No sítio Roda d’Água, localizado na região Noroeste do Paraná, a soja e o milho são cultivados sem o uso de agrotóxicos. Isto porquê na fazenda da família Jung as plantações coexistem com 80 colmeias de abelhas.
Até os anos 1970 o sítio, pertencente a João Jung, era ocupado com o plantio de café, e os filhos, Antônio e João Filho, mantinham algumas colmeias na propriedade. Depois da grande geada negra, em 1975, que comprometeu o cafezal, os proprietários deram início ao plantio de soja e decidiram manter as abelhas.
Três gerações depois, a tradição de manter as abelhas na propriedade mostraria resultados. Lígia Jung, formada em Agronomia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), lembra: “começamos a perceber que colhíamos bastante mel na época da florada da soja. Notamos que na beirada dos apiários a produção de soja era maior. A gente sentia que a colheitadeira ficava mais pesada”, afirma.
De acordo com Eduardo Mazzuchelli, coordenador regional de Lavouras do IDR-Paraná, de Maringá, já se sabia que a abelha aumentava a produtividade da soja, mas até pouco tempo atrás não havia uma avaliação oficial do impacto das colmeias nas lavouras.
“As abelhas aumentam a produtividade. As vagens que normalmente produzem três grãos de soja, com as abelhas passam a ter 4 ou 5 grãos, e com isso há um incremento médio na produtividade em torno de 13%”, afirma.
Renda extra
Na propriedade da família Jung são mantidas colmeias com abelhas sem ferrão (europa e espécies nativas) que produzem 2 mil quilos de mel que representam 20% da renda da propriedade.
As abelhas garantem o pagamento das despesas da casa da família quando a soja não tem bom preço. O mel é tipificado como silvestre, já que as abelhas coletam pólen das flores da soja e de outras plantas nativas no restante do ano.
Desafios
Em função dos agrotóxicos carregados pelo vento de outras propriedades, o sítio Roda D’agua chegou a perder metade de todas as colmeias. Lígia Jung explica que só não desistiu totalmente da apicultura pela história com as abelhas “São anos brigando por isso, trabalhando com a apicultura. Falando que as abelhas não prejudicam a soja, só vêm agregar”.
No ano passado a propriedade ganhou o prêmio Orgulho da Terra. Para Lígia foi uma vitória.
“Foi um presente. A gente fala que dá para trabalhar as duas coisas, abelhas e soja, juntos. Não queremos que os outros produtores parem de fazer o que estão fazendo. A gente aqui escuta muito isso, que a abelha vai atrapalhar a lavoura. Quando chegou o prêmio mostramos que todo o trabalho de anos dá certo, existe uma pesquisa comprovando. E o pessoal em volta viu que dá resultado”, comemora.
Pesquisa ajudou o sítio
Ainda em 1990, um extensionista da Emater – hoje conhecida como IDR-Paraná – foi ao sítio Roda D’agua e orientou a família Jung a como cuidar das colmeias de abelhas.
Também passou pela propriedade Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja, que desenvolvia um estudo sobre essa relação das abelhas com plantações, que confirmou os dados a partir da produção da família Jung.
De acordo com a Embrapa Soja, as flores de soja são ricas em néctar, atraindo abelhas e beneficiando seu desenvolvimento. Cada planta pode ter mais de 50 flores, totalizando mais de 12 milhões por hectare, com uma produção de néctar que pode exceder 6 litros por hectare, por dia, durante a floração. Apicultores próximos a lavouras de soja colhem até 50 kg de mel por colmeia, superando a média nacional de 19 kg por caixa, por ano.
Além do mel, os apicultores se beneficiam da floração da soja que ocorre após a primavera, mantendo as colmeias ativas e reduzindo a necessidade de alimentação artificial. Para os agricultores, as abelhas atuam como polinizadoras, aumentando a produtividade da soja em até 18%, melhorando a quantidade e a qualidade dos grãos. Isso resulta em maior renda sem necessidade de novos recursos, beneficiando também o meio ambiente ao reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Para integrar a apicultura às lavouras de soja, é essencial seguir boas práticas agrícolas e apícolas, respeitando o Manejo Integrado de Pragas e as recomendações de aplicação de tecnologia. A comunicação entre apicultores e agricultores é fundamental para evitar impactos negativos e garantir a produção de mel.
Com informações da Agência Estadual de Notícias