Os torcedores do Coritiba de 40 anos atrás viveram a maior glória dos quase 116 anos de existência do clube. E pelo tanto de relatos que já ouvi e contei em reportagens, até parece que a maioria das cerca de 100 mil pessoas que estavam no Maracanã em 31/07/1985 torciam pelo Coxa. Não foi bem assim.
O Bangu não tinha um enorme contingente de fãs, mas era um time poderoso na época. Bancado pelo dinheiro do contraventor Castor de Andrade, batia de frente com os grandes do Rio de Janeiro e, para aquela final, cativou a torcida carioca. Em certa cobertura, muitos anos depois, o Carlos Gil, repórter da Globo no Rio, me contou que o pai dele, torcedor do Botafogo, o levou ao jogo. E assim deve ter sido com muitas famílias da Cidade Maravilhosa.
Do lado coxa-branca do Maraca, entre 1,5 mil e 2 mil pessoas pintaram de verde e branco uma pontinha do então “maior estádio do mundo”. Passagem de avião, naquela época, era bem menos acessível do que hoje. O jeito foi a turma se juntar em ônibus, Kombis e carros particulares para desafiar 800 quilômetros passando pela Régis Bitencourt e a Presidente Dutra – imaginem as condições 40 anos atrás.
Boa parte da imprensa curitibana, por exemplo, viajou em ônibus bancado num rateio entre as direções das principais rádios da cidade. Pela TV, meu eterno chefe, Gil Rocha, me contou certa vez que estava no primeiro ano dele na capital, vindo da afilhada de Londrina, e já trabalhou à beira do campo numa final de peso.
Havia uma transmissão local prevista, com a narração de Vinícius Coelho. Mas por problemas técnicos, só entrou no ar no segundo tempo da partida. O primeiro, em cadeia com a rede nacional, foi mesmo com a voz de Galvão Bueno. Na hora da definição da taça nos pênaltis, é bom registrar, já foi o Vinícius que eternizou a conquista para todo nosso Estado.
Conheço uma família que se apertou numa Belina Del Rey, daquelas típicas dos anos 1980, com o porta-malas bem grande. O mais jovem da casa, inclusive, se escondeu sem autorização por ali e só foi descoberto quando era muito longe pra voltar.
Não existia GPS nem qualquer outra modernidade, que fosse além do rezar para aparecer uma placa ou parar pra perguntar. Pelos relatos, logo vários torcedores foram se encontrando pelo caminho e ninguém perdeu a manhã de sol agradável na Orla de Copacabana. Horas depois, todos ao Maracanã. Onde a história seria escrita.
Outros esquadrões paranaenses já tinham feito bonito em anos anteriores. O próprio Coxa tinha ganhado o Torneio do Povo em 1973 – merece respeito, é claro, mas não era Brasileirão -, além de ter atingido duas semis do Brasileirão, em 1979 e 1980. O Londrina também ficou na semi em 1977 e o Athletico em 1983. Mas o primeiro campeão paranaense da elite nacional, a Taça de Ouro, como era chamada à época, foi o Coritiba de 1985.

Rafael, André, Gomes, Heraldo e Dida; Marildo, Almir e Tobi; Edson, Lela e Índio. Sem esquecer de nomes importantes daquele elenco, como Jairo, Gerson, Vavá, Hélcio, Marco Aurélio, Caxias, Eliseu e vários outros, além do técnico Ênio Andrade e sua comissão. Vocês colocaram não só o Coritiba, mas também todo o Estado do Paraná no mapa do futebol brasileiro.
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Robson De Lazzari é jornalista esportivo há mais de 25 anos. Formado pela Universidade Tuiuti do Paraná. Antes mesmo de terminar a graduação já transmitia jogos de futsal e futebol no rádio. Com cursos especializados como da Indústria do Futebol, atuou em cinco emissoras radiofônicas diferentes de Curitiba como repórter.
Também tem experiência em jornal impresso e em portal de notícias pela Gazeta do Povo. Na televisão foi repórter da RPC (afiliada da Rede Globo), SporTV e Rede Massa (afiliada do SBT). Atualmente é comentarista na Rádio Transamérica, na TV Paraná Turismo, na Rede CNT e na FPF TV.