Recém-saído do cargo de prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PSD) tem afirmado a quem quiser ouvir que deseja concorrer ao Governo do Estado nas eleições do ano que vem. Anteriormente cotado para a Secretaria das Cidades no governo Ratinho Junior, agora vê a posição em risco. Mas, não parece estar intimidado. Nesta terça-feira (19), em entrevista à repórter Rafaela Moron, do RIC Notícias e da Jovem Pan News, aproveitou para mandar um recado: “Eu não tenho que provar mais nada. Inclusive, tenho a possibilidade de ser candidato sem entrar em governo algum”. Assista à entrevista na íntegra abaixo.
“Eu particulamente tenho uma profunda vontade de servir. Se eu puder servir, e se acharem que vou, me colocando a serviço naquilo que eu sei fazer, que é cuidar das cidades, me chama que eu vou“, disse ele, evocando, talvez sem querer, talvez não, o bordão de seu ora adversário, ora aliado, Roberto Requião — ex-prefeito de Curitiba que trilhou o caminho pretendido por Greca: do Palácio 29 de Março, sede da prefeitura da capital, para o Palácio Iguaçu, sede do Governo do Paraná.
O cenário para a disputa em 2026 está diretamente relacionado ao atual governador, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD). Com alta aprovação no Estado, seu apoio certamente terá papel importantíssimo na eleição do sucessor. Vale lembrar que atuar por quatro anos na Secretaria das Cidades (2015-2018), que teria sido prometida a Greca na vinda do ex-prefeito ao PSD, foi o que cacifou Ratinho para assumir o Paraná, ao vencer as eleições em 2018.
Mas, como disse o mesmo Greca na entrevista de terça, “política é a arte do possível”. E a eleição municipal de 2024 mudou os planos do grupo político do governador. O ex-prefeito saiu em baixa mesmo elegendo seu vice, Eduardo Pimentel (PSD), em Curitiba. A atuação de Greca no primeiro turno foi considerada desastrosa e o presidente da Assembleia Legislativa, Alexandre Curi (PSD), foi chamado para “salvar a lavoura” no segundo turno, revertendo uma iminente derrota para Cristina Graeml, do nanico PMB, com ajuda de todo o staff de Ratinho Junior.
Houve fraturas. E a Secretaria das Cidades, que tem capacidade de penetração em todo o Estado, passou a ter novo favorito: Guto Silva (PSD), atual titular do Planejamento. Com isso, ele virou o Plano A de Ratinho Junior para a disputa pelo governo em 2026. A Greca foram oferecidas outras opções: as secretarias do Desenvolvimento Sustentável, da Cultura e do Turismo — só que, como ele mesmo disse, sem muitas entrelinhas, quer ser colocado no que “sabe fazer”, que é “cuidar das cidades”.
Com a mudança no favoritismo de Ratinho, Guto Silva terá a chance de se redimir. Em 2022, o então deputado estadual, e chefe da Casa Civil da Ratinho, tentou, de todas as formas, viabilizar-se como candidato ao Senado. Seu nome não deslanchou, a candidatura não saiu do papel e Guto não disputou sequer a reeleição para a Assembleia Legislativa: dedicou-se à coordenação da campanha de reeleição do atual comandante do Estado.
Guto deve assumir a pasta das Cidades na reforma do secretariado do Governo do Paraná, que ainda não tem data definida. Entre as mudanças que fazem parte do xadrez político para 2026, o atual secretário do Turismo, Márcio Nunes (PSD), deve assumir a também poderosa Secretaria da Agricultura e Abastecimento. A intenção é que ele consiga se fortalecer para disputar o Senado.
Quem corre por fora na disputa pelo governo
Além de Greca e Guto Silva, a disputa pelo Palácio Iguaçu em 2026 também conta com Alexandre Curi, o atual presidente da Assembleia Legislativa. Com um currículo político destacado e os serviços prestados na eleição em Curitiba, o deputado conta com apoio de mais de 170 prefeitos e tem condições — e vontade — de colocar seu nome na urna eletrônica para a disputa.
A indefinição no campo dos aliados de Ratinho dá brechas para outros concorrentes. Liderando as intenções de voto, o senador Sergio Moro (União Brasil) ainda tem um longo caminho pela frente, mas fatalmente estará na disputa. Com mais quatro anos de mandato pela frente no Senado, é cômodo para o ex-juiz da Lava Jato lançar a candidatura.
Outro nome com boa pontuação nas pesquisas preliminares é da jornalista Cristina Graeml, que deixou o nanico PMB e se filiou ao Podemos. A ida ao segundo turno em Curitiba — bem como o conhecimento entre bolsonaristas — colocou-a no radar da disputa, embora ainda não esteja claro se ela vai se arriscar ao governo quando o Senado terá duas vagas em disputa em 2026.
E a esquerda?
Perdendo de lavada para Ratinho Junior nas últimas duas eleições, a esquerda tem (mais uma) tarefa ingrata no ano que vem. Não bastasse o Paraná ser um Estado majoritariamente de direita, o governador tem base ampla nos municípios e alta aprovação, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem avaliação péssima de quase 60% entre os paranaenses, segundo pesquisa Genial/Quaest de fevereiro deste ano.
Na eleição municipal de 2024, a esquerda só teve chances de ganhar em uma das maiores cidades do Estado — Guarapuava. Nem mesmo um nome mais moderado em Curitiba — Luciano Ducci (PSB) — rendeu frutos. Neste cenário, é de se esperar mais uma candidatura de “sacrifício”, com baixas chances de sucesso.
Resta saber quem assumirá essa tarefa: o deputado federal Zeca Dirceu e o diretor-presidente da Itaipu Binacional, Ênio Verri, são os nomes do PT. Enquanto o deputado estadual Requião Filho, que busca uma justa causa para se desfiliar do PT, e conversa com outros partidos, principalmente o PDT, também procura seu espaço.