Durante os ensaios da Orquestra Sinfônica do Paraná, uma presença atenta se destaca no fundo da plateia vazia: a do arquiteto e especialista em acústica José Augusto Nepomuceno, referência latino-americana no tema e fundador do escritório Acústica & Sônica, focado em projetos de acústica, controle de ruído e vibrações, com sede em São Paulo.
Com décadas de experiência em projetos de teatros e salas de concerto no Brasil e no Exterior, Nepomuceno está prestando consultoria ao Centro Cultural Teatro Guaíra para analisar e propor melhorias para o espaço. A missão dele é compreender como os sons reverberam no local e entender como o público pode desfrutar de uma experiência sonora ainda melhor.
Especialista em ambientes de “escuta sensível” – aqueles em que cada detalhe sonoro compõe a experiência artística –, o arquiteto considera alguns ajustes estratégicos para potencializar a excelência acústica do Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto (Guairão) e do Auditório Salvador de Ferrante (Guairinha).
O trabalho dele no teatro faz parte do escopo do projeto de reforma e revitalização do Centro Cultural Teatro Guaíra e da aquisição de equipamentos cenotécnicos, cuja verba foi anunciada pelo Governo do Paraná no ano passado.
Nepomuceno também vai desenvolver um novo projeto de concha acústica para os ensaios e apresentações da Orquestra Sinfônica do Paraná. Esse aparato cênico, fundamental em grandes salas de concerto, tem a função de direcionar e projetar o som de forma uniforme, proporcionando uma experiência sonora de excelência e permitindo que os músicos se escutem com mais clareza e equilíbrio.
“A direção do Teatro teve enorme coragem em buscar a excelência com uma concha acústica compatível com a dos melhores teatros do mundo”, destacou Nepomuceno.
O projeto envolve alto grau de complexidade. Atualmente, a única fornecedora desse tipo de estrutura é a empresa norte-americana Wenger. Por se tratar de um equipamento de grande porte, a logística de transporte e instalação exige um planejamento detalhado.
“Hoje dependemos de decisões muito singulares: qual seria o tamanho desta concha e quais limitações poderiam ser admitidas? Como o arranjo da Orquestra tende a mudar a partir de uma concha profissional? São detalhes importantes que precisamos levar em consideração neste projeto”, explicou.
O especialista analisou também a acústica do Guairinha – considerada excelente – e avaliou os espaços e corredores do teatro que interligam os auditórios. Ele apontou que, nesse quesito, há um desafio: um pequeno vazamento de som entre os o Guairão e o Guairinha, questão que está sendo estudada para identificar soluções que minimizem a interferência acústica.
“Para o público é quase imperceptível, mas isso pode prejudicar o desempenho de quem se apresenta. Considerando que o teatro é um patrimônio público, temos um desafio”, afirmou Nepomuceno.
Projeto arquitetônico permite características singulares
Nepomuceno lembra que o Teatro Guaíra, projetado em estilo moderno por Rubens Meister, possui características singulares, como uma sala em formato de leque e camarotes laterais e balcões, além de grande capacidade – de 2.173 espectadores só no grande auditório. Essa configuração, combinada com o cuidado com materiais e tecnologias de difusão e absorção sonora, faz da acústica do espaço uma das melhores do Brasil. “É um primor da arquitetura”, elogiou.
Relatos de artistas e técnicos, aliados a estudos de acústica feitos por professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), reforçam que, graças ao projeto arquitetônico e ao rigor técnico, tanto o Guairão quanto o Guairinha proporcionam experiências sonoras diferenciadas.
“A noção de espacialidade do som é algo relativamente recente. O Teatro Guaíra está entre os quatro melhores teatros do País, mas é preciso lembrar que o prédio foi construído na década de 1950, precisa ser modernizado para se adequar às exigências artísticas contemporâneas, respeitando suas particularidades”, ponderou.
Com informações da Agência Estadual de Notícias