A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba confirmou na quinta-feira (18) que a cidade está com um registro de casos de hepatite A muito acima do normal. De janeiro até 18 de abril, já foram registrados de forma preliminar 100 casos da doença na capital. Para comparação, a média de 2012 a 2022 foi de onze casos por ano. A vacinação contra a doença está limitada a crianças de até 5 anos e públicos específicos (confira mais abaixo).
Pelos dados da prefeitura, 62 dos 100 contaminados precisaram de internação, sendo de 6% de forma intensiva. A hepatite A causou três mortes este ano – uma mulher de 29 anos, e dois homens, de 40 e 60 anos. Além disso, um infectado, homem de 46 anos, precisou de transplante de fígado e se recupera em casa.
O alerta sobre o o problema foi disparado, também na quinta-feira, pelo Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (Cighep), do Hospital Nossa Senhora das Graças. Segundo a médica hepatologista Cláudia Pontes Ivantes, a gravidade dos casos preocupa, bem como a mudança do perfil de infecção. Segundo os dados oficiais, a maioria dos casos confirmados – 81% – acomete homens entre 20 e 39 anos.
Segundo Cláudia, a secretaria está investigando o assunto e ainda não conseguiu achar motivos para a disseminação, que está ocorrendo principalmente nas regiões central e norte da cidade e em pessoas sem ligação umas com as outras.
Os sintomas da hepatite A muitas vezes podem ser confundidos com os de outras doenças. Os principais são fadiga, mal-estar, febre e dores musculares.
Com a evolução, podem surgir sintomas gastrointestinais como enjoo, vômitos, dor abdominal, prisão de ventre ou diarreia. A pessoa contaminada também pode apresentar urina escura (cor de Coca-Cola) e a pele e os olhos amarelados (icterícia).
Ao apresentar sintomas de hepatite A, o curitibano deve procurar atendimento médico imediato nas Unidades de Saúde e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Orientações e teleatendimento podem ser obtidos pela Central Saúde Já, ligando no 3350-9000.
O que é a Hepatite A e como se prevenir?
Também conhecida como hepatite infecciosa, a hepatite A geralmente é uma doença de caráter benigno. Mais comum em crianças pequenas, a transmissão está relacionada às condições de saneamento, higiene pessoal, qualidade da água e dos alimentos. Nos adultos, além da transmissão pela água e alimentos, também pode ocorrer pela relação sexual desprotegida, principalmente quando há a prática de sexo oral/anal.
Segundo o diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Alcides Oliveira, o vírus da hepatite A está presente nas fezes humanas e pode permanecer vivo no meio ambiente por período prolongado, o que facilita a transmissão.
De acordo com ele, mesmo depois de não apresentar sintomas e ter a resolução clínica da doença, as crianças que foram contaminadas mantêm a eliminação viral por até cinco meses. Em média, o período de incubação do vírus após a contaminação é de 30 dias, sendo que pode acontecer entre 15 e 45 dias.
A prevenção está ligada a hábitos de higiene e cuidados durante o sexo. Confira abaixo:
- Lavar as mãos (incluindo após o uso do sanitário, trocar fraldas e antes do preparo de alimentos);
- Lavar com água tratada, clorada ou fervida, os alimentos que são consumidos crus, deixando-os de molho por 30 minutos;
- Cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, principalmente mariscos, frutos do mar e peixes;
- Lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras;
- Usar instalações sanitárias;
- No caso de creches, pré-escolas, lanchonetes, restaurantes e instituições fechadas, adotar medidas rigorosas de higiene, tais como a desinfecção de objetos, bancadas e chão utilizando hipoclorito de sódio a 2,5% ou água sanitária.
- Não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de onde haja esgoto;
- Evitar a construção de fossas próximas a poços e nascentes de rios;
- Usar preservativos e higienização das mãos, genitália, períneo e região anal antes e após as relações sexuais.
Vacinação só para crianças e pessoas com comorbidades específicas
Desde 2014, a vacina de hepatite A está disponível no calendário básico de vacinação do SUS para crianças menores de 5 anos. Todas as unidades de saúde da capital paranaense oferecem a imunização contra a doença. Como a campanha de imunização é recente, a faixa etária com o maior número de contaminados – 20 e 39 anos – está desprotegida, o que reforça a necessidade de cuidados.
No Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) a vacina de hepatite A está disponível para os seguintes grupos:
- Hepatopatia crônica de qualquer etiologia, inclusive portadores do vírus da hepatite C e B;
- Pessoas vivendo com HIV/aids;
- Imunodepressão terapêutica ou por doenças imunodepressoras;
- Coagulopatias, doenças de depósito, fibrose cística, trissomias, hemoglobinopatias;
- Candidatos a transplante de órgão sólido, cadastrados em programas de transplantes;
- Transplantados de órgão sólido (TOS);
- Transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH);
- Asplenia anatômica ou funcional de doenças relacionadas.
Médicos eram alertados do problema desde fevereiro
Um ofício interno distribuído pela Secretaria Municipal de Saúde, obtido por O Luzeiro, informava da gravidade da situação da hepatite A na capital desde 19 de fevereiro.
A confirmação da explosão do número de casos ao público pela Prefeitura de Curitiba veio apenas no dia 18 de abril, junto com o alerta feito pelo Hospital Nossa Senhora das Graças.