Após participar de um painel com o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, durante o Rio Innovation Week em agosto, onde discutimos “Turismo e Inovação como Soft Power”, ficou claro que este conceito pode ser determinante para o futuro do turismo paranaense.
Mas o que exatamente é Soft Power e como ele se relaciona com os Destinos Turísticos Inteligentes, que abordamos anteriormente? A resposta pode transformar a maneira como o Paraná se posiciona no cenário turístico nacional e internacional.
Criado pelo professor Joseph Nye, da Universidade Harvard, o conceito de Soft Power refere-se à capacidade de influenciar e atrair sem coerção ou pagamento. É o oposto do “poder duro”, que usa força militar ou pressão econômica. No Soft Power, a influência vem da admiração pela cultura, valores e realizações de um lugar.
Aplicado ao turismo, o Soft Power representa a capacidade de um destino atrair visitantes não apenas por suas belezas naturais, mas por sua identidade cultural, inovação, gastronomia, estilo de vida e valores. É o que faz alguém escolher visitar um lugar mesmo sem uma atração turística monumental. Quando pensamos em Nova York, não é apenas a Estátua da Liberdade que atrai, mas todo o estilo de vida nova-iorquino, retratado em filmes, séries e músicas.
O Paraná possui elementos únicos que podem ser potencializados como Soft Power. Nossa diversidade cultural, cria um mosaico singular. A experiência de tomar um café colonial em uma colônia alemã ou participar de uma festa ucraniana são expressões autênticas que geram admiração.
A inovação e sustentabilidade também são diferenciais. Curitiba já foi reconhecida mundialmente por suas soluções urbanas inovadoras, e esse DNA pode ser estendido para criar experiências turísticas diferenciadas em todo o Estado. Nossa gastronomia única, do barreado no litoral aos vinhos da região metropolitana, passando pelo café especial do norte e a erva-mate no oeste, conta histórias que poucos destinos podem oferecer.
Os conceitos de Soft Power e Destinos Turísticos Inteligentes (DTI) se complementam perfeitamente. Um DTI utiliza tecnologia e inovação para melhorar a experiência do visitante, enquanto o Soft Power cria a atração inicial que motiva a viagem. Imagine Foz do Iguaçu não apenas como o lar das Cataratas, mas como um laboratório de sustentabilidade turística. Ou Curitiba não apenas como a capital ecológica, mas como um centro de inovação em mobilidade turística. Esses elementos criam admiração e desejo de visitar para além das atrações tradicionais.
O Soft Power transforma a experiência turística de contemplativa para imersiva. Quando um turista visita o Paraná atraído não apenas por nossas paisagens, mas por nosso estilo de vida ou valores culturais, ele busca uma conexão mais profunda com o destino. Dados mostram que visitantes atraídos por elementos de Soft Power permanecem mais tempo, gastam mais, interagem mais com a comunidade local e têm maior probabilidade de retornar e recomendar o destino.
Para desenvolver o Soft Power turístico, podemos criar roteiros de inovação que mostrem as soluções criativas do Estado, promover a “diplomacia gastronômica”, desenvolver narrativas autênticas que contem as histórias paranaenses e investir em experiências transformadoras que permitam ao visitante não apenas conhecer, mas participar da cultura local.
O Soft Power no turismo não é um conceito abstrato, mas uma ferramenta prática de desenvolvimento. Ao entendermos que o turismo vai além da infraestrutura e das belezas naturais, podemos posicionar o Paraná como um destino que não apenas se visita, mas que se admira e se deseja experimentar. Em um mercado turístico cada vez mais competitivo, onde destinos disputam a atenção de viajantes exigentes, o Soft Power pode ser o grande diferencial do Paraná. Não se trata apenas de mostrar o que temos, mas de inspirar através do que somos.
Gislaine Queiroz é turismóloga pela UFPR, CEO da Única Recepção e presidente do Curitiba Convention gestão 23/24 e 25/26. www.linkedin.com/in/gislainequeirozunica/