Mesmo que lentamente, a água começa a baixar em alguns pontos do Rio Grande do Sul. A lama, porém, fica como cicatriz da intensidade das chuvas. Foi o que aconteceu com a Escola Estadual de Ensino Médio General Souza Doca, na pequena Muçum, cidade a 152 quilômetros de Porto Alegre. Nesta quarta-feira (15), dois caminhões-pipa cedidos pelo Instituto Água e Terra (IAT) passaram o dia limpando o colégio do barro que impregnou paredes, carteiras e quadros-negros.
Força-tarefa organizada pelo órgão ambiental conta com 22 profissionais, 11 caminhões-pipa, sete caminhonetes 4×4 e cinco embarcações e vai ficar pelo menos até 22 de maio ajudando a população de cidades como Santa Cruz do Sul, Canoas, Porto Alegre, Muçum, Lajeado, Sinimbu e Rio Pardo, todas afetadas pela chuva.
Essa foi a primeira grande ação de limpeza urbana organizada pela força-tarefa do órgão ambiental em solo gaúcho. O comboio de ajuda às vítimas das enchentes conta com 22 técnicos, 11 caminhões-pipa, sete caminhonetes 4×4 e cinco embarcações. Vai ficar pelo menos até 22 de maio ajudando a população de cidades como Santa Cruz do Sul, Canoas, Porto Alegre, Muçum, Lajeado, Sinimbu e Rio Pardo, arrasadas pelos efeitos de um dos mais intensos desastres climáticos do País. O IAT é vinculado à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (Sedest).
“É o que precisamos, deste apoio do IAT na limpeza urbana, para que Muçum possa ficar mais próxima do normal”, afirma Mateus Trojan, prefeito do município gaúcho de 4,6 mil habitantes.
A atuação do grupo voluntário, contudo, não se restringe a tentar devolver o mínimo de funcionalidade aos municípios, muitos deles devastados. Há animais perdidos, se esquivando da água escura como podem. Idosos que precisam de atendimento, postos de saúde fechados. Além das escolas, creches atoladas na lama. O cenário é de terra arrasada.
“Cada cena corta o coração. Ver idosos fazendo fila para encher uma garrafa com dois litros de água é algo que não imaginava”, conta Jonas André Bankersen, chefe do escritório de Irati do IAT e também coordenador da força-tarefa em solo gaúcho. “Mas tudo tem valido muito a pena. Ajuda o outro vale a pena”.
Parte do trabalho, como a distribuição de donativos, medicamentos e o resgate de pessoas e animais, é feito com apoio de cinco embarcações que passam o dia cortando as águas contaminadas em busca de um grito de socorro.
“É algo muito diferente de tudo que já tinha visto. Queda de barreira, lama e muita chuva. Buscamos ajudar naquilo que é mais necessário para o momento, seja distribuindo cestas básicas para aquelas pessoas que não querem deixar suas casas ou resgatando animais e pessoas, com o apoio das nossas embarcações”, afirma o chefe regional do IAT de União da Vitória, Augusto Arruda Lindner, um dos coordenadores da missão paranaense.
Lindner é engenheiro florestal e tem experiência em operações de salvamento. No fim do ano passado, atuou por 45 dias na operação de apoio aos desalojados pelas tempestades que castigaram o Sul do Paraná. Ainda assim, ele se emocionou. Por volta do meio-dia desta quarta-feira (15), ele já havia perdido o número de cães e gatos que ajudou a retirar de casas ilhadas. “É assustador”, diz.
As buscas são incansáveis. Ainda há cachorros, gatos e até galinhas precisando de ajuda, subindo em telhados, como o cavalo Caramelo, no esforço para preservar a vida.
“Mesmo com barcos temos dificuldades para chegar a determinados locais porque há muitos fios de postes caídos. E, quando chegamos perto, percebemos como os bichos estão assustados”, completa a engenheira agrônoma do núcleo de Patrimônio Natural do IAT, Jessica Viatroski, que precisou tomar vacina antirrábica depois de ser mordida por um dos cães que ajudou a salvar.
Caminhões
Os caminhões-pipa integram o projeto Patrulha Ambiental, inciativa da Sedest executada pelo IAT. Desde 2019, foram entregues aos municípios 733 veículos, incluindo também caminhões-baú, compactadores, modelos limpa-fossas, e poliguindastes, totalizando um investimento de R$ 206,8 milhões.
Campanha SOS RS
Em pouco mais de uma semana de arrecadações, a campanha SOS RS, do Governo do Paraná, já reuniu 6,5 mil toneladas de ajuda humanitária para as vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul. O volume total de donativos contabiliza alimentos, água potável, roupas e produtos de higiene e limpeza doados em todas as cidades paranaenses até esta terça-feira (14). Apenas o Instituto Água e Terra recebeu 10 toneladas de doações.
Mais de 300 caminhões já foram encaminhados ao Rio Grande do Sul. As entregas ocorrem de forma constante e saem a partir de centros de distribuição em Curitiba e cidades do Interior. Elas estão recebendo escoltas especiais da Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar e guardas municipais. A campanha segue até o dia 22 de maio. As entregas podem ser feitas em unidades do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil, sedes do Instituto Água e Terra e espaços da Secretaria da Cultura.
O Paraná também tem prestado apoio às cidades gaúchas com o envio de forças de segurança e equipamentos. Já foram enviados bombeiros para trabalhar nos resgates, policiais militares para ajudar a coibir roubos e saques nos locais mais afetados, policiais civis para apoiar as autoridades locais e profissionais da Polícia Científica.
O Governo do Estado enviou também caminhões para desobstrução de rodovias, caminhões-tanque, viaturas, embarcações e helicópteros, que estão sendo usados em diversas frentes de trabalho, além de bolsas de sangue, medicamentos, profissionais de outras áreas e técnicos da Defesa Civil.