E diz a frase atribuída a Jim Rohn “Você é a média das cinco pessoas com quem mais convive”, acho difícil que você não a tenha ouvido ao menos uma vez na vida. Frase de efeito de palestra motivacional, com base científica zero, amplamente repetida. Se é que essa frase foi escrita mesmo por Jim Rohn, não há comprovações diretas, o coach que ficou milionário com marketing multinível, perdeu seus bilhões com a falência de sua empresa e ressurgiu vendendo suas palestras motivacionais. Daquelas frases que viralizam pelo apelo simplista, mas que no fundo não olham a vida como ela é.
Influência social existe? Sim, e isso é comprovado. Pesquisas mostram que as áreas cerebrais processam o aprendizado a partir do que vemos nos outros. Até mesmo a dopamina influencia nossa adequação ou não a um grupo. Mas, daí a dizer que somos a média de cinco pessoas é superficial, quase ofensivo.
Não, nem sempre temos a oportunidade de nascer em uma família estruturada, de encontrar o emprego dos sonhos de cara, de ter amigos que te apoiam, de conviver com pessoas funcionais e motivadas. E aí você encontra histórias de mulheres que começaram sozinhas, com filho no colo, sem rede de apoio. De pessoas que convivem sua infância e adolescência em companhias duvidosas, porque é a única coisa que a vida oferece naquele momento. Em tempos de desigualdade crescente, nunca isso pareceu tão real aliás.
Dia desses conversei com uma empreendedora que cresceu em um contexto familiar humilde, contou com a família para cuidar do seu negócio, enquanto ela saía vender salgado na rua. O negócio começou a dar certo e quando ela achou que tinha superado o pior, foi roubada pela própria família. Sim, ela convivia com pessoas que claramente não tinham as mesmas intenções que ela. Mas a despeito disso, continuou trabalhando, se reconstruindo e hoje possui duas empresas.
Já me deparei com histórias de mulheres que conviviam com maridos e filhos abusivos, narcisistas, sem apoio algum e que encontraram no empreendedorismo seu grito de liberdade. Não estavam cercadas de cinco pessoas incríveis, mesmo assim conseguiram virar a chave. Inclusive vemos listas de relatos e depoimentos assim nas redes.
Eu nasci em uma família de gente trabalhadora, honesta, mas cresci com meu pai dizendo que empresários só pensam em si mesmos e nos seus próprios lucros. Propósito? Nunca tinha ouvido falar. Minha mãe, devido sua criação, o tempo todo falava, “mulher tem que ser quietinha, meiga, não deve falar alto, nem chamar muita atenção”. O mantra na minha casa, “trabalho é duro, empreender não presta, mulher precisa se calar”. Hoje sou multiempreendedora, comunicadora, treinadora, voz ativa para o empreendedorismo feminino. Nunca fui a média das pessoas da minha família, sempre fui a soma das pessoas que resolvi seguir, acompanhar, me espelhar; o reflexo de coisas que vi e aprendi se tornaram referências do que fazer e principalmente, do que não fazer. Para isso precisei ser a teimosa, a rebelde, e que sorte a minha.
Não, nós não somos a média das cinco pessoas que convivemos, nossa potência não pode ser reduzida a um número mágico ou a circunstâncias. Somos influenciados, sim, a ciência prova que o ambiente molda nossos comportamentos, nossos medos e coragens, até mesmo nossas tendências de consumo. Mas, somos mais que a média, somos a soma e as decisões que tomamos a partir dessas vivências, exemplos e convívios.
Você pode sim estar cercada de negativismo, machismo, pobreza e ainda assim, se tornar referência, uma voz no mundo. Você pode ser o ponto de ruptura, aquela que quebra a média com suas decisões conscientes. Seu entorno, não pode ser um decreto. Sua história não é uma sentença e as pessoas que estão convivendo com você, por escolha consciente ou não, não podem ter o direito de definir quem você é.
Na teoria é muito bonito dizer “escolha com cuidado as pessoas com quem convive”, “você é a média das cinco pessoas”, mas eu sei, e talvez você também, que nem sempre temos esse poder. Nem sempre conseguimos escolher onde nascemos, com quem crescemos, quem nos rodeia, quem está em nossa vida no nosso dia a dia. Mas apesar do seu meio e de suas influências próximas, você tem um poder que é seu: decidir quem você quer ser.
Sem se dar conta você já começou. Você pode não me conhecer pessoalmente, mas escolheu seguir esse conteúdo, ler esse texto, se você chegou até aqui, você já está fazendo sua escolha consciente, porque você não é a média, você é a soma, uma colcha de retalhos de tudo que viveu, das pessoas com quem convive, mas também das pessoas que escolheu seguir e se espelhar. Isso sim é revolução.
Sinceramente responda: você tem sido a média ou a soma? Você está se deixando definir ou está se definindo a partir de escolhas conscientes? Então nessa semana, te convido a essa reflexão, observe como ela reflete em cada escolha futura. E no patchwork da vida, que você se descubra cada vez mais inteira.
Roberta da Trindade é fundadora da Habla FM e E-foco Soluções Comerciais | Criadora do Habla Empreendedora (TV, Rádio, Podcast, portais e Comunidade) | Especialista em Gestão Comercial e Pessoas | Voz do Empreendedorismo Feminino. www.linkedin.com/in/robertadatrindade/