O sonho de andar de balão virou um pesadelo. Oito pessoas sobreviveram a um incidente com um balão, neste sábado (22), após uma viagem que começou em Piên, na Região Metropolitana de Curitiba, mas que terminou em São Bento do Sul (SC). Segundo relatos dos passageiros para O Luzeiro, o balão atingiu um cabo de alta tensão, bateu em várias árvores e, segundo as passageiras, parte do tecido pegou fogo. A ocorrência de incêndio no equipamento é negada pela empresa que realizou o passeio (veja nota ao final do texto).
Entre os passageiros estavam as empresárias curitibanas Lylah Maciel dos Santos e Larissa Maciel, que foi a idealizadora da viagem. Ambas disseram estar aterrorizadas. “Eu achei que ia morrer”, disse Lylah. “A morte era certa”, disse Larissa, chorando.
Segundo elas, o balão subiu muito rápido – em pouco tempo, chegou a 1.500 metros de altitude. “Eu tenho certeza de que o piloto viu que o vento não estava bom, porque ele começou a descer o balão. Logo nós passamos a voar muito baixo, perto das casas, as pessoas dando tchau, crianças gritando, cachorros latindo, vendo as galinhas. E foi quando o balão bateu no cabo de alta tensão. Nunca mais vou esquecer a cara de terror que o piloto fez”, acrescentou a irmã Larissa.
De acordo com as empresárias, com o voo mais baixo, as cordas que sustentam o cesto do balão bateram no cabo, e com o vento, o cesto começou a inclinar. Segundo o relato de Lylah, os passageiros poderiam ter caído para fora. “O piloto só falava palavrões ‘Pu*a me*da’, mas não nos deu orientação nenhuma. E nós mesmos pedimos para que todos ficassem abaixados”, conta Lylah. Em sua nota, a empresa informou que o piloto era treinado e tem 30 anos de experiência em ecoturismo.
Ainda segundo Lylah, o cabo arrebentou e, junto com ele, uma das cordas do balão, que acabou consequentemente rasgando um pedaço do tecido. “O balão ficou voando torto. Durante os momentos de tensão, eu via a cara de pavor do piloto. Ele estava perdido e não sabia mais o que fazer. Eu falo por mim: a morte era certa. Eu só não sabia se o cesto ia virar completamente, se íamos todos cair, se íamos bater nas árvores. Eu entreguei minha vida pra Deus várias vezes”, disse Larissa, chorando.
“O piloto ficou totalmente descontrolado. Nós passageiros cuidamos uns dos outros. ‘Se segura’, ‘se abaixem’, nós que falávamos. Deu umas rajadas de vento, o balão levantava e começou a bater em árvores, em várias árvores. E chacoalhava o cesto. Eu caí em cima de uma menina, outros passageiros caíram em cima dos outros. Atravessamos Piên e São Bento do Sul”, relata Lylah.
Para ela, o final da viagem foi ainda pior. “A parte do balão que estava rasgada encostou na chama e o balão começou a pegar fogo. ‘Moço, tira a gente daqui’. E ele respondia ‘eu estou tentando’. E a gente foi caindo, batendo em árvores, barulhos estrondosos dos galhos, até que parou, mas não encostou no chão. Tivemos que pular do cesto, que ficou a um metro de altura”, lembra.
Larissa também contou que a descida foi impressionante: “Era horrível. Aqueles barulho do cesto batendo nos galhos, raspando nos troncos das árvores, pa pa pa pa, nunca vou me esquecer desses barulhos. Foram momentos de terror. Foi agoniante. Teve uma hora que eu olhei pra baixo e pensei em me jogar. Pensei ‘acho que dá’ e pensei, mesmo, em me jogar dali. Hoje eu entendo quem pula de prédio pegando fogo”.
Lylah conta que teve falta de ar, depois que todos conseguiram deixar o cesto. Outra passageira chegou a desmaiar, com a boca roxa: “Todos nós saímos, mas a gente não viu o piloto. Ele tinha sumido. Ele disse depois que foi buscar ajuda, porque não tinha sinal de celular e nem o rádio dele. Mas em nenhum momento ele parou ali e perguntou se a gente estava bem ou se estávamos machucados. Todo mundo começou a chorar”.
Os passageiros tiveram que caminhar cerca de 40 minutos dentro da mata, por uma trilha, até chegar a uma estrada de chão. E esperaram mais uns 20 minutos, até a chegada das equipes terrestres da empresa responsável pelo passeio de balão.
“Eu achei que a gente ia morrer. Nós oramos muito e alto durante a viagem”, disse Lylah. “Eu nunca vou andar de balão novamente, é muito perigoso, não tem plano de voo, você não sabe onde vai descer. Ninguém precisa passar por isso. Você não precisa se colocar numa situação em que você não tem controle. Hoje eu sei que Deus tem um propósito para tudo isso”, finaliza Larissa.
O que diz a empresa
Para O Luzeiro, a empresa Travelum enviou uma nota de esclarecimento, reproduzida na íntegra abaixo.
Prezados Clientes e Parceiros,
Gostaríamos de esclarecer um incidente ocorrido recentemente durante um de nossos voos de balão. Durante o voo, foi necessário realizar um pouso forçado devido a uma alteração inesperada na velocidade do vento. Felizmente, todos os passageiros e a tripulação estão bem e ninguém saiu ferido.
Infelizmente, houve um alarme falso de incêndio que foi divulgado erroneamente. Gostaríamos de reforçar que não houve incêndio em nenhum momento. A segurança de nossos clientes é nossa prioridade máxima, e seguimos todos os protocolos de segurança rigorosamente.
A Travelum é uma empresa com vasta experiência em ecoturismo e turismo de aventura. Todos os nossos balões e equipamentos passam por inspeções regulares e são devidamente certificados. Nossos pilotos são altamente qualificados e possuem todas as licenças necessárias para a operação segura dos voos.
Além disso, sempre contratamos seguro aventura para todas as nossas atividades. Reconhecemos que atividades de aventura possuem riscos inerentes, e nos protegemos da melhor maneira possível para que acidentes não aconteçam. Nossos seguros garantem uma camada adicional de proteção e tranquilidade para todos os participantes.
Funcionamento do Balão
Para esclarecer ainda mais, é importante entender o funcionamento de um balão de ar quente. O balão utiliza um maçarico para aquecer o ar dentro do envelope (a parte inflável do balão). Esse ar quente é o que permite que o balão decole e se mantenha no ar. Durante o voo, especialmente no momento de pouso, é normal que o balão voe em baixa altura para garantir um pouso seguro e controlado.
Experiência do Piloto
O piloto responsável pelo voo em questão possui mais de 30 anos de experiência em ecoturismo e é, inclusive, bombeiro civil. Sua vasta experiência e treinamento especializado garantem que todas as medidas de segurança sejam seguidas rigorosamente, proporcionando uma experiência segura e agradável para todos os nossos clientes.
Reiteramos nosso compromisso com a segurança e a satisfação de nossos clientes. Continuaremos a trabalhar arduamente para garantir que todas as nossas atividades sejam realizadas com o mais alto padrão de qualidade e segurança.
Agradecemos a compreensão e a confiança de todos.
Atenciosamente,
Equipe Travelum
Agência de Turismo Receptivo