Fato: de janeiro a julho de 2025, o Paraná abriu 102.309 empregos formais e ficou em 3º no País — desempenho líder no Sul. O motor foi serviços, com 55.516 novas vagas no período. E não é concentração na capital: 327 de 399 municípios tiveram saldo positivo, ou seja, 82% do mapa no azul. Tradução sem firula: tem vaga, tem capilaridade e tem oportunidade real.
Quando abrimos a lente dos serviços, aparecem subsegmentos que explicam o ritmo: informação e comunicação, atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (saldo de 25.834); administração pública, educação e saúde (17.424); transporte e armazenagem (6.057). O turismo também puxou 4.009 empregos de janeiro a julho, com Curitiba e Rotas do Pinhão liderando. Isso conversa com o dia a dia das empresas: mais atendimento, mais logística, mais backoffice, mais TI aplicada.
E ainda há um termômetro semanal que não dá para ignorar: as Agências do Trabalhador vêm abrindo a semana com 20 a 26 mil vagas distribuídas pelo Estado. Em várias segundas-feiras de agosto e setembro, vimos picos de 25–26 mil oportunidades, com Cascavel, Campo Mourão, Londrina e a RMC entre os polos que mais ofertam. Os cargos campeões? Alimentador de linha de produção, abatedor, operador de caixa, auxiliar de logística — vagas que pedem execução consistente e, cada vez mais, alfabetização de dados no cotidiano.
O outro lado da moeda é o mismatch, que é desencontro entre o que as vagas exigem e o que os candidatos oferecem — em habilidades, experiência, localização, jornada ou salário — que mantém vagas abertas e pessoas sem recolocação ao mesmo tempo.
O Mapa do Trabalho Industrial 2025–2027 projeta o Brasil precisando qualificar 14 milhões de pessoas em quatro anos; no Paraná, a demanda combinada de formação inicial e treinamento passa de 1 milhão de trabalhadores até 2027, com destaque para logística, operação industrial, manutenção, construção e metalmecânica, além das ocupações transversais de TI. Se a gente não encurta essa distância com trilhas simples e aplicáveis, a vaga vira fila.
5 trilhas de 90 dias (práticas, baratas e possíveis)
1. Dados/IA aplicada (operações e escritório)
Começa pequeno: planilhas avançadas, fundamentos de dados e prompts para automatizar o que toma tempo — relatório, reconciliação, e-mail padrão. Em 90 dias, publique um painel mensal do seu setor (o que já mede + o que devia medir) e monte um mini-portfólio com 3 automações que de fato economizam horas. Isso conversa com os subsegmentos que mais cresceram em serviços e com as vagas da RMC.
2. Logística e armazenagem
Com transporte e armazenagem no top 3 dos serviços que mais geram emprego, vale atacar desperdícios clássicos: recebimento/expedição, WMS básico, OTIF e acurácia. Um ciclo de melhoria (layout, endereçamento, inventário rotativo) já derruba lead time e erros por mil itens. Registre antes/depois — é seu cartão de visita para promoção interna.
3. Manutenção industrial/elétrica
O interior está contratando e pedindo estabilidade de máquina. Em 90 dias, crie plano semanal de preventiva, checklists e apontamentos digitais; reforce NR-10 essencial e leitura de diagramas. Métrica que paga a conta: redução de paradas e queda no custo da peça quebrada. Isso vale da região de Cascavel à RMC, onde produção e varejo dependem de equipamento confiável.
4. Eletrotécnica/automação
Automatize uma etapa simples (esteira, cadastro, teste) com noções de sensores/CLP e segurança. O ganho aparece em tempo de ciclo e qualidade — e conversa com a tendência de serviços intensivos em tecnologia (de bancos a educação). Mostre antes/depois com dados.
5. Segurança da informação (básico para todos)
Vaga de atendimento? Logística? Escritório? Não importa: higiene digital, phishing, senhas e LGPD no cotidiano são o “feijão com arroz” que evita dor de cabeça. Em 90 dias, rode um checklist de 10 pontos na equipe e busque zero incidentes (ou queda drástica). A digitalização de serviços e o volume de contratações tornam isso inegociável.
Onde e como acelerar
Use o que já está perto: Agências do Trabalhador como radar de demanda e porta de entrada; a rede municipal/estadual de qualificação (como o Qualifica Paraná) com turmas de curta duração e calendário itinerante; faculdades comunitárias e EAD com módulos rápidos. O segredo é encadear estudo + prática: o que você aprende na segunda precisa ser aplicado na terça — e, de preferência, com um líder olhando indicador junto com você.
Por que insistir nisso agora
Porque o ciclo está favorável: emprego crescendo, serviços tracionando e interiorização real. Em paralelo, há semanas com 25–26 mil vagas abertas e colocações recorde via Sine (só julho/2025 teve 16.170 contratações intermediadas, 11% acima de jul/2024). Se qualificação e prática não caminharem juntas, a gente perde a janela.
Empregabilidade não é um slogan que a gente cola na parede — é uma palavra grávida: de política pública (mapear demanda e ofertar trilhas curtas), de decisão empresarial (ensinar o que cobra, medir o que importa) e de atitude individual (estudar o que o mercado paga e mostrar evidência de resultado). Quando trilha técnica encontra hábito de medir e rede ativa, o trabalho melhora, a renda aparece e todos ganham. Vamos tratar empregabilidade com a atenção que ela merece — e transformar dado bom em vida melhor.
Fernanda Alves Chaves é especialista em Gestão de Pessoas, fundadora da DualFusion e diretora da ABRH-PR há mais de 30 anos. www.linkedin.com/in/fernandaalveschaves/


