O primeiro debate entre os candidatos à Prefeitura de Curitiba foi realizado na noite desta quinta-feira (8) na Band. E o que o curitibano que aguentou ficar acordado até a 0h30 do dia seguinte viu foi uma troca de ideias civilizada, com ataques moderados, algumas propostas e até um embate mais acalorado de comparação de gestões entre o candidato da situação, Eduardo Pimentel (PSD), e o principal nome da oposição, Luciano Ducci (PSB).
O debate da Band sofreu uma baixa pouco antes de começar. A diretoria jurídica da emissora resolveu barrar a participação de Cristina Graeml (PMB), que enfrenta questionamentos internos da Executiva Nacional de seu partido, com judicialização de seu registro de candidatura.
O formato do programa, que permitia em teoria que um candidato fosse perguntado por todos os outros, de forma ilimitada, poderia prenunciar um fogo cerrado contra Eduardo Pimentel, que além de atual vice conta com o apoio não só do prefeito Rafael Greca (PSD) como do governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD). Mas não foi o que aconteceu. Pimentel até foi mais questionado que outros candidatos, mas as perguntas foram distribuídas entre quase todos.
Como dois dos naturais favoritos na disputa, Pimentel e Ducci se enfrentaram em algumas oportunidades, trocando comparações de gestões, pois o candidato do PSB governou Curitiba por dois anos, de 2010 a 2012, quando Beto Richa (PSDB) deixou a prefeitura e se elegeu governador do Paraná.
Nos embates mais acalorados, os temas escolhidos foram saúde e mobilidade urbana. Ducci, que é médico, criticou o estado da saúde da capital, com ênfase na fila das especialidades. Pimentel rebateu com a proposta de construção de um novo hospital e um novo centro de diagnóstico por imagens – plano semelhante ao de Ducci para o problema.
Em troco, o candidato do PSD criticou o adversário pelo plano frustrado de construção de um metrô em Curitiba, com menção inclusive ao lançamento do projeto por duas vezes na gestão Gustavo Fruet (PDT), do mesmo partido do vice de Ducci. Pimentel ressaltou o alto custo de um projeto de transporte subterrâneo, a que o candidato do PSB respondeu como sendo um valor de financiamento possível com o tamanho do orçamento do governo federal, atualmente comandado pelo PT, partido da coligação dele.
Ambos trocaram mais alfinetadas ao longo do debate, demarcando-se claramente como adversários diretos na disputa pela prefeitura. O projeto de requalificação do Ligeirinho Inter 2 também foi mencionado, com Ducci dizendo que a obra fazia parte de seu plano de governo na eleição de 2012, ao que Pimentel rebateu que apenas a gestão Greca foi capaz de tirar do papel.
E as propostas?
Em meio a discussões mais vagas, algumas propostas surgiram. Ducci, Pimentel e Ney Leprevost (União Brasil) querem transformar a Guarda em Polícia Municipal, uma possibilidade surgida com mudanças na legislação federal. Isso, segundo eles, permitiria um reforço no policiamento ostensivo. Leprevost quer a instalação de um módulo fixo da Guarda por regional e Maria Victoria (PP) criticou a concentração do efetivo da força em bairros centrais.
A candidata do PP, Roberto Requião (Mobiliza) e Leprevost propõem que sejam feitos mutirões para a redução da fila de pessoas à espera de consultas de especialidades no SUS. Pimentel e Ducci foram na linha de propor a construção de hospitais e centros de diagnóstico para atacar o problema.
Andrea Caldas (PSol) e Luizão Goulart (Solidariedade) discutiram de forma mais profunda a questão dos moradores de rua, concordando que um diagnóstico para entender o motivo para cada pessoa estar nessa situação é fundamental para traçar um plano para que ela recupere os laços familiares, tenha apoio para se livrar dos vícios ou se qualifique para voltar ao mercado de trabalho. A candidata do PSol defendeu ainda um reforço na equipe da Fundação de Ação Social (FAS) para fazer frente ao crescente número de pessoas vivendo nas ruas em Curitiba.
Pouco foi discutido a respeito da nova licitação do transporte público, pois o contrato atual vence no primeiro ano de mandato do futuro prefeito. Sobraram críticas à tarifa de R$ 6 – a mais cara entre capitais do Brasil. Ducci foi o único a mencionar a intenção de implantar a integração temporal – modelo onde o passageiro paga uma tarifa e pode embarcar em mais de um ônibus durante um período de tempo, numa contraposição ao modelo de integração física, em terminais. Andrea Caldas, o próprio candidato do PSB e Samuel de Mattos (PSTU) falaram em tarifa zero, sendo que Ducci prometeu a volta da tarifa reduzida aos domingos, chamada de domingueira.
Outro problema crônico da cidade foi discutido de forma mais consistente, e sem surpresas, pelas duas mulheres participantes. Maria Victoria e Andrea Caldas falaram sobre a fila de espera por vagas em creches da capital. Enquanto a candidata do PSol optou por defender um aumento da rede pública, a do PP defende a criação de um vale-creche, para que quem precise possa usar serviços privados. Maria Victoria também defendeu a extensão do horário de funcionamento das creches até 20h, para facilitar a vida de pais e mães.
O que não foi discutido propriamente?
Antes do debate, O Luzeiro elaborou uma lista de assuntos que não poderiam faltar na discussão feita pelos candidatos na TV. Dos assuntos listados, a ausência mais chocante foi de menções ao Plano Diretor da cidade, que será reformulado a partir do ano que vem. É uma das legislações mais importantes de um município, com definições que podem afetar os curitibanos por décadas.
Também não houve debate sobre o esgotamento do sistema viário da cidade, que tem causado engarrafamentos e dificuldade de locomoção. Isso prejudica não só os usuários de carros, mas também quem utiliza o transporte público, com redução das velocidades médias de deslocamento. O fato pode ser atribuído a outro problema enfrentado pela cidade – a queda no número de passageiros atendidos pelo transporte coletivo, com migração para o transporte individual.
Nem mesmo com a proximidade da tragédia das inundações no Rio Grande fez os oito candidatos mencionarem um plano para contenção de cheias na capital. Com as mudanças climáticas, mais e mais áreas da cidade têm ficado alagadas – e com maior frequência. Dado ao número de rios canalizados pelo subterrâneo em Curitiba, há a necessidade de um estudo detalhado sobre quais dessas obras podem estar com a vida útil vencida, precisando ser refeitas ou até desfeitas.
Nada de mais consistente foi dito ainda sobre um plano de revitalização da região central da capital, cada vez mais vazia e abandonada. Era de se esperar propostas para atrair novamente moradores e empresas para o Centro, zona que tem benefícios como bom atendimento do transporte coletivo.
Por fim, os candidatos nada discutiram sobre uma possível adequação de alíquotas de ISS, que evite uma migração de empresas para cidades da Região Metropolitana. Essa fuga provoca um efeito de perda de arrecadação para os cofres da prefeitura.