Três vezes o deputado estadual mais votado do Paraná. Seis mandatos seguidos na Assembleia Legislativa. Atualmente o primeiro secretário e favorito para ocupar a Presidência da Casa a partir de 2025. As credenciais de Alexandre Curi (PSD) certamente impressionam. Ainda mais no Paraná, que tem uma tradição de criar lendas na política, como Aníbal Khury, avô de Alexandre e nome difícil de ser não ser lembrado em qualquer lugar do Estado.
Em meio a uma agenda agitada, que faz seu gabinete o mais concorrido da Assembleia – para prefeitos, vereadores e até outros deputados – Curi reservou um espaço na sua agenda para receber O Luzeiro.
Na conversa, o deputado falou sobre sua avaliação de como serão as eleições de 2024, em que seu partido, o PSD, tentará ampliar a hegemonia no Paraná – atualmente, administra 201 das 399 prefeituras. Também analisou uma possível contaminação da polarização nacional nas eleições municipais.
Como não poderia deixar de ser, comentou sobre a sucessão na Assembleia Legislativa, que deve manter a tradição de antecipação, sendo disputada em agosto deste ano, para que o eleito assuma a Presidência da Casa no ano que vem. Confira abaixo a íntegra da entrevista:
O Luzeiro – Um foco de cobertura nosso nesse primeiro ano são as eleições municipais. Fizemos um especial com o cenário das 10 maiores cidades do Estado. Como é que vocês estão vendo o processo esse ano? E mais do que isso, como que ele vai preparar o cenário para vocês para 2026?
Alexandre Curi – Olha, eu acho que as eleições de 2022 mostraram uma política muito parecida com as dos Estados Unidos. Os Estados Unidos há muito tempo, você sabe quem é republicano, você sabe quem é democrata. E o Brasil passou a ter uma proximidade muito grande em relação a isso. Hoje você conversa com alguém, você já sabe se ele é de direita, se ele é de esquerda ou se ele não concorda com os dois lados.
E nós tivemos uma polarização nas eleições de 2022. E acredito que nessas eleições de 2024, nas grandes cidades, nós vamos continuar tendo essa polarização. Que nas grandes cidades, a direita vence as eleições. Nas menores, cidades a esquerda tem mais força. Mas, a Região Sul, ainda, as pesquisas mostram uma força muito grande da direita. O Bolsonaro ainda tem muita influência nas maiores cidades do Estado do Paraná. Então nós vamos ter, acredito mais uma vez, uma eleição polarizada.
Cada eleição nós temos um prazo menor eleitoral. As pessoas se interessam mais no final. Mas teremos uma participação muito grande da população, que a cada eleição nós entendemos que está mais politizada, mais interessada, temos uma participação maior. As redes sociais trouxeram mais informações e hoje eu tenho certeza que as pessoas votam de forma extremamente consciente, sabendo a história do seu candidato, o currículo, quais são as propostas e o que o candidato pensa. Então hoje, além do partido, o candidato é muito analisado pelo eleitor.
Então, acredito que teremos uma eleição, mais uma vez, polarizada. Teremos, pelo que eu tenho visto, nas grandes cidades, em especial aqui na Região Sul do Brasil, a direita vencendo nas grandes cidades.
O Luzeiro – Você acha que a polarização vai estar nos temas também ou a polarização, digamos assim, é mais, “deixa eu ver se esse candidato que eu vou votar é de direita ou de esquerda”, você vê que os temas vão ser nacionalizados nas cidades? Ou as pessoas vão falar sobre “a cidade”, problemas da cidade mesmo?
Alexandre Curi – Eu acho que, eu tenho quase certeza de que, claro que você, para que você entenda que se é um candidato de direita ou de esquerda, a população vai nos temas. Vai nas propostas – religião, família, direito à propriedade, segurança jurídica, privatização ou não, terceirização ou não. São temas que facilmente o candidato pode expressar para a população e ela vai, de forma muito rápida, entender se é um candidato de direita ou de esquerda.
Eu entendo que os temas vão ser levados em consideração, acho que você está muito correto com a sua colocação, são temas nacionalizados. Vai ser uma eleição nacionalizada entre direita e esquerda e esses temas serão extremamente importantes. Não tenho dúvida que a população, através das redes sociais, que torna mais fácil o eleitor saber informação sobre o candidato, vai analisar tema a tema e a opinião de cada candidato.
O Luzeiro – Trazendo um pouco para a realidade agora do partido. O PSD tem a maioria das prefeituras, do Estado. Quais são os principais desafios? O senhor dividiu entre as grandes e menores, direita e esquerda. Quais são os grandes desafios hoje do partido para manter ou pelo menos crescer nessa pulverização, vamos dizer assim, das prefeituras?
Alexandre Curi – Eu acredito que o PSD deve ser, mais uma vez, o partido que vai ter o maior número de prefeitos e prefeitas e vai sair extremamente fortalecido nas eleições municipais. Temos candidato nas maiores cidades. Temos em Curitiba, temos candidato em Londrina, temos candidato em Ponta Grossa. Aqui na segunda maior cidade da região metropolitana, São José dos Pinhais, temos a nossa candidata.
Partido de secretário vira o principal adversário de Ratinho Junior nas eleições municipais
Então, o desafio do PSD é transmitir à população a gestão do governador Ratinho Junior, que tem uma ampla aprovação, não só o seu governo, também como pessoalmente. Tem uma ampla provação. Do governo, um Estado que tem o maior crescimento no Brasil, um crescimento de 5,8% no PIB [Produto Interno Bruto], o agronegócio bombando. Então, eu acho que o grande desafio dos candidatos do PSD é transmitir ao eleitor da sua cidade a boa administração que o PSD faz, tanto na capital, com o prefeito Rafael Greca, quanto no governo do Estado, com o governador Ratinho.
O Luzeiro – Nessas grandes cidades têm algumas articulações, ou pelo menos aliados, que foram no passado e que deixaram de ser agora, por diversas conjecturas políticas. Como é que está esse xadrez político, principalmente em Curitiba?
Alexandre Curi – É, o governador já declarou seu candidato em Curitiba, já declarou seu candidato em Ponta Grossa, Eduardo Pimentel e o Marcelo Rangel. Mas você falou muito bem, a própria cidade de Ponta Grossa, por exemplo, a prefeita Elisabeth era do PSD, aliada do governador, foi para a União Brasil. E o governador estará no palanque do Marcelo Rangel.
Igual Curitiba, nós temos aqui o ex-prefeito Luciano Ducci, que esteve na coligação do governador Ratinho Junior. O deputado estadual Ney Leprevost também esteve na coligação do Ratinho, foi do partido do governador. E o Eduardo Pimentel, que é uma pessoa muito próxima do governador. Eu acho que o PSD teve uma eleição de 2022 com um grande número de apoios, né? O governador tem um grande número de apoios. É natural que agora nas eleições municipais haja uma certa divisão.
Análise: sobram peças no tabuleiro de Ratinho Jr. para as eleições de 2024 no Paraná
Agora o mais importante é que o governador entende que: quando termina o processo eleitoral, ele respeita o vencedor e vai tratar o prefeito do PSD, do PT, do PMDB, de qualquer partido de forma igual. Então essa preocupação a população não vai ter. Se ela não escolher o candidato do governador Ratinho Junior, ela vai ter a garantia de que esse candidato terá portas abertas no governo do Estado e jamais o governador vai prejudicar este ou aquele município, este ou aquela candidata por não ser do partido ou por não ter recebido o seu apoio.
O Luzeiro – Falando um pouquinho agora aqui da Casa que a gente está: ano que vem tem eleição para a Assembleia. Faltam aí pouco mais de oito meses [a data oficial da eleição é após a volta do recesso, em fevereiro]. Como é que estão as articulações? Já dá para falar? Ou vocês não estão pensando nisso ainda?
Alexandre Curi – Eu acho que é muito cedo para falar sobre isso, mas é natural que essa discussão aconteça nos bastidores. A eleição no regimento interno pode ser antecipada para o dia 1º de agosto. A partir do 1º de agosto, nós podemos antecipar as eleições da Mesa Executiva. Claro que a posse se mantém na mesma data. Se eleita em agosto, a Mesa Executiva ela só toma posse dia 1º de fevereiro de 2025. E nas últimas dez legislaturas, todas elas, as eleições dentro do mandato [são de dois em dois anos] elas foram antecipadas. Então não vai ser nenhuma novidade se os deputados estaduais entenderem de que a eleição possa ser antecipada. A partir do dia 1º de agosto. Então, é cedo ainda.
Claro que as articulações, elas já acontecem. Eu fico muito feliz de ver aí a maioria dos deputados colocando o meu nome como possível candidato à Presidência da Assembleia. Para mim seria uma honra ocupar o cargo mais importante dessa Casa, e nesse momento que estamos com uma grande responsabilidade.
Eu sou o primeiro secretário, eu sou prefeito aqui do Poder Legislativo, cuido de toda a parte administrativa. Estamos avançando muito aqui na transparência, na digitalização, na informatização. Estamos tornando e vamos tornar a Assembleia Legislativa a Assembleia mais sustentável do Brasil.
Estamos levando a Assembleia para muito próxima da população, com a Assembleia Itinerante. Já tivemos 12 edições da Assembleia Itinerante, quase 200 mil pessoas participaram das nossas sessões, que acontecem no interior do Paraná, ouvindo as reivindicações, as cobranças da população, homenageando diversas personalidades. Fomos a cidades importantes como Ponta Grossa, Londrina, Maringá, Castro, Paranaguá, e vamos terminar esse ano atingindo os 399 municípios do Estado.
Continuamos sendo Assembleia do Brasil com a maior devolução de recursos de toda a história, a gente tem um orçamento da Assembleia, como o Ministério Público tem, como o TC [Tribunal de Contas] tem, como o TJ [Tribunal de Justiça] tem, mas o único poder que devolve, que sobra recursos e devolve para o Poder Executivo, é o Poder Legislativo. O ano passado devolvemos R$ 400 milhões, esse ano a expectativa é devolver R$ 450 milhões. Trabalho dos 54 deputados estaduais, economia dos 54 deputados.
Então, nesse momento, a gente tem esse objetivo de continuar com a Assembleia Itinerante, continuar com a transparência, continuar com a sustentabilidade, continuar devolvendo recursos para o governo do Estado e 100% aplicados pelo governador Ratinho Júnior nos municípios do Paraná. Um programa que está sendo extremamente importante é o Asfalto Novo Vida Nova, que está asfaltando as menores cidades do Paraná. Começamos com as de 7 mil habitantes, já estamos em 12 mil habitantes, cidades que há muito tempo esperavam aí a pavimentação em ruas na área urbana. A população esperando. A Assembleia do Paraná foi parceira, um recurso aí de quase R$ 200 milhões. Então, nesse momento, a gente vai avançar em todos esses programas.
Mas é claro que se essa oportunidade aparecer, e se for a vontade da grande maioria dos deputados, eu devo colocar o meu nome como candidato à Presidência da Assembleia.
O Luzeiro – E o senhor defende que essa eleição para a próxima mesa seja realmente com tanta antecedência? Ou isso atrapalharia essa questão eleitoral, dado que primeiro de agosto já estamos em período eleitoral?
Alexandre Curi – Eu não vejo dificuldade nenhuma de antecipar, até porque o seguinte: não vai ser nenhuma novidade. Nas últimas dez legislaturas, sempre nessas eleições no meio do mandato, acaba se antecipando, porque aí vai acontecer eleição em janeiro, fevereiro, do ano que vem, ainda está em recesso. Então, você antecipa a eleição, não tem nenhum prejuízo porque a posse mantém no mesmo dia.
E claro que teria preocupação de agosto ser período eleitoral, mas é uma única sessão, uma única votação. As discussões acontecem antecipadamente, eu não vejo nenhuma dificuldade de antecipar, mas essa é uma decisão da maioria dos deputados. Nós vamos, numa reunião dos líderes, colocar alguns posicionamentos, se os deputados entendem que é necessário. Necessário antecipar ou não. Se houver necessidade, nós antecipamos. Se não houver a decisão da maioria, faremos a eleição no dia 1º de fevereiro de 2024 sem nenhuma dificuldade.
O Luzeiro – O senhor faz parte da mesa. Se eleito for, tem alguma proposta a principal que seria uma bandeira?
Alexandre Curi – Eu acho que o que mais a Assembleia tem feito, e a gente tem divulgado, mas a grande maioria da população não sabe, é essa grande devolução de recursos para o governo do Estado. É muito dinheiro, R$ 400 milhões por ano. No mandato de quatro anos, são quase R$ 1,6 bilhão que a Assembleia não tem obrigação de devolver, os deputados não tem obrigação de devolver esse recurso, mas através da nossa economia nós devolvemos para o governador.
Quero aqui dar em primeira mão. Esse ano nós daremos R$ 100 milhões para o governo do Estado, o governador vai entrar com R$ 200 milhões e vai anunciar 300 creches em todo o Estado do Paraná. Em especial nas grandes cidades. Londrina, há um déficit de 9 mil crianças esperando vagas em creches. Então, 300 novas creches. Será possível por quê? Porque a Assembleia do Paraná devolve seu recurso.
Então, eu acho que a grande proposta, claro, vamos avançar na transparência, vamos avançar na informatização. Quero tornar a Assembleia a mais sustentável do Brasil. Hoje já tem aqui o lixo eletrônico, que não era recolhido, fizemos um convênio com a Prefeitura de Curitiba, e está sendo recolhido. Estamos aqui com as abelhas sem ferrão, que é um programa muito legal, desenvolvido com a Prefeitura de Curitiba. Hoje o lixo tem a nossa separação.
Então nós vamos avançar, tem muita coisa de sustentabilidade, acho que é um tema mundial. E, claro, a transparência que é, sem dúvida nenhuma, uma cobrança muito grande da população. Então, transparência, informatização, em especial essa grande devolução de recursos para o governo do Estado. Porque o governador tem utilizado 100% desses recursos na aplicação em obras nos municípios.