Apesar de ainda estar em construção, a Ponte de Guaratuba já está afetando o mercado imobiliário da região. De acordo com especialistas do setor, a valorização dos imóveis, sejam os já construídos ou os lançamentos, é acompanhada pelo aumento no padrão de novos empreendimentos e na mudança de perfil do público comprador.
Segundo estimativas da Associação de Corretores de Imóveis de Guaratuba (Associg), o mercado de alto padrão já cresceu cerca de 40% na cidade, mais do que o dobro do registrado em imóveis de padrão médio, com 15%. O número segue uma tendência observada pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) ainda antes do início das obras, que apontava valorização de 20% no mercado imobiliário local.
O tipo de empreendimento construído na cidade tem mudado. Antes com um perfil de imóveis de baixo e médio padrão, a cidade agora vive um boom com a construção de edifícios de luxo, de alto padrão aquisitivo, com unidades acima de R$ 1,5 milhão, chegando a até R$ 6 milhões em empreendimentos já finalizados.
O valor do metro quadrado para imóveis desta categoria subiu na comparação entre os períodos pré e pós-pandemia. Em 2019, a média de preço variava de R$ 5 a R$ 6 mil. Hoje, alcança cerca de R$ 10 mil o metro quadrado
Essa valorização dos imóveis tem acontecido, principalmente, em duas regiões de Guaratuba: a central e a de faixa de areia. Hoje são poucos os terrenos à venda nesses locais, e os que ainda não foram comprados tiveram aumento significativo no preço.
Duas câmeras monitoram a construção da Ponte de Guaratuba em tempo real
“Na região central você até tem terrenos, mas quando vamos pesquisar ele já está permutado com alguma construtora. A tendência é de, mais para frente, começarem a construir um pouco mais afastado”, explica Cleide. Ela é sócia de uma imobiliária em Guaratuba e já pensa em expandir os negócios. “Tenho colegas que têm imobiliária em Caiobá que estão vindo investir em Guaratuba e vice-versa. Hoje minha empresa está só em Guaratuba, mas com a construção da ponte, de repente, poderemos atuar em todo o Litoral”.
Público
Antes mais restrita ao período de temporada, entre os meses de dezembro a fevereiro (ou março, dependendo do Carnaval), a movimentação no Litoral, em especial Guaratuba, tem crescido durante outras épocas do ano.
A chegada de novos empreendimentos ajuda também a solucionar um problema causado pela alta procura: a falta de imóveis para alugar por períodos mais longos, além da temporada, para atender ao público que planeja construir a vida na cidade. Imobiliárias antes especializadas em contratos de aluguel de 30 a 60 dias hoje trabalham com a locação por períodos de seis meses a um ano.
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De acordo com Vânia, esse movimento deu-se, sobretudo, durante a pandemia da Covid-19. “A gente viu esse crescimento exponencial no período. Muita gente veio para o Litoral durante a pandemia para morar. As pessoas estão optando pelo home office, então elas não se importam se estão em Curitiba ou em grandes centros. Acabam preferindo uma cidade que oferece qualidade de vida melhor, como no Litoral”, afirma.
Outro destaque é a chegada de novas construtoras e incorporadoras, que com os recentes investimentos em infraestrutura apostaram na mudança de perfil de público, o que tem se concretizado. “Tem chegado investidores e novas incorporadoras, centradas em áreas de maior poder aquisitivo. A cada dia que ando pela cidade me surpreendo com uma placa de uma nova construtora, com a busca sempre pelas áreas centrais e na faixa de areia, não mais que duas quadras”, explica.
Esse movimento de mercado também foi observado pela vice-presidente da ACIG. “Tenho acompanhado a chegada de novas construtoras que mostraram esse interesse já enxergando essa mudança, essa transformação que vai ter. Agora que nós vamos entrar no alto padrão. Não tinha esse tipo de empreendimento aqui, não tínhamos essa tendência. Era do baixo para o médio padrão”, complementa Cleide.
Novos prédios
Com o crescimento do mercado imobiliário, o número de prédios em Guaratuba também aumentou. Em 2017, havia 156 edifícios com quatro pavimentos ou mais na cidade. Três anos depois, em 2020, eram 163, crescimento de 4,4%. Já neste ano são 190 prédios, entre concluídos, em execução e aqueles que possuem alvará de construção para início das obras, volume 16% maior quando comparado a 2020 e crescimento de 21% em relação ao total de 2017.
Plano diretor de Guaratuba
No final de 2023, com a aprovação do novo Plano Diretor, ficou definida a permissão de empreendimentos de, no máximo, três pavimentos à beira-mar. O objetivo é evitar o que ocorreu em outras cidades litorâneas pelo Brasil, com a sombra dos prédios sobre a faixa de areia. A restrição também se aplica à Baía de Guaratuba.
Nas avenidas Paraná, Visconde do Rio Branco e Damião Botelho de Souza, por exemplo, é possível a construção de edifícios de até 16 pavimentos. Antes era permitido, no máximo, 10 andares. “Os construtivos verticais só podem ser feitos na parte central da cidade, que hoje seria na linha da Avenida Paraná e até quatro quadras para a baía e de quatro a seis quadras para faixa da areia da praia, cuidando de toda essa preservação”, detalha Vânia.
Isso ajuda a direcionar o mercado imobiliário e o crescimento da cidade que, com uma legislação específica, consegue planejar sua expansão, de forma coordenada e organizada.
Com informações da Agência Estadual de Notícias