A Polícia Federal (PF) cumpriu 10 mandados de busca e apreensão e 13 de sequestro de bens nesta quinta-feira (9) como parte da Operação Serendipitia, que investiga a prática de supostos crimes de lavagem transnacional de dinheiro, evasão de divisas, corrupção ativa e passiva e de associação criminosa. Um dos alvos é o ex-superintendente da Portos do Paraná, Eduardo Requião, que ocupou o cargo de 2003 a 2008 durante o mandato de seu irmão, Roberto Requião, como governador do Paraná.
Os mandados foram expedidos pela 4ª Vara Federal de Curitiba e foram cumpridos na capital paranaense e no Rio de Janeiro (RJ). A Justiça Federal também determinou o bloqueio de contas bancárias e aplicações financeiras dos investigados.
O nome da operação tem a ver com a forma como as investigações surgiram. “Serendipitia” é o aportuguesamento da palavra serendipity, do inglês, que significa “encontrar coisas valiosas por acaso”. E foi o que aconteceu no caso da investigação da PF.
Os policiais federais conduziam outra operação, chamada Daemon, que investigava um esquema de pirâmide financeira no mercado de criptomoedas. Um dos investigados que surgiu em meio às apurações era um empresário com negócios no ramo portuário. Ao ser interrogado, ele detalhou a existência de um outro esquema, este de lavagem transnacional de ativos e evasão de divisas, que tinha supostamente como beneficiário Eduardo Requião.
A análise dos materiais apreendidos na Operação Daemon, em 2021, deu evidências aos policiais e, após autorização judicial para uso das provas, instaurou-se um novo inquérito policial, que resultou na Operação Serendipitia.
Quais suspeitas pesam contra Eduardo Requião
Segundo informações fornecidas pela PF, Eduardo Requião teria recebido e mantido de forma oculta, de 2009 a 2017, valor superior a R$ 5 milhões, depositado em uma instituição financeira na Áustria. A conexão com a Operação Daemon está no fato de que um estelionatário, condenado na investigação, ficou responsável pelos valores e acabou desviando o dinheiro. A apuração dos policiais aponta que ele teria sido ameaçado por Eduardo Requião e realizou, de 2018 a 2021, operações de lavagem de dinheiro para devolver os valores ao ex-superintendente.
A investigação da Serendipitia apontou ainda que o processo de lavagem do dinheiro feito pelo estelionatário teria contado com a coautoria de Requião, sua esposa e seus dois filhos, com a realização de operações ilegais de câmbio, movimentação de valores em espécie, depósitos fracionados e transferências bancárias com apresentação de justificativas falsas.
Parte dos recursos, quase R$ 3 milhões, supostamente recebidos por Eduardo Requião na Áustria, foram depositados em 2009 por uma companhia holandesa que foi responsável por um contrato de dragagem do Canal da Galheta, usado pelo Porto de Paranaguá. Com aditivos, o valor do serviço foi de mais de R$ 30 milhões.
Além da cooperação com autoridades austríacas, a PF também buscou os Estados Unidos onde, supostamente, uma operação ilegal de câmbio resultou em R$ 500 mil no nome do ex-superintendente e de seus familiares. Informações obtidas com os norte-americanos e as investigações realizadas no Brasil permitiram identificar as pessoas e empresas que supostamente participaram das operações.
A Polícia Federal informou que a Operação Serendipitia não está restrita somente a interromper as atividades de lavagem de dinheiro, mas a apurar a prática de corrupção nos contratos públicos celebrados pela Portos do Paraná sob a administração de Eduardo Requião.
Segundo a PF, a Justiça Federal ainda determinou restrições de bens dos investigados para possibilitar a reparação dos danos supostamente causados pelos investigados com a prática dos delitos contra a administração pública e sistema financeiro nacional.
O que diz o investigado
Procurada, a defesa de Eduardo Requião não atendeu ao telefonema ou respondeu às mensagens de O Luzeiro. O espaço segue aberto para que o ex-superintendente apresente sua versão dos fatos investigados pela Polícia Federal.
O que diz a Portos do Paraná
A Portos do Paraná enviou uma nota a O Luzeiro falando sobre o caso investigado pela Operação Serendipitia, que segue abaixo na íntegra.
A atual gestão da Portos dos Paraná informa que a investigação se refere a contratos públicos do período de 2003 a 2008, os quais estão todos encerrados há mais de uma década.
Desde 2019, quando a atual gestão assumiu a direção da empresa, a transparência e publicidade dos contratos, das contas públicas e de todos os atos administrativos junto aos órgãos de controle são constantes e permanentes.