Há duas décadas a dúvida paira na cabeça de qualquer atleticano. E se a primeira partida da final da Libertadores de 2005 fosse na Arena da Baixada? O resultado seria diferente? O Furacão teria mais chances contra o São Paulo?
São perguntas que nunca saberemos as respostas. Mas, o time que nunca tinha ido tão longe em uma competição internacional, chegou na sua primeira final. Não venceu, mas durante a campanha encheu seus torcedores de orgulho. E no fim daquela história, sem poder jogar em casa, viu todos engolirem seco uma boa dose de raiva.
Eu, um jovem repórter de 26 anos, tinha na época apenas seis meses de trajetória na histórica redação da Gazeta do Povo. Estava longe de ser o mais indicado para cobrir os feitos de Diego, Lima, Aloísio e cia…
Mas, com tanta confusão nos bastidores às vésperas do primeiro jogo decisivo, fui escalado pra reforçar a cobertura no entorno do estádio. A ideia era também acompanhar as obras das arquibancadas tubulares. Estruturas erguidas de última hora para aumentar a capacidade da Arena e atender aos requisitos do regulamento da Conmebol (Confederação Sulamericana de Futebol).
72 horas antes da final, já se sabia que a armação provisória não tinha sido liberada. A Arena estava vetada da final e o Athletico teria de mandar seu jogo decisivo contra o São Paulo no Beira-Rio, em Porto Alegre.
A revolta foi geral. Com meu bloquinho e caneta Bic, bem tradicional dos repórteres de jornal de 20 anos atrás, estava pertinho do líder da torcida organizada quando ele subiu o tom em frente ao estádio e bradou: “Na viagem pra Porto Alegre só embarca quem puder deixar a carteira de identidade em casa. É jogo de revolta. Só vão os descartáveis”.
Eu já estava satisfeito de estar cobrindo aquele momento histórico pro futebol do Estado. E fiquei ainda mais em êxtase quando fui informado que viajaria pra fazer a cobertura in loco no Rio Grande do Sul. Os repórteres mais experientes foram de avião, fazendo todo acompanhamento do time do Athletico desde a véspera da partida. Eu e dois colegas fotógrafos, fomos de carro vendo de perto a aventura da torcida rubro-negra.
No posto da Polícia Rodoviária em Tijucas do Sul (ainda perto da saída de Curitiba) contei 71 ônibus abarrotados com atleticanos. Ao todo, mais de dez mil rubro-negros foram ao Beira-Rio. Lembro bem da matéria destacando a massa que foi ao Rio Grande do Sul. E também da matéria de apoio que fiz após o jogo com as declarações dos destaques do Athletico naquela noite. Diego fez boas defesas e Aloísio o gol do Furacão no empate por 1 a 1. “Um herói em cada área”, foi o título escolhido pelo meu eterno editor-chefe Leonardo Mendes Júnior.
No jogo da volta fui escalado pra acompanhar a torcida que veria o jogo em um telão na Arena da Baixada. Vi de perto o desespero geral quando Fabrício perdeu um pênalti e a decepção com a goleada de 4 a 0 sofrida no Morumbi. Fiquei chateado, lamentando que provavelmente não cobriria novamente um time do estado em uma final internacional. Como todos sabem, eu estava enganado.
Duas décadas se passaram. O São Paulo está celebrando mais um aniversário do Tri da Liberta. E os atleticanos lembrando do gosto amargo da derrota entre o orgulho e a raiva.
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Robson De Lazzari é jornalista esportivo há mais de 25 anos. Formado pela Universidade Tuiuti do Paraná. Antes mesmo de terminar a graduação já transmitia jogos de futsal e futebol no rádio. Com cursos especializados como da Indústria do Futebol, atuou em cinco emissoras radiofônicas diferentes de Curitiba como repórter.
Também tem experiência em jornal impresso e em portal de notícias pela Gazeta do Povo. Na televisão foi repórter da RPC (afiliada da Rede Globo), SporTV e Rede Massa (afiliada do SBT). Atualmente é comentarista na Rádio Transamérica, na TV Paraná Turismo, na Rede CNT e na FPF TV.