Curitiba respira inovação — e é claro que há quem diga que respiramos também um pouco de frieza e formalidade, mas, bem, isso faz parte do charme curitibano. Quando olhamos para o Paraná como um todo, o cenário da empregabilidade é, sem dúvida, promissor: mais de 79 mil vagas formais criadas só entre janeiro e abril de 2025. Um saldo invejável, que coloca o estado entre os protagonistas nacionais.
Mas vamos direto ao ponto: vaga aberta não significa vaga acessível a qualquer um. O mercado mudou e exige mais, observa mais, desconfia mais. Ser bem-sucedido hoje, ou seja, ter empregabilidade, exige um repertório mais amplo e atualizado — e, principalmente, saber se movimentar num ambiente híbrido e digital onde as regras estão em permanente revisão.
Empregabilidade, afinal o que é?
A palavra “empregabilidade” é grávida, hehehe…. Ela traduz a capacidade que uma pessoa tem de se manter relevante, desejada e apta a ocupar posições no mercado de trabalho, independentemente das condições econômicas ou transformações tecnológicas. Trata-se de reunir conhecimentos, habilidades, atitudes e relacionamentos que ampliam suas chances de conquistar e manter oportunidades — hoje e no futuro.
Um dado que sempre me chama atenção — e deveria preocupar quem ainda resiste a se atualizar — é que metade dos profissionais brasileiros já desistiu de participar de um processo seletivo por não se sentir preparado tecnicamente. E nem estamos falando de alta tecnologia ou inovação disruptiva: falo de análise de dados, interpretação de métricas, familiaridade com ferramentas digitais básicas e inteligência artificial, que já não são tendências — são o presente.
E quando se trata de Curitiba e Paraná, há nuances interessantes. Por aqui, apesar de termos empresas familiares fortes e setores mais tradicionais, existe uma pressão crescente por digitalização, automação e produtividade baseada em dados. Seja na indústria, no comércio ou nos serviços, as competências digitais se tornaram obrigatórias.
Mas, além da competência técnica, há outro fator que segue decisivo e, curiosamente, pouco reconhecido: o networking. As boas e velhas conexões entre pessoas. Um levantamento recente confirma que cerca de 70% das vagas no Brasil ainda são preenchidas via indicação — e no Paraná, esse percentual pode ser ainda maior quando consideramos o peso cultural das relações locais.
Para quem acha que networking é só evento corporativo com gente trocando cartões, é bom revisar conceitos. Networking é presença ativa, genuína, construção de confiança. É sobre frequentar, participar, contribuir, ser lembrado. Não adianta ser competente se você não for visível — e essa regra vale para jovens recém-formados e para profissionais experientes.
Outro dado relevante: as Agências do Trabalhador do Paraná recolocaram mais de 72 mil pessoas só neste ano, mostrando que o Estado sabe usar bem suas redes formais de intermediação de trabalho — mais que São Paulo, mais que qualquer outro Estado. Isso revela um traço cultural forte: o Paraná valoriza a intermediação estruturada e as relações locais como estratégia para gerar empregos.
Eu, aos 47 anos e carregando uma trajetória cheia de reinvenções, posso afirmar sem hesitação: empregabilidade no Paraná exige mais que um bom currículo. Exige atualização constante, capacidade de aprender (e de se desapegar de velhos hábitos) e habilidade para desenvolver sua rede de conexões, seu networking — não apenas virtualmente, mas na rede real, viva, que conecta interesses, pessoas, empresas e comunidades.
A boa notícia é que Curitiba e o Paraná oferecem terreno fértil para isso. A má notícia é que quem se acomodar vai ficar para trás — e nem vai perceber o momento em que ficou. O mercado não quer perfeição: quer disposição, curiosidade, resiliência e capacidade de relacionamento.
Portanto, se posso deixar um conselho a quem busca prosperar no mercado de trabalho com um todo é simples, mas certeiro: não basta ser bom — é preciso ser bom, atualizado e bem conectado.
Fernanda Alves Chaves é especialista em Gestão de Pessoas, fundadora da DualFusion e diretora da ABRH-PR há mais de 30 anos. www.linkedin.com/in/fernandaalveschaves/