As mulheres paranaenses representam quase metade da força de trabalho do Estado (43% do total), porém, recebem, na média, 25% a menos que os homens. Outros dados pintam um cenário ainda pior para elas no mercado de trabalho no Paraná. Eles foram compilados pelo Departamento Intersindical de Estatística (Dieese), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua. Confira a seguir o tamanho dos desafios enfrentados pelas paranaenses:
Menor rendimento médio mensal da Região Sul
O Paraná é o Estado da região com a menor renda média mensal para a população feminina: R$ 2.654. Esse indicador revela a vulnerabilidade econômica enfrentada pelas mulheres paranaenses. Como comparação, catarinenses recebem em média R$ 2.841 por mês e as gaúchas R$ 2.756.
Maior desigualdade salarial com os homens do Sul
A diferença salarial média entre homens e mulheres no Paraná é grande, atingindo 25%. Eles recebem em média R$ 3.550, enquanto elas ganham R$ 2.654. Comparativamente, os Estados vizinhos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul apresentam índices de 24% e 23%, respectivamente.
Trabalhando e recebendo o mínimo (ou nem isso)
Ao analisar a distribuição de renda, os dados mostram que 26,5% das mulheres ocupadas no Paraná ganham até um salário mínimo por mês, enquanto apenas 13,9% dos homens ocupados se encontram nessa faixa.
Ter ensino superior piora a desigualdade com homens
Para os paranaenses com ensino superior, existe um abismo de mais de R$ 2 mil de diferença na renda média caso você seja mulher. Eles recebem, em média, R$ 6.722. Já elas, somente R$ 4.442, uma diferença de quase 34%, muito superior à registrada em todos os segmentos, que é de 25%.
Maior taxa de desocupação do que homens
A taxa de desocupação, que é medida pela quantidade de pessoas procurando ativamente emprego, é maior para mulheres do que para homens no Paraná. Para elas, o índice é de 5,9%, enquanto para eles é de 3,8%.
A origem do problema e o que fazer para resolvê-lo
O Luzeiro procurou mulheres de destaque para analisar a situação de desigualdade para as paranaenses no mercado de trabalho e apontar possíveis soluções para diminuir e até mesmo buscar a eliminação do problema.
Para Mabel Canto (PSDB), líder da Bancada Feminina na Assembleia Legislativa, e Michele Bravos, diretora-executiva do Instituto Aurora, a origem da desigualdade é estrutural.
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Fatores como dupla jornada de trabalho, falta de acesso às oportunidades de desenvolvimento profissional e diferenças no tratamento na negociação salarial “contribuem para que as mulheres recebam, em média, salários mais baixos que os homens, mesmo desempenhando as mesmas funções e tendo a mesma qualificação” diz Mabel Canto.
Michele Bravos traz ainda outra lente pela qual devemos enxergar esse problema: “É importante destacar também a interseccionalidade de gênero com outros marcadores identitários […] as mulheres enfrentam diferentes formas de discriminação com base em sua raça, etnia, orientação sexual, entre outros fatores.”
E ambas essas lideranças femininas concordam não só que o Poder Público tem o dever de agir para enfrentar essas desigualdades estruturais, mas também que uma mudança cultural é necessária.
Para Mabel Canto “a competência para regular o direito do trabalho é federal” e completa: “A mudança cultural é fundamental […] Isso pode envolver ações que estimulem a promoção de uma cultura mais inclusiva e equitativa nas nossas empresas e a conscientização da sociedade, que a igualdade de gênero trará impactos positivos em todas as áreas.”
A diretora do Instituto Aurora, Michele Bravos, faz um lembrete: “Estamos falando da necessidade de uma mudança cultural, o que não pode acontecer dissociado da educação formal e não formal. A educação para igualdade de gênero e para o respeito aos direitos humanos é essencial para desconstruir estereótipos de gênero e promover uma cultura de respeito e igualdade.”
Mabel Canto, que é deputada estadual, reforça que, do lado do Poder Público, já existem iniciativas para reduzir essas desigualdades. Ela menciona a Lei nº 14.611, que foi sancionada em julho de 2023 e que estabelece mecanismos de transparência e de remuneração a serem seguidos pelas empresas. Ela também determina o aumento da fiscalização, além de prever a aplicação de sanções administrativas.
Bravos concorda que uma ação dos governos é bem-vinda. Mas faz um alerta. “A lei por si só não resolve o problema, mas estabelece orientações para uma mudança efetiva”.
No Paraná, Canto destaca que existe uma iniciativa da Bancada Feminina de um projeto de lei que cria o Código de Defesa dos Direitos da Mulher Paranaense. O PL 625/2023 (acesse aqui para ler o texto da proposição) tem o objetivo de facilitar o acesso a 97 leis que interferem diretamente nos direitos das mulheres paranaenses, contribuindo pela busca da igualdade de gênero e, consequentemente, para a luta pela equiparação salarial.
*Estagiário sob a supervisão de Fabiano Klostermann