Outro dia uma amiga me pediu ajuda para escrever sua minibiografia para um projeto, mas veio com parêntese: “não precisa colocar todas as minhas formações e prêmios, não quero parecer arrogante”. Automaticamente gritei para ela: Ei! Por que você quer guardar suas vitórias no bolso?
Fiquei me perguntando por que a gente faz isso? Omite conquistas como se fosse vergonhoso, como se fosse um erro se destacar. A verdade é que a gente vem de uma cultura que confunde humildade com invisibilidade. Existe sempre o receio de parecer exibido.
A gente cresce acreditando que o sucesso é uma medalha para ser colocada no peito, mas para ficar lá escondida sobre a roupa, não para ser mostrada. Eu também já fiz isso: acreditava em uma mentira que me disseram, que os resultados do meu trabalho falariam por mim, como se fosse algo a ser descoberto, não contado. E por muito tempo na minha carreira, meus méritos não foram (re) conhecidos.
Mas aí vai: um dia percebi que estava guardando sementes em lugar errado. Sem terra fértil não germinavam. Compartilhar vitórias não é “se achar”, é abrir espaço, é inspirar, ocupar seu lugar.
Guardar suas vitórias no bolso pode parecer humildade, mas estudos mostram que isso tem um custo. Em oito estudos, Roberts, Levine e Sezer (2021) concluíram que quem esconde suas conquistas é visto com menos proximidade e, pasmem, até mesmo com mais ressentimento do que quem as compartilha, mesmo quando o sucesso é modesto. Em outras palavras, dividir resultados preserva relações e abre espaço para colaboração; calar, ao contrário, fecha portas.
No trabalho, há outro efeito: celebrar avanços aumenta motivação e engajamento, o que a Psicologia Social tem trazido como Progress Principle, ou, Princípio do Progresso. Tornar visíveis as vitórias, grandes ou pequenas, nutre o time e multiplica oportunidades. (Amabile e Kramer, Harvard Business Review, 2011)
Fora do trabalho, compartilhar histórias também importa. Em julho de 2025 apareceu nas mídias a história de uma freira paraense, Dulce de Maria, que tinha o sonho de conhecer a cantora Joelma, e esse encontro aconteceu em Curitiba. Em um primeiro momento, pode parecer curioso, até estranho, mas a própria irmã Dulce falou, quando perguntada: “A Joelma é uma pessoa que nos mostra como a gente consegue enfrentar barreiras. Tanta dificuldade que ela já passou e sempre foi vencedora. E quando a gente tá em dificuldade, a gente lembra, ‘meu Deus, se a Joelma conseguiu, a gente consegue’. Então, pra mim, eu tenho ela como uma pessoa que me dá forças de lutar, pra vencer e de jamais desistir dos sonhos.”
A ciência explica esse fenômeno: quando pessoas de referência compartilham suas conquistas, isso desperta esperança e inspiração, e motiva quem observa. Alguns chamam isso de Impulso da Autopromoção, ou seja, o benefício social e emocional de compartilhar conquistas de maneira estratégica, tanto para quem conta quanto para quem ouve. (Roberts et al., 2021).
E não é somente isso, compartilhar histórias tem efeito fisiológico. Segundo Hamby (2013), na Psychology Today, narrar histórias é um caminho poderoso para recuperar voz, resiliência e, sobretudo, inspirar outros. Brockington et al. (2021), observaram, em um estudo com crianças hospitalizadas, que ouvir histórias aumentou nelas oxitocina, reduziu cortisol e dor, e despertou emoções positivas.
Sabe, não é só teoria, na prática, há algum tempo, venho pensando que nossas histórias não são somente nossas. Sejam de sucesso ou superação, elas podem ser um estímulo poderoso para quem está perdido. A gente tem crescido em uma cultura que confunde o compartilhar com arrogância, quando na verdade dividir o que se conquistou é generosidade. Obviamente toda história deve vir com um propósito genuíno, mas certamente, nos esconder não é o melhor caminho.
E querem saber sobre minha amiga? Conversei com ela: “E se, em vez de omitir, você contasse como ralou para chegar onde chegou? Essa conversa entre nós virou uma palestra sobre o poder das palavras.
E você querido leitor, está segurando qual conquista por medo de julgamento? Já pensou quem poderia levantar se você contasse sua história?
Me diga: qual vitória vai tirar do bolso hoje? Porque nossas histórias de vida são atos políticos, em um momento que estamos sendo engolidos por pessimismo, negatividade, descrença, ter em quem se inspirar é um ato de libertação. Cada parte da nossa história, dita em voz alta, é afirmação de vida, de resistência, de futuro e acima de tudo, de legado.
Roberta da Trindade é fundadora da Habla FM e E-foco Soluções Comerciais | Criadora do Habla Empreendedora (TV, Rádio, Podcast, portais e Comunidade) | Especialista em Gestão Comercial e Pessoas | Voz do Empreendedorismo Feminino. www.linkedin.com/in/robertadatrindade/
Referências
- AMABILE, Teresa M.; KRAMER, Steven J. O poder das pequenas vitórias. Harvard Business Review, maio 2011
- BROCKINGTON, Guilherme; MOREIRA, Anna M. B.; BUSO, Maurício; GOMES DA SILVA, Michel; ALTSZYLER, Edgar; FISCHER, Ronald; MOLL, Jorge. Storytelling increases oxytocin and positive emotions and decreases cortisol and pain in hospitalized children. Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), v. 118, n. 22. 2021.
- HAMBY, Sherry. Resiliência e 4 benefícios de compartilhar sua história. Psychology Today. 2013.
- ROBERTS, Annabelle R.; LEVINE, Emma E.; SEZER, Ovul. Hiding success. Journal of Personality and Social Psychology, v. 120, n. 5, p. 1261–1286, maio 2021.
- ROPAN, Riulen. Vídeo: Freira realiza sonho de conhecer Joelma após permissão do convento: “Rezei muito”. O Liberal, Belém, 29 jul. 2025.