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Pesquisa da UEM vira modelo mundial para enfrentamento da tuberculose

Da esquerda para a direita, Lucas Vinícius de Lima, Gabriela Magnabosco e Gabriel Pavinati, pesquisadores integrantes do Gepvhat/UEM. Três pessoas posam em frente à placa com direções. As duas pessoas às pontas têm apresentação masculina e vestem camisetas pretas, a pessoa ao meio tem apresentação feminina e veste um paletó branco.
O grupo de pesquisadores exibiu o método em painel da Organização Mundial da Saúde - Foto: Universidade Estadual de Maringá

Um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) ganhou destaque internacional por desenvolver uma metodologia inovadora de combate à tuberculose no Brasil, colaborando diretamente com o Ministério da Saúde (MS). No final de junho, o método foi apresentado durante um painel da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Daca, capital de Bangladesh pela consultora técnica do MS Tiemi Arakawa.

O diferencial da equipe do Grupo de Estudos e Pesquisas em Vigilância do HIV/Aids e da Tuberculose (Gepvhat/UEM) foi a criação de uma metodologia própria que combina análise qualitativa e quantitativa das políticas públicas voltadas para a eliminação da tuberculose.

Além de seguir o checklist do Marco de Rendição de Contas da Tuberculose (MAF-TB), uma ferramenta criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018 para verificar as ações de cada país no enfrentamento à doença, os pesquisadores realizaram entrevistas com diversos agentes envolvidos no combate à tuberculose, permitindo uma compreensão mais profunda sobre a eficácia das ações implementadas.

Consultora técnica do Ministério da Saúde, Tiemi Arakawa apresentou a metodologia dos pesquisadores da UEM durante painel da OMS em Bangladesh – Foto: Universidade Estadual de Maringá

Foram entrevistadas, ao todo, 19 pessoas, em quatro grupos focais estabelecidos pela pesquisa – membros da sociedade civil; gestores municipais e estaduais de saúde; gestores federais de saúde; e pesquisadores da área.

Na composição do primeiro grupo focal participaram quatro representantes de Organizações Não Governamentais (ONGs) que lutam pelos direitos da pessoa com tuberculose no Brasil. Já entre os gestores municipais, estaduais e federais de saúde foi possível reunir, ao menos, um agente público de cada região do país, totalizando 13 participantes. Dois pesquisadores compuseram o quarto grupo.

O trabalho, que recebeu apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), foi apresentado como um exemplo a ser seguido por demais países prioritários no combate à doença.

Método diferencial

A Gepvhat/UEM se apoiou em depoimentos diversos para identificar os avanços, os desafios e a eficácia das políticas públicas propostas pelo Ministério da Saúde nos últimos cinco anos, na perspectiva dos públicos consultados. Conforme Magnabosco, coordenadora do Gepvhat, a metodologia permitiu que o grupo de pesquisadores compreendesse, para além dos resultados, os motivos pelos quais determinadas ações do ministério não tiveram o efeito prático esperado.

“Fizemos a parte quantitativa, que computava e classificava o número de estratégias e políticas de controle da doença desenvolvidas pelo Ministério no país, mas tivemos a sacada de entender que isso era pouco. Por meio de uma análise qualitativa, conseguimos atingir a subjetividade, a percepção de pessoas chave envolvidas, para entender se tais ações estão representando, de fato, a realidade”, disse.

A metodologia elaborada pela Gepvhat/UEM foi única no mundo todo: somente o Brasil aplicou o MAF-TB junto a uma análise qualitativa, o que chamou a atenção do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Além da coordenadora, o desenvolvimento do trabalho também contou com a participação dos estudantes Gabriel Pavinati e Lucas Vinícius de Lima. Ambos são doutorandos pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PSE) da UEM.

“Ouvir diferentes opiniões e perspectivas sobre um mesmo tema enriquece muito a discussão. E, com isso, repensamos, também, os nossos valores. Experimentar tudo isso no olhar do outro proporciona um crescimento muito grande, não só acadêmico, mas também profissional e pessoal”, destacou Pavinati.

“Na pós-graduação, estávamos muito envolvidos com pesquisas epidemiológicas, trabalhando com bancos de dados, uma coisa, talvez, mais fria. O ponto mais importante, para mim, foi ter essa imersão muito grande em diferentes olhares e nos entraves do serviço”, acrescentou Lima.

Resultados

Através de transcrições das entrevistas, foram identificadas as semelhanças e divergências nas opiniões dos entrevistados. Isso tornou possível mapear a percepção quanto aos avanços e os problemas do enfrentamento à tuberculose em cada contexto de atuação.

Entre os principais desafios que a pesquisa pôde identificar, está a dificuldade em tornar as estratégias e recomendações propostas pelo Ministério da Saúde uma realidade no dia a dia dos agentes de saúde estaduais e municipais. É o que os pesquisadores chamam de “transferência da política”, algo que apareceu várias vezes nas entrevistas.

“As ações dificilmente chegam à ponta do sistema, e quando chegam são dissolvidas nas demais demandas ou desconsideradas em detrimento de outras prioridades. E isso não ocorre só com a tuberculose, mas de forma geral na saúde”, argumentou Magnabosco.

Na mesma linha, outra problemática notada pelos cientistas foi a alta rotatividade profissional no sistema de saúde. A troca constante de trabalhadores diminui a eficácia de ações de capacitação e educação profissional para a aplicação efetiva das políticas de resposta à doença.

Todos os resultados obtidos foram encaminhados ao Ministério da Saúde na forma de um relatório. Para fevereiro de 2025, está prevista uma segunda fase da pesquisa, com entrevistas presenciais. Conforme os pesquisadores, a nova etapa deve abranger, também, outros dois grupos focais: representantes do Congresso brasileiro e pessoas afetadas pela doença.

Combate à tuberculose

Em 2022, quase 10,6 milhões de pessoas tiveram tuberculose no mundo, resultando em 1,3 milhão de mortes, segundo a OMS. O Brasil, responsável por um terço dos casos nas Américas, está entre as 30 nações que concentram 87% dos casos globais.

A tuberculose, causada pelo bacilo de Koch, é a doença de agente único que mais mata no país, com 81 mil novos casos e 5.845 óbitos em 2022. Localmente, o Paraná tem taxa de incidência da doença menor que a média brasileira – 19,3 casos a cada 100 mil habitantes, contra 37 do País. Ainda assim, algumas regiões do Estado apresentam média similar ou superior à taxa nacional.

Para eliminar a doença até 2030, o Brasil precisa reduzir os óbitos a menos de 230 por ano e os casos a 10 por 100 mil habitantes.

Os principais sintomas incluem tosse persistente, febre, suor noturno, perda de peso e fadiga, e a transmissão ocorre por vias respiratórias, tornando a doença altamente contagiosa.

O diagnóstico precoce, tratamento adequado, vacinação em massa com BCG e a redução de fatores de risco (como HIV e vulnerabilidade social) são essenciais para controlar a tuberculose.

A coordenação de ações de saúde com políticas públicas de assistência social é crucial para eliminar a doença, que afeta principalmente grupos vulneráveis.

GEPVHAT/UEM

Criado em 2021, o do Grupo de Estudos e Pesquisas em Vigilância do HIV/Aids e da Tuberculose é um dos principais grupos de estudo do tema no Brasil. Apesar da pouca idade, o Gepvhat/UEM já assinou diversos estudos e artigos científicos em publicações relevantes da área da saúde.

O objetivo do grupo é fomentar a produção de conhecimentos relacionados à vigilância, ao manejo, ao cuidado e à educação em HIV/Aids e tuberculose nos serviços e sistemas de saúde. As pesquisas abordam contextos sociais, políticos, econômicos e culturais das doenças, por meio de estudos quantitativos e qualitativos.

Certificado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Gepvhat/UEM reúne, atualmente, 23 pesquisadores, entre docentes e estudantes de graduação e pós-graduação da Universidade. Vinculado ao Departamento de Enfermagem (DEN) e ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PSE) da UEM, o grupo também faz parte da Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose (Rede-TB).

Com informações da Agência Estadual de Notícias.

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