José Manuel Barbosa
Texto autoral, com revisão ortográfica via IA
Curitiba acaba de dar mais um passo importante ao oficializar, por meio da Câmara Municipal, o Mês do Empreendedorismo Feminino, que será celebrado anualmente em novembro. Uma excelente iniciativa que busca reconhecer e fortalecer o papel das mulheres nos negócios e na economia local, algo mais do que necessário se quisermos que a cidade continue sendo referência em inovação e desenvolvimento sustentável.
O movimento é mais do que bem-vindo, pois o avanço da participação feminina em posições de liderança e nos conselhos empresariais ainda é mais lento do que deveria. No Brasil, somente 12% das cadeiras em conselhos de administração são ocupadas por mulheres e, quando se fala de conselheiras independentes, o número é ainda menor. Esses e outros dados estão na pesquisa Women at the Top, conduzida pelo Evermonte Institute, que investigou as barreiras, trajetórias e estratégias que marcam a presença de mulheres nesses espaços de influência e poder.
Outro dado relevante da pesquisa mostra que as mulheres que alcançam essas posições têm, em média, 49% mais experiências profissionais e 87% mais certificações do que seus pares masculinos. Ou seja, elas chegam mais preparadas, mais qualificadas, mais atualizadas e, ainda assim, continuam sendo minoria.
Algumas das principais barreiras apontadas pela pesquisa são:
- Isolamento: muitas ainda são as únicas mulheres nos conselhos, o que aumenta a pressão e o sentimento de solidão;
- Nomeações informais: as redes de indicação são em grande parte masculinas, limitando o acesso das mulheres;
- Percepção de comportamento: atitudes assertivas, por exemplo, são frequentemente vistas como agressividade quando partem de mulheres, enquanto são consideradas liderança quando partem de homens.
Apesar disso, os benefícios de ter mulheres dividindo as posições de liderança com os homens são claros. Conselhos com mulheres usam melhor a empatia para conduzir mudanças, possuem uma visão de longo prazo mais sólida, têm foco em sustentabilidade, inclusão e igualdade e, principalmente, desenvolvem uma escuta ativa em todos os níveis da organização, não apenas no topo. Essas competências são cada vez mais valiosas em um mundo empresarial que busca não apenas lucro, mas também propósito e impacto social. Veja o caso da CEO da Uber no Brasil, que, volta e meia, pega o carro e, sem que ninguém saiba, faz corridas para ouvir os passageiros.
No contexto curitibano, as iniciativas públicas e privadas só têm a ganhar ao conectar a pauta do empreendedorismo e da liderança feminina à vocação da cidade para a inovação, principalmente porque temos muitos nomes femininos de peso que estão ou já passaram pelas lideranças do ecossistema de inovação local.
A iniciativa da Câmara Municipal, que criou o Mês do Empreendedorismo Feminino, serve de inspiração para a criação e aceleração de mais programas e projetos que preparem e posicionem mais mulheres em conselhos, lideranças e startups. O sucesso é garantido, bastando observar modelos de êxito, como o Programa Diversidade em Conselho, do Capítulo do IBGC do Paraná, que pode ser adaptado e ampliado.
O estudo deixa claro que ações isoladas não são suficientes, pois é necessário manter um esforço contínuo de formação, visibilidade e inserção de mulheres em ambientes decisórios desde cedo.
Curitiba, com sua tradição de inovação, criatividade e empreendedorismo, tem a chance de liderar esse grande movimento no Brasil. Se realmente queremos uma economia mais forte, sustentável e inclusiva, não basta celebrar a iniciativa da Câmara; é preciso agir rápido, principalmente na iniciativa privada, uma vez que os números já comprovam que todos têm a ganhar com isso.
José Manuel Barbosa é estrategista de gestão, governança e marketing, com ampla atuação como conselheiro, executivo em posições de C-level e empreendedor. www.linkedin.com/in/jmcbarbosa