muitos, principalmente devido à sua complexidade técnica. A maioria dos computadores quânticos modernos (especialmente os baseados em supercondutores, como os da IBM e Google) só funciona adequadamente em temperaturas próximas ao zero absoluto (cerca de -273°C). Isso reduz o ruído térmico, ajuda a manter a “coerência quântica” dos qubits, mas demanda um consumo elevado de energia.
Outro grande desafio é a fragilidade dos qubits: eles são extremamente sensíveis a qualquer interferência do ambiente, resultando em altos índices de erro durante os cálculos. Por isso, é necessário utilizar técnicas avançadas de correção de erros, que exigem dezenas ou até centenas de qubits físicos para formar um único qubit lógico estável. Esse fator aumenta ainda mais a complexidade dos sistemas e torna a computação quântica, por enquanto, restrita a ambientes altamente controlados de pesquisa e desenvolvimento.
Seus impactos chegarão ao nosso dia a dia de forma profunda — e silenciosa. Ela terá o poder de transformar setores inteiros: da saúde à segurança digital, da mobilidade urbana às finanças. Revoluções na logística, previsões de mercado, otimização industrial, criação de novos medicamentos, até avanços em inteligência artificial e segurança da informação.
Imagine diagnósticos médicos mais rápidos e precisos, sistemas de logística que eliminam desperdícios, medicamentos personalizados desenvolvidos em minutos, ou sistemas de inteligência artificial que tomam decisões com uma sofisticação jamais vista.
Ao mesmo tempo, ela desafia nossa noção de privacidade, trabalho e controle da informação. Tecnologias de segurança digital atuais podem se tornar obsoletas, exigindo novos padrões éticos e jurídicos.
Em resumo: a computação quântica pode melhorar radicalmente a vida das pessoas, mas também exigirá responsabilidade coletiva para garantir que esse poder seja usado de forma justa, segura e humana. Portanto, o que hoje chamamos de inovação pode, em poucos anos, ser visto apenas como passado recente.
Como conclusão, percebo que o grande desafio na esfera da gestão é deixar de resistirmos às mudanças para nos tornarmos condutores dela. Estarmos preparados para o novo não é mais uma vantagem competitiva — é sim uma condição de sobrevivência. E talvez, mais do que nunca, precisemos realmente a aprender a mudar enquanto caminhamos.
E aproveito para registrar meu agradecimento especial ao ex-aluno Gabriel Borrelli, cuja colaboração foi fundamental para o enriquecimento deste breve artigo. As informações técnicas sobre os desafios e as características da computação quântica, gentilmente compartilhadas por Gabriel, contribuíram significativamente para ampliar a compreensão do tema e oferecer uma visão mais aprofundada e atualizada aos leitores.
Estou honrado com o convite do portal O Luzeiro para colaborar com reflexões acerca do
mundo da gestão. Acredito que espaços como esse são fundamentais para provocar debates, compartilhar experiências e inspirar líderes e profissionais que buscam construir ambientes organizacionais mais humanos, eficientes e preparados para os desafios do nosso tempo.
Rudi Birgman é mestre em tecnologias emergentes para a educação, administrador de empresastem MBA em gestão de negócios. Já trabalhou em grandes empresas como Embratel, Grupo Veolia, Grupo Accor e HIT Communications. Dá aulas de MBA na Universidade Positivo e na pós-graduação da UNISOCIESC. É consultor, desenvolve projetos de capacitação e ministra treinamentos. Também é coautor de livros na área de RH e Gestão Estratégica. www.linkedin.com/in/rudibirgman