A parceria para a construção do primeiro projeto satélite do Centre Pompidou nas Américas foi oficializada na semana passada, com a viagem do governador Carlos Massa Ratinho Junior à França. Previsto para 2027, a obra terá assinatura do arquiteto paraguaio Solano Benítez e vai ficar em Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná.
Benitez é reconhecido por unir saberes tradicionais e soluções contemporâneas em obras de forte impacto social, ele propõe uma arquitetura que valoriza a convivência, a simplicidade e a relação com o território.
O Centro Pompidou Paraná deve ter acessos bastante imersivos, grandes salões que vão ajudar a moldar as exposições e uma área central que funcionará como um ponto de observação e encontros. Mais do que um edifício, Benítez foi convidado para criar um lugar onde as pessoas se sintam parte, no coração da Mata Atlântica brasileira.
Com investimento estimado em cerca de R$ 200 milhões por parte do Governo do Estado, o museu será construído em um terreno cedido pela CCR Aeroportos, ao lado do Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu. A previsão é publicar a licitação ainda neste ano. A inauguração deve ocorrer em 2027.
Base do projeto é o uso de materiais simples
O arquiteto propõe um projeto com base em materiais simples, como o tijolo, produzido com a terra de Foz do Iguaçu – e que pode inclusive ser extraído da própria área onde ele será construído – capaz de dialogar com a paisagem local e com a experiência cotidiana da população.
Para ele, usar o mesmo material que se encontra nas casas da cidade é também uma forma de inclusão. “Se você consegue fazer uma obra extraordinária com aquilo que uma pessoa comum tem à disposição, você está mostrando a ela novas possibilidades de vida”, diz Benítez.
O museu será construído com um sistema que une tijolos romanos e concreto armado, combinando técnicas ancestrais com soluções industriais modernas. A proposta parte da ideia de que não é preciso negar o passado para inovar – mas utilizar-se do conhecimento anterior para avançar a partir ele. “O tijolo tem três mil anos de história. Se eu consigo fazer uma pequena modificação nele, estou respeitando a tradição e, ao mesmo tempo, propondo algo novo”, afirma ele.
Benítez, que venceu o Leão de Ouro na Bienal de Veneza em 2016, é conhecido por criar estruturas com forte apelo estético a partir de elementos simples. Obras como a Escola de Música de Paraguarí, no Paraguai, e o Pavilhão Paraguaio da Bienal de Veneza, erguido com painéis de tijolo moldados à mão, são exemplos de como a sua arquitetura alia beleza, engenhosidade e função social.
Forte integração com o entorno
O projeto do museu foi pensado como um ambiente aberto e acolhedor, com forte integração com o entorno. A proposta inclui praça pública, salas de exposição, biblioteca, restaurante, ateliês educativos, áreas para espetáculos e laboratórios de residência artística. A arquitetura parte das condições reais do território: clima, luz, vegetação, relevo. Tudo isso influencia o desenho do edifício.
“O vínculo com a natureza precisa estar presente”, diz o arquiteto. “Não se trata apenas de usar materiais sustentáveis, mas de criar uma lógica de construção que faça sentido para o lugar, que é uma região quente, úmida”.
A concepção da arquitetura do museu se baseia em uma pele de painéis de tijolo, que concentra as circulações verticais e horizontais, envolve os principais espaços do museu e cria um microclima artificial no interior do edifício.
Para o arquiteto, a sustentabilidade não está apenas nos certificados construtivos ou no uso de determinados insumos. Está, acima de tudo, na forma como se pensa a construção. “Se a gente quer falar de sustentabilidade de verdade, é preciso olhar para as arquiteturas indígenas. Elas têm séculos de sabedoria acumulada e lidam com o ambiente de maneira muito mais respeitosa”, diz.

A arquitetura do museu utiliza, pela primeira vez em maior escala, estratégias e técnicas construtivas desenvolvidas por Benítez no contexto local do Paraguai, como a pré-fabricação de módulos de alvenaria e o uso de painéis de tijolo como fôrma para a estrutura de concreto.
O projeto do museu caminha nessa direção: aproveita os recursos locais, evita excessos e valoriza técnicas que envolvem a comunidade. “Não quero discutir se as mudanças climáticas são causadas pelo ser humano ou fazem parte de um ciclo. O que importa agora é como a gente pode usar isso para melhorar a vida das pessoas”.
Outro fator que é levado em conta pelo arquiteto é a localização geográfica do museu, ao lado do Parque Nacional do Iguaçu. Para Benítez, a floresta, assim como as pessoas, deve se integrar naturalmente ao espaço, sem uma definição clara de ‘dentro’ ou ‘fora’.
Como parte deste conceito, o projeto integra e incorpora a mata resiliente – que nasce espontaneamente no terreno do museu – ao espaço do edifício, propondo um paisagismo integrado ao percurso do visitante e aos programas públicos no nível térreo.
Olhar para a identidade regional
Para Carolina Loch, diretora de implantação do Centro Pompidou Paraná, o projeto terá características bastante singulares, tendo a arquitetura em si como atrativo, assim como o prédio disruptivo e “high tech” do Pompidou em Paris, mas acima de tudo será palco para conexões culturais.
“Nas últimas semanas estamos ouvindo a sociedade de Foz do Iguaçu e região para construir um museu que pertence às pessoas, que reflete suas histórias e atende suas necessidades. Estar próximo à população é fundamental para garantir que esse espaço seja vivo, plural e conectado”, explica.
A unidade do Pompidou em Foz terá como foco a arte moderna e contemporânea, mas também será um espaço de formação, intercâmbio e experimentação. A curadoria será feita em conjunto com a equipe francesa, com destaque para a produção latino-americana. O museu deve receber parte do acervo do Pompidou exposições que dialoguem com o Sul Global.
Foz do Iguaçu, por sua diversidade cultural e localização estratégica na Tríplice Fronteira, é um símbolo do encontro de diferentes povos. O museu pretende refletir essa pluralidade, mas também servir como um exemplo mais universal da experiência humana. “A presença de comunidades árabes, libanesas, asiáticas, brasileiras, paraguaias e argentinas precisa se traduzir em um espaço no qual todos se sintam bem-vindos”, destaca.
Com informações da Agência Estadual de Notícias