Recentemente, Curitiba registrou 100% de ocupação hoteleira. Os hotéis lotados, restaurantes movimentados e o comércio aquecido. Mas quem acompanha apenas os noticiários poderia pensar que nada extraordinário acontecia na capital paranaense. Esse silêncio midiático sobre eventos técnicos científicos e corporativos que movimentam nossa economia revela um paradoxo do turismo paranaense: temos dificuldade em comunicar e valorizar o que, de fato, sustenta grande parte de nossa atividade turística.
Como mencionei na coluna anterior, há uma tendência equivocada de tratar as verticais do turismo como concorrentes. Agora, percebo que há também uma hierarquia invisível na cobertura midiática: o turismo de lazer ganha as manchetes, enquanto o turismo de negócios e o emergente turismo tech ficam relegados às notas de rodapé, quando muito.
O Paraná tem sua identidade turística fortemente ancorada em destinos como Foz do Iguaçu e algumas áreas litorâneas. Contudo, a realidade econômica de nosso Estado revela outra história: somos, predominantemente, um polo de turismo corporativo e de eventos. Essa vocação, que gera bilhões anualmente e mantém nossa rede hoteleira funcionando mesmo em baixa temporada, raramente é celebrada ou sequer noticiada.
O turista de negócios frequentemente não se reconhece como parte da cadeia turística, como já abordei anteriormente. Agora, percebo que o próprio mercado e a mídia também têm dificuldade em enxergar esse segmento como “turismo de verdade”. É como se apenas praias, cachoeiras , parques, shows e atrações naturais merecessem destaque, enquanto congressos, feiras e eventos corporativos fossem vistos apenas como “trabalho” – ignorando o impacto econômico e cultural que geram.
Soma-se a isso o emergente turismo tech, uma vertical que o Paraná, com seu crescente ecossistema de inovação, tem plenas condições de explorar. Eventos de tecnologia, visitas técnicas a startups, intercâmbios entre hubs de inovação e turismo educacional voltado à tecnologia representam um filão ainda subexplorado em nosso Estado. O movimento da inovação não é visto impactando no turismo.
Por que é tão difícil comunicar essas outras faces do turismo paranaense? Talvez porque o turismo de lazer venda imagens mais atraentes ou porque o imaginário coletivo ainda associe “turismo” exclusivamente a “férias”. A mídia prioriza conteúdos para o consumidor final, enquanto o turismo corporativo é percebido como relevante apenas para nichos específicos.
Essa disparidade de cobertura não apenas reflete, mas também reforça a percepção distorcida sobre o que constitui “turismo de verdade”, criando um ciclo que perpetua o desequilíbrio na valorização das diferentes verticais turísticas. Romper esse ciclo exige um esforço coordenado de comunicação que demonstre como o turismo corporativo e tech não são apenas relevantes economicamente, mas também podem gerar narrativas tão interessantes quanto as do turismo de lazer.
Enquanto não mudarmos essa percepção, continuaremos a ver hotéis lotados em Curitiba sem que isso seja notícia. Continuaremos a ter um calendário de eventos técnicos científicos e corporativos de peso sem que isso seja celebrado como parte de nossa identidade turística. E, principalmente, perderemos oportunidades de integrar essas diferentes verticais, como defendi na coluna anterior.
O Paraná não precisa escolher entre ser um destino de lazer ou de negócios. Podemos ser ambos, além de explorar novas fronteiras como o turismo tech. Mas, para isso, precisamos primeiro reconhecer todas as faces de nossa vocação turística. Só assim construiremos um setor verdadeiramente integrado e potente.
Gislaine Queiroz é turismóloga pela UFPR, CEO da Única Recepção e presidente do Curitiba Convention gestão 23/24 e 25/26. www.linkedin.com/in/gislainequeirozunica/