Dois caminhões usaram a mesma Área de Escape na BR-376, na ligação do Paraná com Santa Catarina, em menos de 30 segundos. O caso, que aconteceu no final de abril deste ano, acende um velho questionamento: por que ocorrem tantas falhas nos freios dos caminhões em trechos de serra?
Segundo a Arteris Litoral Sul, há um aumento de 34% na quantidade de veículos que precisaram usar as três áreas de escape nas BRs-376 e 101, na ligação de Curitiba a Florianópolis. Os dados mostram o registro de 35 entradas de veículos de carga/ônibus nos primeiros quatro meses de 2024, em comparação com 26 no mesmo período do ano anterior.
Já em relação a vidas salvas, que leva em conta a quantidade de pessoas em cada um dos veículos envolvidos nas ocorrências, houve uma redução: de 79 vidas salvas em janeiro, fevereiro, março e abril de 2023 para 50 vidas salvas nos primeiros quatro meses deste ano
Nem a concessionária e nem a Polícia Rodoviária Federal (PRF) investigam as causas para os motoristas escolherem utilizar a Área de Escape. A PRF pode autuar o motorista e reter o veículo para regularização caso tenha uma falha nos freios.
O que causa a falha de freios?
A Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Paraná (Fetropar) explica que os caminhões são equipados com dois tipos de freios: o motor e o convencional (de pedal). O freio convencional usa de atrito e pode gerar um aumento de temperatura no sistema de frenagem, o que é normal desde que se mantenha dentro dos parâmetros aceitáveis.
O Laboratório de Transportes e Logística (LabTrans) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica em detalhes o que acontece com o sistema de freios. Quando os caminhões perdem os freios em serras, ocorre um fenômeno chamado “fading”. O calor excessivo reduz o atrito das pastilhas e lonas de freio, podendo vaporizar/vazar o fluido de freio, tornando-o compressível e acelerando o desgaste e a deformação dos discos e tambores de freio. Esses fatores combinados diminuem a capacidade de frenagem, dificultando o controle da velocidade do veículo em descidas longas e íngremes.
No caso de descida de serra, o uso do freio de pedal pode causar um aumento de temperatura que compromete a eficiência do freio, gerando fumaça e até fogo. Esse estrago pode afetar a distância de parada e até a perda da habilidade de parar o caminhão.
Recomendações
A Fetropar recomenda que o motorista reduza a velocidade de acordo com a carga e capacidade de frenagem. Isso deve ser feito antes mesmo de começar a descer a serra. Feito isso, é necessário que o freio motor seja acionado, mantendo uma marcha baixa. O que vai garantir a baixa velocidade é o freio motor e a marcha, sendo que a utilização do freio convencional deve ser evitada.
Ao mesmo tempo, a Polícia Rodoviária Federal recomenda que os motoristas se familiarizem com a localização das áreas de escape na sua rota, visto que algumas se encontram à direita e outras à esquerda.
Além de recomendar a manutenção regular dos veículos, o Laboratório de Transporte e Logística (LabTrans) da UFSC também sugere o aumento da rugosidade do asfalto usado em estradas, para aumentar a aderência entre o pneu e a pista. Assim como realizar campanhas de sensibilização para que os motoristas redobrem a atenção em áreas de serra.