O ex-governador do Paraná, ex-prefeito de Curitiba e ex-senador Roberto Requião pediu, nesta quarta-feira (27) desfiliação do Partido dos Trabalhadores (PT) junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A decisão de Requião ocorre no dia seguinte a uma reunião da direção nacional do partido. Nela, o PT decidiu que caberá à executiva nacional – e não mais aos diretórios municipais – a definição da política de alianças nas eleições deste ano em quatro capitais: Curitiba, Rio de Janeiro, Recife e João Pessoa.
A decisão da direção nacional sepulta a possibilidade de prévias no PT de Curitiba, para a decisão entre candidatura própria ou apoio a Luciano Ducci (PSB), dando o poder da escolha ao comando nacional da legenda, declaradamente favorável a alianças com partidos com os quais o PT coligou para a eleição presidencial de 2022, como o PSB, do vice-presidente Geraldo Alckmin. “Querem lançar um cabra de direita e tiraram a possibilidade do partido decidir de maneira direta sobre seus rumos”, lamentou Requião, após o comunicado do partido.
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Fundador do MDB, partido em que esteve filiado durante praticamente toda sua carreira política, Requião filiou-se ao PT em 2022, para ser o candidato do partido ao Governo do Paraná, garantindo palanque à candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva no Estado. Passada a eleição, no entanto, o ex-governador vinha colecionando críticas e dissabores na sua relação com o novo partido: não foi indicado para nenhum cargo no Governo Federal e vinha condenando decisões da gestão Lula quanto a privatizações e concessões, como o novo pedágio das rodovias paranaenses.
Em nota, o presidente estadual do PT, deputado Arilson Chiorato, lamentou a saída de Requião, mas disse respeitar a decisão do ex-governador. “Infelizmente recebo o pedido de desfiliação do nosso companheiro Roberto Requião. Respeito sua decisão e agradeço a sua luta e dedicação enquanto filiado ao nosso partido. Um homem sério, inteligente e com uma história política incrível! Sempre estaremos caminhando na luta pela democracia e na defesa dos mais necessitados, mesmo não estando mais no mesmo partido político”, afirmou.
A assessoria de Requião informou que ex-governador não tem uma nova sigla em vista, no momento.
E Requião Filho?
O deputado estadual Requião Filho, que acompanhou o movimento de seu pai e trocou o MDB pelo PT em 2022, não deve se desfiliar do PT neste momento, para evitar qualquer risco de perda de mandato. Apesar de haver sinalização de que o partido lhe concederia carta de anuência para desfiliação, o deputado disse que prefere esperar uma decisão definitiva do TSE sobre a validade deste tipo de carta. Mas, o deputado também manifestou, em entrevista a O Luzeiro, seu descontentamento com os rumos do PT.
“Roberto Requião sai do partido para honrar sua história, sua palavra e sua consciência. Antes do partido, vem o nosso compromisso com o povo do Paraná e com a nossa coerência. Roberto Requião apoiou o PT no momento em que a escolha era entre Lula e Bolsonaro. E o discurso da campanha de Lula era um discurso forte. Um discurso que o levou a vencer a eleição. Porém, após estar no governo, esse discurso foi esquecido: aliança com o governador Ratinho Junior (PSD), implantação do pedágio, conivência com a venda da Copel, nos afasta, neste momento, do partido”, disse.
“Se vou sair do partido? Por enquanto, estou atrelado ao PT por conta da fidelidade partidária. Aguardo que o TSE dê uma definição clara sobre saída de partidos com anuência e carta de autorização das Executivas nacional, estadual e municipal”, comentou. “Temos que manter a coerência. Na política de hoje, do jeito que está, se não lutamos por ideais e bandeiras, lutaremos por o que? ”, questionou.
Apesar de ainda aguardar uma salvaguarda da Justiça Eleitoral para trocar de partido, Requião Filho parece já ter seu próximo destino definido. Assessores do deputado, que não estão presos ao PT por conta da fidelidade partidária, já estão migrando para o PDT.
Carol Dartora e Zeca Dirceu mantêm pré-candidaturas
Apesar de a decisão da direção nacional do partido ter frustrado a ala petista que defende candidatura própria à Prefeitura de Curitiba, os dois nomes que se colocaram com pré-candidatos declararam que seguirão em pré-campanha. Ao comentarem a decisão do comando nacional da sigla, os deputados federais Carol Dartora e Zeca Dirceu anunciaram que seus nomes seguem a disposição dos petistas de Curitiba.
Carol Dartora publicou uma nota pública intitulada “Por um PT forte e sem medo de ser feliz”, em que contesta o eventual apoio a Ducci, lembrando o histórico de antagonismo entre o pré-candidato e o PT e refuta o argumento de que a aliança seria importante para manter o apoio no Congresso, citando que o PSB, partido de Ducci, tem apenas 14 deputados federais e ocupa, hoje, a vice-presidência da República e dois ministérios, o que, na visão dela, já seria suficiente para manter a fidelidade do partido ao Governo Federal. Com isso, a deputada reafirma sua candidatura, “sem tempo para recuar”, destaca.
Zeca Dirceu comentou, no Twitter a decisão do PT.
Depois, na mesma rede social, criticou o partido pela saída de Requião.